Peter Rawlinson, o CEO da Lucid Motors, recebeu um prémio de 263 milhões de dólares, cerca de 241 milhões de euros, numa fase em que a empresa está a milhas dos objectivos anunciados. Pelo menos, por agora.

O mercado estranhou que o prémio ao CEO tenha surgido antes de a Lucid Motors ver as acções caírem 67%, uma redução de dois terços que poderia justificar o despedimento do gestor ou a exigência de explicações. De recordar que a Lucid concebeu um excelente veículo eléctrico, a luxuosa berlina de três volumes e cinco metros conhecida como Air, mas está com imensas dificuldades em produzi-la nas quantidades desejadas, tendo mesmo “cortado” as previsões de produção em 2022 para apenas 12.000 a 14.000 unidades, depois de ter fabricado somente 300 unidades nos primeiros três meses do ano.

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A Bloomberg chama a atenção para o facto de o CEO da Lucid ter recebido metade do prémio previsto de 566 milhões de dólares exactamente antes de a marca ver os seus títulos caírem 67% – o que dificilmente justificará louvores, quanto mais a entrega de avultadas quantias como prémio.

Como marca, a Lucid surgiu em 2007, mas entre a construção da fábrica e a concepção do Air, só foi lançada em bolsa em Julho de 2021. Em Novembro, quando anunciou a produção do seu primeiro veículo, alcançou uma valorização bolsista de 91 mil milhões de dólares, que se manteve relativamente estável durante seis meses. Esta foi a justificação para o prémio atribuído a Rawlinson.

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Contudo, em Fevereiro de 2022, o CEO anunciou a redução das expectativas da produção no ano para 12.000 a 14.000 veículos, em vez dos 20.000 inicialmente previstos, o que deu origem a uma reacção na bolsa. Isto arrastou as acções da Lucid para uma queda de 67%, o que não impediu o gestor de receber os 267 milhões de dólares em prémios.

Estes prémios por objectivos, não acompanhados de uma valorização estável dos títulos, colidem com as críticas dirigidas a Carlos Tavares, o CEO da Stellantis. O gestor português foi criticado por receber cerca de 70 milhões de dólares, aproximadamente 66 milhões de euros, quando levou o grupo formado pela fusão da PSA com a FCA, um ano antes, a lucros que justificaram a distribuição de 1900 milhões de euros pelos empregados em 2021.