O chão do campo desportivo está pintado em tom de azul, semelhante ao que aparece na bandeira da Ucrânia. A cor não foi escolhida com esse propósito, mas encaixa perfeitamente para servir como pano de fundo à ação organizada pela Academia de Líderes Ubuntu em várias escolas esta quinta-feira para apoiar a Ucrânia e para condenar a ação russa. A Escola Secundária D. Pedro V, em Lisboa, foi um desses estabelecimentos de ensino, onde cerca de quatro dezenas de alunos se juntaram para formar a palavra “paz”.

A poucos minutos do meio dia, a professora Cristina Cruz, também coordenadora do núcleo da Academia de Líderes Ubuntu que funciona naquela escola, começou a organizar as turmas que chegavam ao recinto escolhido. “Vamos ajudar, claro, professora”, diziam alguns alunos, quando a professora perguntava se iam juntar-se à ação. Olhando para o número de estudantes que compõem esta escola durante os intervalos, estava presente apenas uma pequena percentagem. “Não costuma haver muita gente, mas este é um projeto de empatia, portanto até aparecem mais alunos”, explicou a professora.

Alguns vestidos de amarelo, outros de azul, e outros sem cores alusivas à Ucrânia, mas que quiseram marcar a sua presença naquele momento. E quando faltavam alguns segundos para o meio-dia, a professora Cristina Cruz posicionou-se à frente dos jovens, dizendo que “a paz é muito difícil de fazer”.

Alunos da escola secundária D.Pedro V, formaram a palavra “Paz” como forma de apelo para a guerra que está a acontecer entre a Rússia e a Ucrânia. Lisboa, 03 de Março de 2022 FILIPE AMORIM/OBSERVADOR

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Exatamente a meio do dia, os alunos fizeram então um minuto de silêncio “pelas pessoas que estão na Ucrânia e pelo sofrimento das pessoas que estão a fugir da guerra”, disse um dos alunos ao Observador. Tal como nesta escola, também outras, noutros pontos do país, ficaram em silêncio durante 60 segundos. Aliás, um dos objetivos da Academia de Líderes Ubuntu, que abrange 73 escolas, é exatamente promover a valorização da empatia e da solidariedade.

“É a história a repetir-se”

Os jovens que estiveram presentes nesta ação são sobretudo alunos do último ano do ensino secundário e garantem que a invasão da Rússia à Ucrânia tem dominado as conversas nos últimos dias. “Na nossa aula de história, passamos o tempo a comparar o que está a acontecer com o passado. É a história a repetir-se”, explicou uma das alunas presentes.

Como a guerra pode chegar às escolas portuguesas

E muitos têm receio de que o conflito avance para lá da Ucrânia e que Portugal possa viver o sofrimento que os ucranianos estão a sentir, como explicou a professora de Educação Física Natália Pereira. “Durante as aulas, os alunos têm perguntado se a guerra vai chegar cá a Portugal, se podem começar cá os bombardeamentos. Mas não têm noção dos impactos económicos, por exemplo”, explicou.

Apesar de algumas questões mais específicas poderem passar ao lado, como os pacotes de sanções económicas impostas pela União Europeia à Rússia ou as movimentações estratégicas das tropas russas, os mais jovens estão cientes do impacto que esta guerra tem sobre aqueles que estão na Ucrânia. E Beatriz Mateus explicou exatamente isso: “É uma situação bastante triste. Para além de haver escolas e hospitais atacados, muitos militares russos são obrigados a ir para a Ucrânia”.

É triste, porque é tudo por causa dos ideais de uma pessoa que não tem nada a perder”.

O que os preocupa é o sofrimento das pessoas”, acrescentou. As aulas de História têm aqui uma grande importância, porque é um momento em que alunos e professores discutem o que está a acontecer e comparam o cenário atual com aquilo que o mundo viveu no século passado. “Há um mês, estivemos a falar sobre a Guerra Fria e agora acontece isto. É muito parecido. E os países europeus, mesmo que apliquem sanções, têm medo do poder da Rússia. Quer dizer, do Putin”, defendeu a aluna.