Um novo relatório do Royal United Services Institute (RUSI) revelou que mais de 450 componentes produzidas no estrangeiro foram encontradas em armas russas utilizadas na guerra na Ucrânia, o que indica que Moscovo adquiriu tecnologia de empresas nos Estados Unidos, Europa e Ásia nos anos anteriores à invasão.

A inspeção técnica feita a cerca de 27 mísseis e outros equipamentos capturados na Ucrânia desde o início da guerra indica que, entre as mais de 450 componentes, 317 foram adquiridas a empresas sediadas nos Estados Unidos. Seguem-se Japão e Taiwan, que foram a fonte de 34 e 30 peças. Mas há também peças fabricadas na Europa, desde o Reino Unido, à Alemanha, Suíça e Países Baixos.

O relatório dá exemplo das várias armas russas que contavam com tecnologia ocidental: um drone para identificar as posições ucranianas, por exemplo, tinha um estabilizador produzido por uma empresa norte-americana, o sistema de controlo era baseado em tecnologia de uma empresa da Suíça e o motor foi fornecido por uma empresa japonesa.

“As armas russas que são altamente dependentes da eletrónica ocidental resultaram na morte de milhares de ucranianos”, referiu Jack Watling, especialista em guerra terrestre da RUSI, à agência Reuters.

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No Reino Unido, por exemplo, foram encontrados nos radares e sistemas de mísseis russos osciladores de cristais produzidos em Somerset. Estes osciladores permitem emitir um sinal elétrico que pode ser utilizado em chips de computador e relógios de quartzo.

Em 2014, como parte de um pacote de sanções contra Moscovo após a anexação da Crimeia, foi proibida a exportação para a Rússia de bens de “uso duplo” para fins militares. No entanto, uma “brecha” que não foi fechada até ao início da guerra na Ucrânia permitiu que as empresas europeias continuassem a enviar material, desde que assegurassem que esse material não seria utilizado com algum objetivo de aplicação militar.

No caso do Reino Unido, as componentes em questão foram produzidas pela Golledge Electronics, uma empresa que no início de março deste ano, após a invasão da Ucrânia, disse ter encerrado os seus negócios na Rússia. Segundo um porta-voz da empresa, citado pelo The Telegraph, a Golledge Electronics segue todas as leis globais de controlo de exportação e tem “processos de negócios robustos para lidar com o fornecimento de mercadorias para a Rússia”.

“Não enviamos material para a Rússia desde 24 de fevereiro de 2022. Estamos profundamente preocupados com esta descoberta e não apoiamos nenhum uso das nossos componentes para violar os direitos humanos”, acrescentou o porta-voz.

Segundo o Royal United Services Institute, as empresas que exportaram as peças deveriam ter tido a responsabilidade de fazer um trabalho mais profundo para garantir que as peças não eram enviadas para militares russos ou para uso militar.

O relatório do RUSI indica ainda que a Rússia, face à “degradação da capacidade militar”, montou uma “rede clandestina” de espiões para tentar encontrar substitutos para componentes às quais não pode mais aceder devido às sanções aplicadas. “A degradação da capacidade militar russa pode tornar-se permanente se forem implementadas políticas apropriadas”, refere ainda o instituto.