Terminou esta quarta-feira, 28.º dia de guerra, às 7h (menos duas horas em Portugal continental) o recolher obrigatório em Kiev, em vigor desde a passada segunda-feira, graças ao intensificar dos bombardeamentos na capital.

Ao longo das últimas 24 horas, atestaram os enviados especiais do Observador à Ucrânia, as explosões na principal cidade do país foram ainda mais frequentes. Entretanto, e depois de Odessa ter sido bombardeada pela primeira vez esta terça-feira, de Kherson, cidade a 200 quilómetros que foi uma das primeiras a cair sob o domínio russo, chegam notícias de que as tropas de Vladimir Putin podem estar a perder terreno.

O ataque ucraniano da semana passada ao aeródromo local, que provocou inúmeros danos na artilharia militar ali estacionada, pode ter provocado ainda mais estragos, está a avançar o New York Times, suportado em imagens de satélite captadas ao longo dos últimos seis dias e na opinião de vários peritos.

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As fotografias, da empresa de imagens espaciais Planet Labs, evidenciam a retirada de vários helicópteros russos do aeródromo justamente numa altura em que as forças ucranianas têm vindo a recuperar algum terreno na região, essencial para o controlo do sul do país, que as tropas de Putin não conseguiram subjugar por completo.

Segundo vários especialistas ouvidos pelo jornal americano, a retirada de equipamento militar russo deste aeródromo, considerado estratégico e que ainda se mantêm sob controlo russo, poderá revelar retrocessos militares das tropas invasoras no sul do país.

No resto do país, mantêm-se cercadas as cidades de Chernihiv, Sumy, Kharkiv e Mariupol, com as forças ucranianas a continuarem a resistir nesta última, junto ao Mar de Azov, que tem sido um dos mais violentos palcos da guerra em curso, onde mais de 2.300 civis terão perdido a vida, segundo as contas do governo ucraniano.

Para além de aqui, pode também acompanhar todos os desenvolvimentos da guerra, minuto a minuto, no liveblog do Observador. E seguir a cobertura dos enviados especiais do Observador à Ucrânia, Pedro Jorge Castro e João Porfírio.

Palavrões contra Putin e juras de vingança no funeral de Sasha, fuzileiro que salvava animais e ia casar-se no fim da guerra

O que aconteceu durante a noite?

  • A Agência Internacional Nuclear revelou estar preocupada com os incêndios que consomem florestas junto a Chernobyl. Rafael Grossi, diretor da Agência Internacional de Energia Atómica, alertou para a “necessidade” de “prevenir um acidente nuclear” que se torna “a cada dia mais premente”;
  • Várias marcas continuam a anunciar a sua saída da Rússia. Desta vez, foi a vez da Renault responder ao apelo do Presidente ucraniano: a marca de carros francesa vai suspender a produção em Moscovo, após o Presidente ucraniano ter falado ao parlamento francês e ter pedido um boicote às fábricas russas;
  • Volodymyr Zelensky divulgou ao início da noite um vídeo, falado em inglês, no qual assinala um mês de guerra e pede aos cidadãos de todo o mundo que saiam às ruas a partir de quinta-feira para manifestações de apoio à Ucrânia. “A guerra da Rússia não é apenas uma guerra contra a Ucrânia. O seu significado é muito mais abrangente. A Rússia começou uma guerra contra a liberdade como a conhecemos. Isto é apenas o início, para a Rússia, no território ucraniano”, diz o Presidente ucraniano no vídeo;
  • Ofaz Scholz, chanceler alemão, falou com o Presidente russo e com o Presidente ucraniano. Num discurso ao parlamento alemão citado pelo Telegraph, Olaf Scholz disse acreditar que a ofensiva russa está “bloqueada”, apesar da “destruição que está a causar dia após a dia”.
  • O Conselho de Segurança da Organização da Nações Unidas (ONU) chumbou uma resolução “humanitária” sobre a Ucrânia, apresentada pela Rússia;
  • A Suécia vai enviar um segundo carregamento de armas, com 5.000 lança foguetes, para a Ucrânia. Também a Alemanha anunciou que vai entregar 2.000 armas antitanque adicionais a Ucrânia;
  • No Conselho da União Europeia, foi aprovado um financiamento de mil milhões de euros “para apoiar as Forças Armadas ucranianas a combater a invasão russa” e duplicou o montante inicial.

O que aconteceu durante a tarde?

  • O Presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, discursou à distância perante a Assembleia Nacional francesa, onde afirmou que “o exército russo não distingue alvos, destrói tudo”, e deixou um apelo concreto a Paris: que as marcas francesas Renault, Auchan e Leroy Merlin abandonem a Rússia e deixem “de ser patrocinadoras da máquina de guerra russa”;
  • As autoridades de Kiev disseram que já morreram 264 civis, incluindo quatro crianças, na capital ucraniana desde o início da guerra;
  • A NATO diz que foram mortos entre 7 mil e 15 mil soldados russos nas quatro semanas de guerra;
  • Antes de embarcar no avião que o levou para Bruxelas, o Presidente dos EUA, Joe Biden, afirmou que existe uma “ameaça real” de a Rússia usar armas químicas na Ucrânia;
  • As autoridades ucranianas denunciaram que o exército russo usou fósforo branco, uma arma química ilegal e proibida pela Convenção de Armas Químicas de 1997, em ataques a Irpin e Gostomel, nos subúrbios de Kiev;
  • O secretário de Estado dos EUA, Antony Blinken, afirmou formalmente que a Rússia cometeu crimes de guerra na Ucrânia;
  • O secretário-geral da NATO, Jens Stoltenberg, antecipou aquilo que poderá ser discutido na cimeira agendada para quinta-feira e disse esperar que os aliados concordem em fornecer apoio militar adicional à Ucrânia. Stoltenberg avisou também a Rússia: “Nunca poderá ganhar uma guerra nuclear”;
  • A Comissão Europeia disse acreditar que a Rússia pretende deixar os ucranianos morrer à fome, numa ação semelhante ao que os soviéticos fizeram na década de 1930 contra a Ucrânia e o Cazaquistão;
  • Volodymyr Zelensky falou ao telefone com Boris Johnson, o primeiro-ministro britânico, antes da reunião da NATO marcada para quinta-feira;
  • O The Wall Street Journal noticiou que Volodymyr Zelensky pediu a Joe Biden que não impusesse sanções ao oligarca russo Roman Abramovich, que é também cidadão português, por acreditar que o empresário poderia ajudar nas negociações de paz;
  • A Bloomberg avançou que a atual governadora do Banco Central Russo, Elvira Nabiullina, quis sair do cargo depois do início da invasão da Ucrânia, mas Vladimir Putin ordenou-lhe que se mantivesse em funções, tendo agora de gerir uma economia russa à beira da bancarrota;
  • Vladimir Putin conversou com o primeiro-ministro israelita, Naftali Bennett, uma das figuras que têm servido de intermediários nas negociações;
  • O ministro da Defesa russo, Sergei Shoigu, um importante aliado de Putin, não é visto em público há duas semanas;
  • A Agência Internacional de Energia apelou aos governos de todo o mundo que não sacrifiquem o combate às alterações climáticas nos seus esforços de manutenção do abastecimento energético em resposta à falta de combustíveis fósseis da Rússia”;
  • O preço do petróleo voltou a superar os 120 dólares por barril, uma subida de 4,5% só no dia de hoje. A Rússia é o terceiro maior produtor de petróleo do mundo, sendo responsável por 11% do petróleo produzido a nível global;
  • Vladimir Putin voltou a deixar ameaças ao Ocidente: todos os países “hostis”, que incluem a UE e os EUA, terão de pagar o gás natural em rublos, a moeda russa. É uma medida com o objetivo de evitar a desvalorização do rublo como efeito das sanções;
  • A Rússia anunciou que vai expulsar de Moscovo um conjunto de diplomatas norte-americanos em retaliação pela expulsão de diplomatas russos de território norte-americano, onde estavam em serviço da representação da Rússia junto das Nações Unidas, em Nova Iorque;
  • A Bielorrússia expulsou um conjunto de diplomatas ucranianos, argumentando que os diplomatas seriam espiões;
  • O SEF confirmou que Portugal já aceitou, até hoje, 19.619 pedidos de proteção temporária a pessoas chegadas da Ucrânia;
  • Apesar das sanções de que é alvo também no mundo desportivo, a Rússia apresentou formalmente a sua intenção de organizar o Europeu de futebol de 2028 ou de 2032;
  • O Papa Francisco vai consagrar, na próxima sexta-feira, a Rússia ao Imaculado Coração de Maria, uma ação intimamente relacionada com a mensagem de Fátima. Na oração de consagração, divulgada hoje pelo Vaticano, o Papa pede a Deus que preserve “o mundo da ameaça nuclear”.

O que aconteceu durante a manhã?

  • Os serviços especiais da Polónia pediram ao ministério dos Negócios Estrangeiros do país para expulsar 45 diplomatas russos, que estariam alegadamente a executar, sob a fachada diplomática, trabalho para os serviços secretos da Rússia. O Kremlin já reagiu: diz que se as expulsões se efetivarem vai retaliar.
  • Volodymyr Zelensky falou ao Parlamento japonês. Agradeceu a ajuda, pediu mais e acusou a comunidade internacional, nomeadamente as Nações Unidas, de não estarem a fazer “o suficiente” para auxiliar a Ucrânia.
  • Sergei Lavrov e Dmitry Peskov, em ocasiões diferentes, fizeram coro esta manhã e avisaram: o envio de forças de manutenção da paz da NATO para a Ucrânia pode levar a um conflito direto entre a Rússia e a aliança militar.
  • Através do adido militar da embaixada ucraniana em França, a Ucrânia fez saber que não quer o neonazi Mário Machado, nem quaisquer outras pessoas com cadastro, a lutar pelo país. “Não queremos indivíduos deste género no nosso país”, disse Sergii Malyk. “Queremos impedir a infiltração de elementos criminosos e não confiáveis na Ucrânia e nas suas Forças Armadas.”
  • A Rússia vai passar a vender gás natural apenas em rublos a “países hostis”. Vladimir Putin já terá pedido ao banco central russo para elaborar, no espaço de uma semana, um sistema que possibilite as transações na moeda russa.
  • Mais de 3,6 milhões de pessoas fugiram da Ucrânia desde a invasão russa, anunciou esta manhã a ONU. Ao todo, a contar com os deslocados internos, serão 10 os milhões de pessoas em trânsito.

O que aconteceu durante a noite?

  • Um comboio de onze autocarros em trânsito para Mariupol, onde devia recolher e resgatar centenas de cidadãos ucranianos, foi desviado e apreendido pelas tropas russas, denunciou a vice-primeira-ministra ucraniana, Iryna Vereshchuk. Os onze motoristas, bem como o pessoal dos serviços de emergência que seguia a bordo, foram levados para um local não identificado.
  • No seu habitual discurso à nação, esta terça-feira à noite, Volodymyr Zelensky já tinha acusado a Rússia de quebrar vários acordos estabelecidos no sentido de retirar a população civil da cidade, uma das mais massacradas pelo invasor. “Estamos a tentar organizar corredores humanitários estáveis para os residentes de Mariupol, mas quase todas as nossas tentativas, infelizmente, são frustradas pelos ocupantes russos, por bombardeamentos, ou por terror deliberado”, disse o presidente ucraniano. Esta terça-feira, terão sido cerca de 7 mil as pessoas que fugiram de Mariupol, mas o presidente diz que continuam na cidade portuária cerca de 100 mil civis, sem comida, água ou medicamentos.
  • Foi acordado um cessar-fogo esta quarta-feira de manhã na região de Lugansk, para a retirada de civis da zona, sob controlo dos separatistas apoiados pelo exército russo e um dos territórios cuja independência foi reconhecida por Vladimir Putin antes da invasão.
  • Em conferência de imprensa, Jake Sullivan, o conselheiro de segurança nacional da Casa Branca disse que “esta guerra não vai acabar fácil ou rapidamente” e previu “dias difíceis” para os civis ucranianos.
  • Esta quarta-feira de manhã, Dmitry Medvedev, ex-presidente russo e atual vice-presidente do Conselho de Segurança do país, atacou o “Ocidente”, que considera ter agido de forma “nojenta, criminosa e amoral” em relação à Rússia, particularizando depois nos Estados Unidos, que acusou de ter tentado “humilhar, limitar, dividir e destruir” o seu país.
  • Já morreram 121 crianças e pelo menos 167 outras ficaram feridas desde que a invasão russa começou, informou o gabinete do procurador-geral ucraniano através de uma mensagem partilhada esta quarta-feira no Telegram.
  • O Estado-Maior das Forças Armadas ucranianas anunciou que o exército russo já terá sofrido 15.300 baixas e comparou esse número, contabilizado ao 27.º dia de guerra, com os da guerra da União Soviética no Afeganistão: 15.051 entre dezembro de 1979 e fevereiro de 1989.
  • Os Estados Unidos estarão a preparar sanções contra mais de 300 membros da Câmara Baixa do Parlamento russo, está a avançar o Wall Street Journal, que diz também que as novas medidas deverão ser conhecidas já esta quinta-feira.
  • O gabinete de Volodymyr Zelensky criou um site para agilizar a chegada de assistência humanitária ou financeira às populações afetadas pela guerra na Ucrânia. O objetivo é perceber como e a quem dirigir a ajuda humanitária.