Depois de no mês passado se terem adensado os rumores sobre a possibilidade de o Papa Francisco renunciar ao cargo, o líder da Igreja Católica desfez as dúvidas afirmando publicamente que a hipótese não está, para já, em cima da mesa.
Numa entrevista à agência Reuters publicada esta segunda-feira, Francisco diz que a possibilidade de abdicar da chefia da Igreja não lhe passou pela cabeça quando agendou a visita à cidade italiana de L’Aquila que fez aumentar a especulação.
No início de junho, o Vaticano anunciou que o Papa Francisco realizaria uma visita a L’Aquila em agosto para participar numa celebração anual que ocorre todos os verões na cidade — mas a visita fez soar as sirenes quanto a uma possível renúncia papal devido ao peso histórico daquela cidade.
É em L’Aquila que está sepultado o Papa Celestino V, um monge beneditino que liderou a Igreja Católica durante apenas seis meses, entre julho e dezembro de 1294, altura em que renunciou ao cargo. Ainda hoje, Celestino V é recordado como o primeiro Papa a abandonar voluntariamente o cargo de líder da Igreja.
A dimensão histórica daquele Papa do século XIII foi reforçada em 2009, quando o então Papa Bento XVI visitou L’Aquila e depositou o seu pálio (veste representativa do poder papal) no túmulo de Celestino V. Quatro anos depois, em 2013, Bento XVI renunciou ao papado e a sua visita a L’Aquila foi lida em retrospetiva como um sinal de que o alemão já se preparava para abandonar o cargo.
“Todas estas coincidências fizeram alguns pensar que a mesma ‘liturgia’ iria acontecer. Mas nunca me passou pela cabeça. Para já não, para já não. A sério“, disse o Papa Francisco à Reuters, em resposta a uma pergunta sobre essa possibilidade.
Ainda assim, o Papa Francisco, que tem 85 anos de idade e vários problemas de saúde, não descartou a possibilidade de vir a renunciar ao cargo no futuro, caso entenda que a fragilidade da sua saúde já não lhe permite continuar à frente da Igreja Católica.
A saúde frágil de Francisco também vinha contribuindo para os rumores de que uma renúncia estaria próxima: em maio, o líder da Igreja Católica apareceu pela primeira vez em público sentado numa cadeira de rodas, numa altura em que tinha sido submetido a uma operação num joelho, em que habitualmente tinha dores fortes.
Papa Francisco aparece de cadeira de rodas em público pela primeira vez
Na entrevista à Reuters, Francisco explicou que sofreu “uma pequena fratura” no joelho, mas que está “lentamente” a melhorar.
O problema obrigou o Papa Francisco a cancelar uma aguardada viagem ao Sudão do Sul e à República Democrática do Congo e fez também levantar dúvidas sobre a futura viagem ao Canadá, entre 24 e 30 de julho.
O líder da Igreja Católica também desvalorizou os rumores de que tem cancro — especulações que se intensificaram em julho do ano passado, quando foi submetido a uma cirurgia ao intestino. Segundo Francisco, a operação “foi uma grande sucesso”. O Papa acrescentou, contudo, entre risos, que os médicos não lhe disseram nada sobre qualquer cancro — e salientou que tudo não passava de rumores.
Visita a Moscovo e Kiev no horizonte
Na entrevista à Reuters, o Papa Francisco admite que quer ir a Moscovo e a Kiev para atuar em nome da paz no contexto da guerra lançada pela Rússia contra a Ucrânia. Depois de as intervenções papais terem ficado inicialmente marcadas por uma grande cautela nas palavras, para manter viva a possibilidade de uma intervenção diplomática do Vaticano no conflito, o Papa tem condenado duramente a invasão russa da Ucrânia — e mantém a esperança de poder visitar o território ucraniano num futuro próximo.
O líder da Igreja Católica assumiu que foram feitos contactos de alto nível entre o chefe da diplomacia vaticana, o cardeal Pietro Parolin, e o ministro dos Negócios Estrangeiros russo, Sergey Lavrov, relativamente a uma possível visita papal a Moscovo — mas que ainda não foi possível chegar a um entendimento.
Agora, porém, o Papa Francisco diz que poderá estar para breve uma viagem aos territórios da guerra.
“Gostava de ir [à Ucrânia] e queria ir primeiro a Moscovo. Trocámos mensagens sobre isto porque pensei que se o Presidente russo me desse uma pequena janela para servir a causa da paz…”, disse Francisco. “Agora é possível, quando voltar do Canadá, organizar uma visita à Ucrânia. A primeira coisa seria ir à Rússia para tentar ajudar de alguma forma, mas gostava de ir às duas capitais.”