Junho passado foi o sexto mês do ano com mais mortes registadas desde, pelo menos, 1980, altura a que remontam os dados compilados pela Pordata. A contabilização é feita pela Renascença, que aponta para uma subida de 26% face à média de mortes diárias na década anterior à Covid-19, de 2009 a 2019.
Esta é também a primeira vez desde aquele ano que um mês de junho tem mais de 9.000 mortes (foram 10.216). Carlos Antunes, matemático da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa, aponta à rádio que poderá mesmo ser o junho com mais mortes desde sempre, dado que há uma tendência “de subida” da mortalidade explicada pelo envelhecimento da população.
Segundo os dados do Sistema de Informação de Certificados de Óbito, do Ministério da Saúde, em junho deste ano registaram-se 10.216 mortes. Não é inédito ver um mês com mais de 10.000 óbitos. Em julho de 2020, por exemplo, morreram 10.425 pessoas.
Mortes 26% acima do normal em junho (e Covid-19 só explica cerca de metade)
Este mês de julho pode não divergir muito. Carlos Antunes calcula que entre 2000 e 2019, a média de julho é de 8.154 óbitos, sendo que até ao dia 12 deste mês, “o valor acumulado de óbitos” já está ao nível de junho. O matemático antecipa que o patamar das 10.000 mortes será atingido caso se mantenha a onda de calor atual.
Junho teve o terceiro dia com mais mortes do ano, 14 de junho, quando são os meses de inverno que costumam estar nesses lugares cimeiros. Naquele dia do sexto mês do ano, faleceram 414 pessoas, quando a média entre 2009 e 2021 era de 262.
A Covid-19 explica parte, mas não todo o excesso de mortalidade. Em junho, morreram 977 pessoas com a doença, segundo os registos oficiais, ou seja, quase 10% das mortes daquele mês. A Direção-Geral da Saúde (DGS) diz que está a estudar o excesso de mortalidade, não conseguindo para já avançar com explicações. À Renascença, explica, porém, que nos relatórios de monitorização da Covid-19 de final de maio e início de junho identificou “períodos de excesso de mortalidade por todas as causas, associados ao aumento da mortalidade específica por Covid-19”.
A paragem de outros tratamentos motivada pelas restrições ou pelo medo da Covid-19 também pode ajudar a explicar. Assim como o calor, uma vez que a “temperatura média do ar semanal tem estado acima do normal para esta época do ano”. O mês de junho foi, aliás, segundo o Instituto Português do Mar e da Atmosfera (IPMA) classificado como “quente e seco”, acima do que o normal. O calor elevado é, portanto, um risco para o agravamento de outras doenças.