Nikolai Patrushev, o secretário do Conselho de Segurança russo, tem sido apontado como provável sucessor de Vladimir Putin, ou mesmo com substituto temporário — caso o atual Presidente da Rússia tenha de se ausentar por motivos de saúde.
A hipótese tem sido colocada em cima da mesa face aos constantes rumores de que o líder russo está “numa condição física e psicológica muito má”, nas palavras do chefe dos serviços de informação militar ucraniana, Kyrylo Budanov. Ou nas de um oligarca russo, que numa conversa, a cujo áudio a revista New Lines teve acesso, admitiu que Putin está “muito doente com um cancro no sangue”.
Chefe da secreta militar ucraniana assegura: Vladimir Putin “está muito doente” com cancro
Sucessor ou não de Putin, a verdade é que Nikolai Patrushev é um dos que fazem parte do círculo mais restrito do líder russo. São amigos, “pensam da mesma forma”, descreveu o historiador e cientista político Valerij Solovej, citado pelo El Mundo:
São feitos do mesmo material. Ambos têm um objetivo secreto, extremamente simples. Evitar perigos para o Estado, garantindo uma transição gradual que seja decidida por eles e não seja questionada por desafios internos e externos”.
De acordo com o mesmo jornal espanhol, terá sido Patrushev a assegurar a Putin uma “vitória rápida e incondicional” no país de Zelensky.
Reportagem multimédia em Andriivka. Radiografia de uma aldeia sob ocupação russa durante 30 dias
Aliás, Ben Noble, professor associado de Política Russa no University College de Londres disse à BBC: “O principal grito de batalha foi dele [Patrushev] e há a ideia de que Putin se moveu ao encontro da sua posição mais extrema”.
O “falcão do Kremlin” conhecido pelo “nacionalismo ardente, visão conspiratória do mundo e extensa experiência em espionagem”, como escreveu o Politico em 2017, nasceu na cidade de Leninegrado, atual São Petersburgo. Patrushev é filho de um veterano da chamada “Grande Guerra Patriótica” e a mãe terá sido enfermeira durante o Cerco de Leninegrado, então na União Soviética, durante a Segunda Guerra Mundial.
Um ano após finalizar o curso no Instituto de Construção Naval, foi recrutado aos 24 anos para o KGB, onde acabou por se tornar chefe da unidade anti-contrabando e anti-corrupção nos serviços secretos da URSS — e conheceu Vladimir Putin, de quem se tornou amigo íntimo.
Ministro da Segurança da República de Karelia entre 1992 e 1994, Nikolai Patrushev ingressou um ano mais tarde no FSB, o Serviço Federal de Segurança sucessor do KGB — de que Putin seria diretor entre julho de 1998 e agosto de 1999. Quando o companheiro saiu para se tornar primeiro-ministro da Rússia, foi convidado por Boris Yeltsin a ficar com o lugar. Esteve sempre perto e sintonizado com o atual líder russo, quer no FSB, quer depois no Conselho de Segurança da Rússia — órgão de grande poder, diretamente ligado a Putin, que se pronuncia sobre questões militares e de segurança —, onde é secretário desde 2008.
Declarações polémicas fazem parte do histórico de Patrushev, que é, descreve o El Mundo, “o campeão dos Siloviki”, o grupo dos homens que integraram o aparelho de segurança e dos serviços secretos da Rússia.
Embora as palavras de Patrushev nunca se tenham concretizado, em 2009, não descartara a hipótese de um ataque nuclear “de prevenção”, numa entrevista ao jornal russo Izvestia, referida no Daily Express:
Há diferentes opções para o uso de armas nucleares, dependendo de uma determinada situação e intenções de um possível inimigo. Em situações críticas de segurança nacional, também não se deve excluir um ataque nuclear preventivo contra o agressor”.
A escritora de Putin’s Playbook: Russia’s Secret Plan to Defeat America, Rebekah Koffler, descreveu Patrushev como a “pessoa mais influente na burocracia do Kremlin” e a “única pessoa” em quem Putin confia. Aliás, é tido por vários analistas, segundo a SkyNews, como o homem mais poderoso do círculo próximo de Putin.
Existe a crença de que os dois ordenaram o bombardeamento de áreas residenciais em Moscovo em 1999 com o objetivo de “culpar os terroristas chechenos e dar à Rússia um pretexto para dar início à guerra na Chechénia“, detalhou Koffler, cita-a o Daily Express. “Como resultado, a popularidade do então primeiro-ministro Putin aumentou, ajudando-o a garantir a presidência russa em março de 2000″, lê-se no mesmo artigo.
O secretário do Conselho de Segurança russo terá também acusado os Estados Unidos e a Europa de apoiarem uma ideologia neonazi na Ucrânia e de tentarem arrastar o conflito “até o último ucraniano”, numa (rara) entrevista ao jornal estatal Rossiyskaya Gazeta:
Usando os seus capangas em Kiev, os americanos, na tentativa de reprimir a Rússia, decidiram criar um antípoda do nosso país, escolhendo cinicamente a Ucrânia para isso, tentando dividir essencialmente um único povo”.