Com os dedos todos apontados, e os partidos em catadupa a exigirem explicações na Assembleia da República, a Câmara Municipal de Setúbal publicou um comunicado onde arrasta também o primeiro-ministro António Costa para o assunto. Entretanto, o Governo já pediu esclarecimentos com urgência ao Alto Comissariado para as Migrações sobre o assunto.

Para já, optou por retirar “do acolhimento de cidadãos ucranianos” uma funcionária “até ao total e inequívoco esclarecimento desta situação” e pedir ao MAI que investigue.

Diz a autarquia liderada por André Martins que “há duas semanas” depois de “tomar conhecimento das afirmações (na CNN Portugal) proferidas pela Embaixadora da Ucrânia em Portugal relativamente” à associação que Igor Kashin integra, “questionou formalmente e no próprio dia, por ofício, o o senhor primeiro-ministro, pedindo que se pronunciasse sobre a veracidade destas declarações e esclarecesse com a maior brevidade possível se o Alto Comissariado para as Migrações mantinha a confiança nesta associação, não tendo obtido resposta até ao momento.”

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A autarquia diz ainda que “irá solicitar ao Ministério da Administração Interna que adote, de imediato, os necessários procedimentos no sentido de averiguar a veracidade das suspeitas veiculadas pelo jornal ‘Expresso’, manifestando total disponibilidade para prestar toda a informação necessária.”

No comunicado, a câmara de Setúbal frisa que no atendimento “são cumpridos todos os requisitos técnicos inerentes a um atendimento social” e “repudia com veemência toda e qualquer insinuação de quebra de sigilo no tratamento de dados de cidadãos ucranianos acolhidos nos seus serviços”.

A autarquia confirma que Igor Kashin colaborou “já este ano” nas instalações de alguns serviços no “contexto do acolhimento de refugiados da guerra da Ucrânia”. “O sr. Igor Kashin, citado na notícia do Expresso, colabora, regularmente, há vários anos, com várias entidades da administração central, entre as quais o Instituto de Emprego e Formação Profissional, o Alto Comissariado para as Migrações e o Serviço de Estrangeiros e Fronteiras”, escreve a autarquia, que acrescenta que Igor Kashin esteve “também a dar apoio” desde 2005 entre a Câmara de Setúbal e a Edinstvo a “associação de imigrantes de leste, nos serviços municipais responsáveis pelo acolhimento de refugiados.”

Em reação, o gabinete do primeiro-ministro emitiu um comunicado que contraria as informações do município. António Costa desmente o presidente da câmara de Setúbal, alegando que este não pediu “qualquer informação” sobre a associação ou sobre o cidadão Igor Khashin. Em vez disso, diz o chefe do Executivo, o presidente da câmara de Setúbal protestou “sobre as declarações prestadas pela embaixadora da Ucrânia em Lisboa”. A carta foi depois “reencaminhada” para o ministério dos Negócios Estrangeiros.

Mais tarde, o município sadino recuou na sua posição sobre a carta ao primeiro-ministro, não comentando “a troca de correspondência oficial”. Por isso, escusou-se a comentar o desmentido do gabinete de Costa.

“O gabinete do primeiro-ministro conhece o teor da carta que enviámos e o que ela expressa. Não comentamos correspondência oficial entre órgãos”, disse à agência Lusa fonte do gabinete da presidência da Câmara de Setúbal.

Governo pediu esclarecimentos ao Alto Comissariado para as Migrações

A secretária de Estado da Igualdade e Migrações enviou esta sexta-feira ao Alto Comissariado para as Migrações (ACM) um pedido de esclarecimento na sequência da notícia de que refugiados ucranianos estão a ser recebidos em Setúbal por russos pró-Putin.

Em comunicado, o gabinete da secretária de Estado Sara Guerreira indica que o pedido foi dirigido à alta-comissária, Sónia Pereira, com caráter de urgência.

A secretária de Estado “pediu também esclarecimentos aos parceiros locais do ACM , como a Rede de Centros Locais de apoio à integração de migrantes e associações locais”, acrescenta o comunicado.

Notícia atualizada às 19h53