Pouco depois de a conferência de imprensa entre o secretário-geral da ONU, António Guterres, e o Presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, ter terminado, duas grandes explosões ouviram-se em Kiev, perto do Palácio Presidencial onde os dois se encontraram. Em entrevista à RTP, Guterres confessa que ficou chocado e pede que a cidade seja “poupada”.

“Isso [os bombardeamentos] chocou-me porque Kiev é uma cidade sagrada quer para os ucranianos quer para os russos”. Com uma “beleza extraordinária” e um “legado histórico-cultural”, “esta cidade deve ser poupada”, defendeu ainda.

Ouça aqui o episódio de “A História do Dia” sobre a visita de António Guterres à Ucrânia.

Guterres em Moscovo e Kiev muda alguma coisa?

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Pelo menos seis pessoas ficaram feridas nesses ataques a Kiev, acabaria por adiantar pouco depois um conselheiro do ministro do Interior ucraniano aos enviados especiais do Observador na Ucrânia. Segundo indicou o mesmo conselheiro, foram lançados dois mísseis, tendo um deles sido abatido. O alvo foi uma antiga fábrica de material militar, mas o míssil acabou por atingir um prédio residencial, causando seis feridos, que foram hospitalizados.

Retirar civis de Azovstal é “extremamente” complicado

Guterres foi ainda questionado sobre as operações de retirada da população que permanece na fábrica de Azovstal, em Mariupol. O secretário-geral da ONU diz que “os trabalhos continuam” e salienta que a operação é “extremamente complicada” porque os civis “vão ter de atravessar uma das linhas de confronto que neste momento existe”.

Além disso, “a operação já falhou muitas vezes”. “Quero ter a certeza absoluta que desta vez, se conseguirmos fazê-la, será feita em segurança”, indicou.

A dificultar a operação estão também “questões de confiança”. “É uma enorme complexidade operacional, visto que se trata de pessoas que estão nas catacumbas ocupadas por forças e milícias ucranianas, que têm de sair para uma zona em que está o exército russo e têm de atravessar uma zona que neste momento está controlada pela Rússia, atravessar uma linha de confronto para entrar nas áreas controladas pelo governo ucraniano”, respondeu. A operação implica “largas centenas de pessoas”. A ONU, assegura, está a “fazer tudo” para que ocorra com segurança.

Guterres não se arrepende de não ter ido a Kiev e Moscovo mais cedo. “Este era o momento”

Já questionado sobre se se arrepende de não ter visitado o terreno mais cedo, Guterres respondeu: “Não me arrependo nada. Este era o momento, tenho estado ativíssimo em relação a esta questão, falando desde a primeira hora. Este era o momento em que tinha a chance de dar um contributo positivo”.

Como vê está-se a trabalhar em alguma coisa de concreto. Pode ser que não consigamos, mas pelo menos, pela primeira vez, está-se a trabalhar a sério com os dois lados em alguma coisa de concreto para salvar pessoas”, disse.

Guterres considera ainda que é “completamente inconcebível” que a guerra na Ucrânia escale para um conflito à escala mundial. “As possibilidades teóricas existem sempre, mas a possibilidade prática… creio que é completamente inconcebível que uma cosia dessas aconteça”, disse, na entrevista.

Sobre o ataque da Ucrânia a alvos em solo russo, e questionado sobre se os considera legítimos, desvaloriza. “O que está fundamentalmente errado é a guerra. Depois a guerra tem muitos episódios de diversas naturezas. Não percamos tempo com cada árvore, olhemos para a floresta, a floresta é a guerra”, que considera inaceitável. “Esta guerra tem de acabar o mais depressa possível”, defende.