A presidente da Obra Católica Portuguesa de Migrações (OCPM), organismo da Conferência Episcopal Portuguesa, disse que a maior preocupação com os migrantes e refugiados é a integração.

“Tivemos aqui um movimento muito bonito a nível do acolhimento e vimos que temos uma sociedade civil muito disponível para o acolhimento, nomeadamente o acolhimento de emergência, mas a questão da integração, de percebermos que mudanças é que temos de fazer, estruturais, para que a integração ou a inclusão seja bem-sucedida, eu creio que é a maior preocupação”, afirmou Eugénia Quaresma.

A responsável da OCPM falava à Lusa a propósito da peregrinação do migrante e do refugiado, integrada na peregrinação internacional aniversária de agosto, que neste dia começa no Santuário de Fátima.

“Aprendemos muito agora com os deslocados da Ucrânia, é verdade, mas o trabalho da Igreja lembra que existem outras nacionalidades que estão entre nós e que também precisamos de cuidar”, declarou Eugénia Quaresma, exemplificando com os cidadãos do Afeganistão e frisando ser “importante lembrar que há outras nacionalidades”.

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A dirigente da OCPM destacou que existem “outras questões mais antigas” que têm de ser resolvidas, não apenas para os portugueses, mas que, “por acréscimo”, melhorarão também para os migrantes e os refugiados, nomeadamente a habitação.

“Foi uma das nossas maiores dificuldades e que precisa de ser trabalhada a nível nacional. É difícil encontrar alojamento, o alojamento está caro, há uma exploração que não se entende e que precisa de ser tratada pelos nossos governantes, para melhorar para todos”, defendeu.

À pergunta sobre a eventual existência de queixas relativas a alegada exploração laboral sobre deslocados da Ucrânia na sequência da guerra neste país, Eugénia Quaresma frisou que nada lhe chegou até ao momento, notando, contudo, que há “situações de exploração laboral em Portugal”.

“É uma questão que preocupa e que vai ocupando alguns dos nossos grupos, nomeadamente a Comissão de Apoio à Vítima de Tráfico de Pessoas. Há congregações religiosas que também despertaram para esta realidade e procuram trabalhar — isto na zona Oeste – com os empregadores para enfrentar um bocadinho esta situação da exploração, dos intermediários”, acrescentou.

A peregrinação de 12 e 13 de agosto, considerada a peregrinação dos emigrantes, é presidida pelo bispo de Fall River (Estados Unidos da América), Edgar Cunha.

Numa iniciativa da OCPM, decorre desde segunda-feira e até domingo a 50.ª Semana Nacional de Migrações, sob o tema “Construir o futuro com migrantes e refugiados”. Este é o título da mensagem do Papa Francisco para o Dia Mundial do Migrante e do Refugiado, que se assinala em 25 de setembro.

“O coração da semana é a peregrinação do migrante e do refugiado”, referiu a responsável da OCPM, entidade que assinala 60 anos em 2022.

Como prenda pede, “a nível político, que estas vozes [racistas e xenófobas] tivessem cada vez mais desprezo” e que esta “capacidade de acolhimento e de construção conjunta crescesse a nível nacional”, adiantou Eugénia Quaresma.

Xenofobia no discurso político é muito grave, considera Obra Católica de Migrações

A Obra Católica Portuguesa de Migrações (OCPM) considerou esta sexta-feira que a xenofobia e o racismo no discurso político é uma situação “muito grave“, mas disse acreditar que a grande maioria da população portuguesa pode contribuir para o inverso.

“É muito grave e ainda bem que temos também políticos atentos e que fazem frente, em sede própria, porque há aí uma narrativa que procura um bode expiatório e revela alguma ignorância ou procura fazer generalizações de uma ou outra história que conheceu”, disse à agência Lusa a diretora da OCPM, Eugénia Quaresma.

A propósito da peregrinação internacional de agosto ao Santuário de Fátima, que irá começar e integra a peregrinação do migrante e do refugiado, Eugénia Quaresma salientou que “a grande maioria das pessoas” que vem estudar ou trabalhar para Portugal não quer “viver às custas”, mas desenvolver o seu potencial e da sua família, e algumas delas “esperam e sonham também desenvolver o potencial do país de origem“.

Questionada se este tipo de discurso está a agravar-se na política, a responsável da OCPM explicou, referindo-se ao partido Chega, que “agora tem palco, tem lugar na Assembleia [da República] e, pelo número de deputados que tem, portanto, tem uma maior expressão“.

“Agora, acredito que a grande maioria da população portuguesa pode contribuir para o inverso, para mostrar como é importante construirmos uma sociedade com os migrantes e com os refugiados e não contra os migrantes e os refugiados, sem esquecer os autóctones, sem esquecer os nossos emigrantes”, adiantou.

A diretora da OCPM admitiu ainda estar “surpreendida com o crescimento” deste discurso, mas frisou que só ganhou palco porque dá voz à insatisfação “de coisas que não estão concretizadas”, daí a importância, a nível político, de se promover “o desenvolvimento do país, sem deixar ninguém para trás”.

“Se nós tivermos a consciência que as migrações fazem parte da História da humanidade e se soubermos aproveitar a riqueza, todo o potencial que trazem, seja espiritual, seja cultural, e aproveitarmos isto para construirmos um mundo novo e mais justo, saímos todos a ganhar”, acrescentou Eugénia Quaresma.

Em 21 de julho, no debate sobre a revisão da lei de estrangeiros, no parlamento, o presidente do Chega, André Ventura, acusou o Governo (PS) de querer que os imigrantes “venham de qualquer maneira” para o país e acrescentando: “Só há uns que nunca têm prioridade no discurso do Governo, os portugueses que trabalharam toda a vida, que pagam impostos e estão a sustentar o país”.

André Ventura chegou mesmo a dizer que os imigrantes que chegam a Portugal não são iguais aos portugueses que emigram para outros países, intervenção que gerou muitos protestos por parte de vários deputados no hemiciclo e levou à intervenção do presidente da Assembleia da República, Augusto Santos Silva.

Santos Silva diz que é imparcial “em relação ao debate político” e só intervém perante “discurso de ódio” e propostas “inconstitucionais”

“Devo dizer que como presidente da Assembleia da República de Portugal considero que Portugal deve muito, mas mesmo muito aos muitos milhares de imigrantes que aqui trabalham, que aqui vivem e que aqui contribuem para a nossa Segurança Social, para a nossa coesão social, para a nossa vida coletiva, para a nossa cidadania e para a nossa dignidade como um país aberto inclusivo e respeitador dos outros”, declarou, tendo sido aplaudido por deputados de várias bancadas, à exceção do Chega.

André Ventura ripostou, considerando que o presidente do parlamento deveria “abster-se de fazer comentários” sobre as intervenções dos deputados e acusando-o de representar o PS nas suas funções.

Os deputados do Chega acabaram por abandonar o hemiciclo.

Durante reprimenda, deputados do Chega abandonam hemiciclo e deixam Santos Silva a falar sozinho

Duas semanas depois, o líder do Chega defendeu que a sua intervenção “não tem nada a ver nem com xenofobia nem com racismo, tem a ver com um país que tem de ter controlo sobre as suas fronteiras” perante a “imigração ilegal” e “as consequências que isso pode ter, sejam eles de que país forem”.