O Banco Central Europeu (BCE) disse esta quinta-feira prever inflação elevada nos próximos meses, puxada pelos preços da energia, bem como um crescimento económico mais lento do que o esperado, devido à “sombra negra” da guerra da Ucrânia.

Quanto às perspetivas de inflação, os aumentos de preços manter-se-ão muito provavelmente elevados nos próximos meses, principalmente devido ao acentuado aumento dos custos da energia”, estimou o vice-presidente do BCE, Luis de Guindos.

Apresentando o relatório anual do ano passado do banco central perante a comissão de Assuntos Económicos do Parlamento Europeu, em Bruxelas, Luis de Guindos lembrou que, “após uma retoma no decurso de 2021, a inflação atingiu um máximo de 7,4% em março, contra 5,9% em fevereiro“, desde logo porque “a guerra amplificou o impacto nos preços da energia no consumidor, que aumentaram ainda mais desde o início do conflito e são agora 44% mais elevados do que há um ano”.

“Este aumento dos preços da energia está a reduzir a procura e a aumentar os custos de produção“, acrescentou.

Além disso, “a guerra está também a pesar fortemente na confiança das empresas e dos consumidores, tendo criado novos estrangulamentos, que são exacerbados por dificuldades adicionais na cadeia de abastecimento resultantes de novas medidas pandémicas na Ásia, o que aponta para um crescimento mais lento no período que se avizinha”, elencou Luis de Guindos.

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Referindo-se às perspetivas de crescimento, o vice-presidente do BCE contextualizou que “a economia da zona euro começou a recuperar da emergência pandémica e, no final do ano, tinha-se encaminhado para um caminho mais firme de recuperação”, ao chegar aos 5,4% do Produto Interno Bruto (PIB) em 2021.

No entanto, “a invasão russa da Ucrânia lançou desde então uma sombra negra sobre o nosso continente”, sendo que “a guerra em curso é, acima de tudo, uma tragédia humana que causa enorme sofrimento, mas está também a afetar a economia, na Europa e fora dela”, admitiu.

Por essa razão, o BCE prevê agora que “a atividade económica continue a crescer este ano, embora a um ritmo mais lento do que o esperado no início do ano” e, tendo também em conta as restrições relacionadas com a pandemia, “é provável que o crescimento da zona euro tenha sido fraco no primeiro trimestre deste ano”, especificou o responsável.

Frisando que “há muitos fatores que complicam as perspetivas de crescimento e inflação e [que] é evidente que a incerteza é elevada”, Luis de Guindos adiantou que, por isso, a política monetária do BCE “é guiada pelos princípios de opcionalidade, gradualismo e flexibilidade”.

Já falando sobre eventuais alterações às taxas de juro, o responsável reiterou o que o BCE tem dito, que só acontecerão “algum tempo depois do fim das compras líquidas e serão graduais”.

“Além disso, dentro do nosso mandato e em condições de stress, usaremos de flexibilidade para assegurar que a política monetária seja transmitida sem problemas em toda a zona euro, tal como fizemos com bons resultados durante o auge da pandemia. Estamos prontos a ajustar todos os nossos instrumentos dentro do nosso mandato, incorporando flexibilidade se tal se justificar, para assegurar que a inflação se estabilize no nosso objetivo de 2% a médio prazo”, concluiu.

As declarações surgem numa altura em que os preços na UE batem máximos devido aos constrangimentos das cadeias de abastecimento e aos problemas no fornecimento energético, acentuados com as tensões geopolíticas da guerra da Ucrânia, desencadeada no final de fevereiro passado.

A inflação é, por estes dias, mais acentuada no que toca aos preços energéticos.