O recorde anterior datava do século VIII. O sudoeste dos Estados Unidos está a atravessar a maior seca dos últimos 1.200 anos, conclui um estudo publicado no jornal Nature Climate Change. Aliás, a designação usada é “megaseca”, já que dura há 22 anos. E os barómetros apontam que o fenómeno está a caminhar para ser o máximo dos 30 anos mais secos.
“Temos uma sociedade que depende da quantidade de água que havia nos anos 1900”, assumiu o principal autor do estudo, o bioclimatólogo da Universidade da Califórnia, Park Williams, à National Public Radio. “Mas agora, com o número de moléculas de água disponíveis para nós em declínio, é realmente hora de sermos realistas sobre a quantidade de água que existe para uso“, prosseguiu.
A equipa de investigadores analisou a humidade no solo em vários estados, tais como Califórnia, Wyoming, Utah, Nevada, Arizona, Oregon, Idaho, Novo México, Colorado, Montana ou até o Texas. Para isso foi utilizada a informação presente nos anéis das árvores, que registam “dados” de há 500, mil ou mais anos, tendo em conta o seu crescimento: é mais largo nos anos húmidos e mais fino nos secos. Deu aos cientistas uma visão dos eventos de seca de 800 d.C., a época em que Carlos Magno estava a ser coroado imperador de Roma.
O Lago Powell e o Mead como reflexo das conclusões do estudo
É agora um reservatório encolhido. A mão do homem construiu o Lago Powell, localizado entre o Arizona e Utah, e a mesma mão está a causar o seu “emagrecimento”. Inaugurado em 1963, está no seu nível mais baixo da história: já não fornece água e a sua produção elétrica está em risco. Juntamente com outras barragens próximas (como, por exemplo, a barragem de Glen), o propósito era garantir estabilidade no abastecimento de água aos agricultores daquela zona.
“Cerca de 40 mil hectares ficaram expostos. O nível da água está agora cerca de 30 metros abaixo do nível de 2011”, assinalou Eric Balken, diretor executivo do Glen Canyon Institute, ao La Vanguardia. “Não defendemos a destruição da barragem, está bem como infraestrutura de suporte (…) é preciso aproveitar a oportunidade para restaurar [o lugar]”, acrescentou.
Tanto o Lago Powell como o Lago Mead estão a um terço da sua capacidade. Benjamin Cook, coautor do estudo e investigador da Columbia University, sublinhou ao mesmo jornal que ambos “sofreram declínios recordes”. Os gestores estatais das águas declararam a primeira escassez de água ao longo do Rio Colorado no ano passado, provocando cortes para alguns dos 40 milhões de pessoas que necessitam do mesmo.
A culpa? Williams atribuiu um quinto da responsabilidade às alterações climáticas causadas pelo homem. Já Cook acrescentou que é possível simular como seria esta seca sem a ação humana através de ferramentas informáticas: seca haverá sempre, porém o cenário registado é 40% mais grave. E nem a chuva nem a neve apaziguam os impactos.
“As precipitações não eliminam a seca. É tão profunda que necessita de muita água para recuperar e, por isso, a seca não parece que vá acabar em 2022”, frisa Cook. Williams descreveu os padrões de água no Ocidente como um ioiô: às vezes altos, às vezes baixos, ressalvando que não se pode deixar “enganar por alguns anos húmidos” (sendo que esses anos húmidos serão cada vez menos).
É necessário repensar a relação do homem com a água, por exemplo a produção agrícola, que consome de 70 a 80% da água. Tal, Cook insiste, equivale a conflito.
De resto, esta é uma confirmação de factos já conhecidos anteriormente. A Califórnia, por exemplo, foi um local considerado em seca oficial desde o meio de maio até ao fim de 2021.