Tigran Keosayan, um dos aliados de Vladimir Putin e casado com uma das responsáveis do canal estatal Russia Today, lançou, esta quarta-feira, uma ameaça ao Cazaquistão, uma antiga república soviética. No programa televisivo que conduz numa estação privada, o apresentador avisou: “Irmãos cazaques, olhem bem para o que aconteceu na Ucrânia. Pensem duas vezes”.

As ameaças foram feitas após o Cazaquistão ter anunciando que não vai realizar a tradicional parada militar a 9 de maio, data que marca a vitória da União Soviética sob a Alemanha nazi e também que tem sido apontada como o dia em que Vladimir Putin pretende obter uma grande vitória na Ucrânia, que se poderá traduzir no controlo do Donbass.

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A parada militar não se realiza desde 2019, devido à pandemia, sendo que a edição deste ano foi cancelada por causa de problemas orçamentais. Além disso, o governo cazaque alegou que tinha assuntos “mais urgentes” para resolver.

Para Tigran Keosayan, esta atitude pode ser interpretada com um sinal de “ingratidão” a Moscovo, sugerindo que podia ser um golpe nas relações bilaterais entre a Rússia e o Cazaquistão.

Em reação, o Cazaquistão pondera tomar uma das atitudes diplomáticas mais severas — Tigran Keosayan pode ser declarado “persona non grata” e, assim, ser impedido de entrar em território cazaque.

O porta-voz do ministério dos Negócios Estrangeiros cazaque, Aibek Smadiyarov, considerou ainda os comentários feitos pelos apresentador russo como “insultuosos”.

“Talvez as suas declarações reflitam as opiniões de algumas parcelas do público russo e das suas ideologias políticas, mas vai contra o espírito e a essência da cooperação entre os nossos países e a existência de acordos entre os nossos líderes”, afirmou Aibek Smadiyarov, esperando que Tigran Keosayan seja “incluído na lista de pessoas que não são bem-vindas no Cazaquistão”.

Cazaquistão vira costas a Putin e rejeita enviar tropas para a Ucrânia para lutar ao lado do exército russo

O Cazaquistão tem mantido uma abordagem neutral perante o conflito: se por um lado nunca apoiou diretamente a invasão à Ucrânia (tendo recusado enviar tropas), por outro nunca a condenou diretamente.