A ex-chanceler alemã Angela Merkel condenou esta sexta-feira a “guerra de agressão” travada pela Rússia contra a Ucrânia, que marca uma “rutura profunda na história da Europa”.

“É com a maior preocupação que acompanho o desenvolvimento da situação após o novo ataque, que se segue ao de 2014 (contra a Crimeia), pela Rússia liderada pelo Presidente, [Vladimir] Putin, contra a integridade territorial e a soberania da Ucrânia“, afirmou Merkel, num comunicado divulgado esta sexta-feira pelos seus serviços.

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“Esta guerra de agressão liderada pela Rússia marca uma rutura profunda na história da Europa após o fim da Guerra Fria”, considerou Angela Merkel, que deixou o poder em dezembro após 16 anos a liderar a Alemanha.

“Esta flagrante violação do direito internacional não tem justificação e condeno-a nos termos mais fortes“, afirmou Merkel, que, enquanto chanceler, teve relações muito próximas e difíceis com Vladimir Putin.

Berlim e Moscovo tiveram inúmeras disputas nos últimos anos, causados por ciberataques atribuídos à Rússia visando instituições alemãs, incluindo a chancelaria, até casos de espionagem, passando pela hospitalização na Alemanha do opositor do regime russo Alexei Navalny, vítima de um envenenamento atribuído aos serviços russos.

O ex-chanceler, no entanto, tentou manter relações estreitas com o Kremlin durante os seus quatro mandatos, por exemplo, apoiando — contra todas as probabilidades — a construção do gasoduto germano-russo Nord Stream 2, que agora está suspenso.

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Merkel tem sido, nos últimos dias, alvo de muitas críticas na imprensa alemã, que contesta o “amargo fracasso da sua diplomacia benevolente” em relação a Moscovo.

A Rússia lançou na quinta-feira de madrugada uma ofensiva militar na Ucrânia, com forças terrestres e bombardeamento de alvos em várias cidades, que já provocaram pelo menos mais de 120 mortos, incluindo civis, e centenas de feridos, em território ucraniano, segundo Kiev. A ONU deu conta de 100.000 deslocados no primeiro dia de combates.

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O Presidente russo explicou a “operação militar especial” na Ucrânia com a necessidade de “desmilitarizar e desnazificar” o seu vizinho e disse que era a única maneira de o país se defender, precisando o Kremlin que a ofensiva durará o tempo necessário, dependendo de seus “resultados” e “relevância”.

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O ataque foi condenado pela generalidade da comunidade internacional e motivou reuniões de emergência de vários governos, incluindo o português, e da Organização do Tratado do Atlântico Norte (NATO), União Europeia (UE) e Conselho de Segurança da ONU, tendo sido aprovadas sanções em massa contra a Rússia.