A polícia alemã abriu uma investigação preliminar sobre declarações do presidente da Autoridade Palestiniana, Mahmoud Abbas, de que Israel cometeu “50 holocaustos” contra palestinianos, por possível incitamento ao ódio, noticiou esta sexta-feira a imprensa alemã.
Uma porta-voz da polícia disse ao diário Bild que a investigação preliminar está a cargo de um “departamento especializado da Polícia Criminal do Estado”. A polícia abriu o processo após receber uma queixa criminal formal, segundo a agência norte-americana AP.
A minimização do Holocausto é uma ofensa criminal na Alemanha, mas a abertura de um inquérito preliminar não implica automaticamente uma investigação completa.
O governo alemão disse que Abbas beneficiará de imunidade contra uma eventual acusação porque estava em visita oficial à Alemanha na qualidade de representante da Autoridade Palestiniana.
A Alemanha não reconhece os Territórios Palestinianos como um Estado soberano, uma posição que o chanceler alemão, Olaf Scholz, reafirmou na terça-feira, quando recebeu Abbas.
Nesse dia, após um encontro em Berlim, os dois dirigentes deram uma conferência de imprensa conjunta, durante a qual Abbas foi questionado sobre o atentado terrorista nas Olimpíadas de Munique.
A 5 de setembro de 1972, militantes palestinianos sequestraram atletas israelitas na Aldeia Olímpica de Munique, num atentado de que resultaram 17 mortos: 11 elementos da delegação de Israel, cinco atacantes e um polícia alemão.
Abbas recusou pedir desculpa pelos atentados de Munique e contrapôs que podia apontar “50 holocaustos” cometidos por Israel.
Desde 1947 até aos dias de hoje, Israel cometeu 50 massacres em 50 localidades palestinianas. Cinquenta massacres, 50 holocaustos”, afirmou, referindo-se ao conflito entre palestinianos e israelitas.
Abbas foi criticado na Alemanha e em Israel, embora Scholz, ao seu lado, não tivesse reagido de imediato, o que também lhe valeu reparos. Posteriormente, o chanceler social-democrata manifestou-se “indignado com os comentários ultrajantes” de Abbas.
“Para nós alemães, em particular, qualquer relativização da singularidade do Holocausto é intolerável e inaceitável. Condeno qualquer tentativa de negar os crimes do Holocausto”, escreveu Scholz na rede social Twitter.
Apesar da polémica e de apelos para suspender a ajuda aos palestinianos, o governo alemão confirmou esta sexta-feira que mantém o seu programa de apoio de mais de 340 milhões de euros, aprovado para 2021 e 2022, noticiou esta sexta-feira o semanário Der Spiegel.
O governo alemão não financia diretamente a Autoridade Palestiniana, mas tem um programa de ajuda humanitária aos palestinianos e de apoio ao desenvolvimento.
Em Israel, o primeiro-ministro Yair Lapid também se mostrou indignado com os comentários de Abbas, tanto mais por terem sido feitos na Alemanha, cujo regime nazi, de Adolf Hitler (1889-1945), foi responsável pelo Holocausto nas décadas de 1930 e 1940.
“Seis milhões de judeus foram assassinados no Holocausto, incluindo 1,5 milhões de crianças judias. A História nunca perdoará”, lembrou Lapid na quarta-feira.
A política de “solução final”, como foi designada pelo regime nazi, consistiu na eliminação sistemática de judeus (alargada a outras comunidades, como a dos ciganos), incluindo com recurso a câmaras de gás em campos de concentração.
O regime nazi foi derrubado com a derrota alemã na Segunda Guerra Mundial (1939-1945), que Hitler iniciou três anos depois de ter usado as Olimpíadas de Berlim como uma operação de propaganda da ideologia do seu Partido Nacional-Socialista dos Trabalhadores Alemães, mais conhecido como Partido Nazi.