O Presidente da Bielorrússia, Alexander Lukashenko, poderá ter cedido o controlo das tropas do país à Rússia, segundo acredita a líder da oposição bielorrussa, Sviatlana Tsikhanouskaya.
Parece-nos que Lukashenko já não está a controlar os nossos militares, a única coisa que controla é a repressão contra o povo bielorrusso. Vemos sinais da ocupação militar na Bielorrússia”, explicou Sviatlana Tsikhanouskaya numa entrevista ao The Guardian.
A oposição tem tentado, segundo a mesma, dissuadir as tropas bielorrussas de lutarem na Ucrânia, e apela aos soldados bielorrussos que se recusem a lutar, ou que ‘mudem de lado’ caso se encontrem em território ucraniano. “Temos tentado persuadir as tropas bielorrussas de participarem. Temos estado a comunicar com as mães dos soldados, e tentado persuadi-las a não deixarem os seus filhos irem para esta guerra.”
Nas semanas que antecederam a invasão da Ucrânia, a Rússia deslocou cerca de 30.000 militares para a Bielorrússia para “treinos militares“. Quatro dias depois da invasão, a neutralidade constitucional do país — adquirida após a Guerra Fria — foi revogada por Lukashenko, através de um referendo, permitindo agora à Bielorrússia ter militares russos destacados de forma permanente no país, além de armas nucleares russas, removidas da Bielorrússia no fim da União Soviética.
Tropas russas ameaçam também independência da Bielorrússia, segundo opositora
“Se Putin quisesse tomar controlo de todo o território da Bielorrússia amanhã, ele podia fazê-lo”, afirmou Sviatlana Tsikhanouskaya. “Lukashenko é uma marioneta. Putin controla o país através dele.”
A luta da oposição bielorrussa, segundo a líder, ganhou agora duas frentes: por um lado, continuar a mudar pela mudança interna do regime de Alexander Lukashenko, e, por outro lado, manter uma forte oposição, através da mobilização da sociedade civil, contra a guerra na Ucrânia.
Tanto a Ucrânia como a Bielorrússia, para Sviatlana Tsikhanouskaya, fazem parte do “desejo imperialista de Putin”, pelo que a líder da oposição quer que os países do ocidente vejam os dois países da ex-União Soviética como estrategicamente interligados. “A intenção do Kremlin é fazer com que os países da ex-União Soviética voltem a ser um só império gigante.”
Oposição denuncia manutenção dos exercícios militares na Bielorrússia
Não sabemos que tipo de acordo Lukashenko tem com o Kremlin. Mas será uma realidade diferente para a Bielorrússia. Não quero imaginar as consequências caso a Ucrânia caia, será um desastre não só para a Ucrânia e para a Bielorrússia, mas para o mundo democrático. Vai desatar as mãos do Kremlin no futuro”, explicou.
Tendo crescido — e sofrido — numa região da Bielorrússia impactada, em 1986 pelo desastre de Chernobyl, Sviatlana Tsikhanouskaya falou das más memórias que lhe trouxe o ataque à central nuclear de Zaporíjia.
“Para mim, pessoalmente, é horrível. Quando soube [do ataque] comecei a rezar. Nós ainda nos lembramos de Chernobyl. Não pode ser repetido na nossa região, mas parece que na sua ânsia de poder, o Kremlin não presta muita atenção ao sofrimento das pessoas”, concluiu a líder da oposição bielorrussa.