Pedro Nuno Santos tem “zero condições” para continuar como ministro das Infraestruturas, ouviu-se nesta quinta-feira entre as reações dos partidos mais à direita, depois de António Costa ter indicado que iria ser revogado o despacho publicado na quarta-feira sobre o novo aeroporto. À esquerda, porém, as reações foram mais cautelosas, com o Bloco de Esquerda, por exemplo, a colocar o ónus no próprio primeiro-ministro, que tem de dar explicações ao País sobre este caso.

Uma das primeiras reações veio da parte do presidente da Iniciativa Liberal, João Cotrim Figueiredo, que considerou que “há zero condições” para Pedro Nuno Santos continuar como ministro depois da desautorização do primeiro-ministro sobre a solução aeroportuária, apontando sinais de desagregação e confusão no Governo.

“Nós nunca fomos de pedir cabeças de pessoas porque o que interessa são as políticas que elas executam. Agora aqui já não é uma questão política, é uma questão quase de dignidade pessoal. Perante esta desautorização, eu nos sapatos do ministro Pedro Nuno Santos escrevia a carta demissão nos 30 segundos seguintes”, disse João Cotrim Figueiredo à agência Lusa.

Olhamos para isto com uma estupefação enorme porque isto parece uma República das Bananas em que um dia um ministro vem comunicar uma decisão sem dar cavaco a ninguém, em completa roda livre e no dia seguinte vem uma nota do primeiro-ministro a desautorizá-lo de uma forma que eu não me lembro de ter ocorrido em democracia e não toma o último passo que é exonerar o ministro, do qual não pode ter confiança”, afirmou.

Esquerda quer ouvir Costa a falar sobre o caso

Por outro lado, a porta-voz do PAN, Inês Sousa Real, considerou que o recuo na solução Montijo/Alcochete proposta para o novo aeroporto de Lisboa é “uma decisão sensata” e que cabe ao primeiro-ministro esclarecer se mantém a confiança no ministro das Infraestruturas.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

Inês Sousa Real reconheceu que olha “com alguma preocupação” para “esta instabilidade” no Governo: “A solução que Portugal venha a adotar é demasiado relevante, quer do ponto de vista da coesão territorial e social, quer do ponto de vista ambiental. Não se coaduna com processos como aquele a que estamos a assistir”.

O líder parlamentar do BE, Pedro Filipe Soares, exigiu que o primeiro-ministro fale ao país sobre a situação do aeroporto, considerando que há “um desgoverno do governo” de António Costa. “Exigimos que o primeiro-ministro fale ao país sobre esta situação e que assuma as responsabilidades sobre o desnorte que está a ser o governo neste momento“, afirmou.

Por seu turno, o deputado único do Livre, Rui Tavares, saudou a decisão de António Costa de determinar ao Ministério das Infraestruturas a revogação do despacho sobre a localização do novo aeroporto, falando numa “oposição interna encabeçada pelo próprio primeiro-ministro”.

A decisão de ontem não fazia nenhum sentido e ainda bem que a oposição interna no governo, pelos vistos encabeçada pelo próprio primeiro-ministro, se encarregou de a desfazer”, afirmou.

Já o PCP considerou que a decisão do primeiro-ministro de determinar ao Ministério das Infraestruturas a revogação do despacho que propunha a solução Montijo/Alcochete para o novo aeroporto de Lisboa demonstra “uma grande descoordenação” no Governo.

“Há uma grande descoordenação e há um aspeto ainda maior do que este. [A decisão do primeiro-ministro] revela a fragilização do Governo relativamente às posições que tem assumido sobre a construção do novo aeroporto”, respondeu a líder parlamentar comunista, Paula Santos, quando questionada sobre o despacho do Ministério das Infraestruturas e da Habitação.

Rui Rio pede “intervenção” por parte do Presidente da República

O CDS-PP pediu a demissão do ministro das Infraestruturas e da Habitação, depois de o primeiro-ministro ter determinado a revogação do despacho publicado na quarta-feira sobre a solução aeroportuária para a região de Lisboa. Numa nota enviada aos jornalistas e publicada na sua página da rede social Facebook, Nuno Melo considerou que “um ministro que deixou de o ser, mesmo que decida ficar, tem de se demitir”.

Já o (ainda) presidente do PSD, Rui Rio, afirmou que o ministro das Infraestruturas, Pedro Nuno Santos, “não tem condições” para continuar no Governo e considerou que, se o primeiro-ministro não o demitir, o Presidente da República deve intervir.

“É claro para mim que o ministro não tem condições para estar no Governo (…) Se o primeiro-ministro assobiar para o ar e tentar que tudo continue na mesma, acho que o Presidente da República numa situação destas deve ter uma intervenção“, afirmou o presidente do PSD, considerando que o que se passou “é algo de quase inédito”.

Rui Rio salientou que o que foi anunciado na quarta-feira “não foi uma decisão do Governo, mas uma decisão unilateral de um ministro”.

O Ministério das Infraestruturas divulgou na quarta-feira que a nova solução aeroportuária para Lisboa passava pela construção de um novo aeroporto no Montijo até 2026 e por encerrar o aeroporto Humberto Delgado, quando estivesse concluído o de Alcochete, em 2035.

Costa revoga decisão de Pedro Nuno sobre o novo aeroporto