Depois de uma vaga inicial de algumas semanas com Cristiano Ronaldo associado aos clubes de primeira linha do futebol europeu, a onda final com conjuntos de Liga dos Campeões sem as mesmas aspirações no plano desportivo. A poucos dias do fecho do mercado, a situação do avançado é um dos pontos chave ainda por resolver nesta janela de transferências – e que pode acabar com uma “não solução” mais simples de ficar no Manchester United, equipa com quem tem mais um ano de contrato e outro de opção. No entanto, houve uma mudança de paradigma. Na formação inglesa, na perceção em geral. E se por estes dias no ano passado o número 7 escolhia entre red devils e Manchester City, hoje perdeu opção de escolha.

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O que mudou então entre 2021, quando Jorge Mendes na última semana de mercado chegou a Turim, disse à Juventus que Ronaldo ia sair e depois houve um duelo entre clubes de Manchester, e 2022, com o agente do jogador a tentar várias portas sem encontrar uma janela de oportunidade? As razões que explicam o insucesso do empresário nas muitas tentativas feitas ajudam a perceber o que se passou.

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Exemplo 1, o Chelsea. Todd Boehly, novo proprietário dos londrinos após a saída de Roman Abramovich, encontrou-se com Jorge Mendes logo no início do projeto dos blues e, mais tarde, terá tido a autorização de Richard Arnold, CEO do Manchester United, para negociar com o agente a contratação do avançado. Por ele, valia o esforço financeiro até numa perspetiva comercial e de marketing que está sempre presente no pensamento empresarial dos grandes investidores norte-americanos. Problema? As opções desportivas de Thomas Tuchel para o plantel. “Não está excluída a possibilidade de contratar um avançado mas não é uma prioridade neste momento. A prioridade é a defesa, não é segredo nenhum. A partir daí veremos o que é possível”, referiu, sendo que a opção para o ataque chegou mesmo mas mais móvel: Raheem Sterling.

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Exemplo 2, o Bayern. Com a saída de Robert Lewandowski que não estava confirmada mas que todos sabiam que seria uma realidade, os bávaros começaram por virar atenções para Sadio Mané naquilo que seria uma assumida mudança no modelo de jogo sem mexer com o habitual sistema tático mas admitiram essa hipótese de contratar Ronaldo. “Discutimos a questão. Caso contrário, não estaríamos a fazer o nosso trabalho. Pessoalmente, acho que é um dos melhores jogadores de futebol que já andou pelo planeta mas chegámos à conclusão que, apesar de toda a nossa apreciação, ele não se adequaria à nossa filosofia na situação atual“, comentou o presidente executivo, Oliver Kahn. “Tens de ser capaz de o pagar. Ele não caminha para novo, implica muito dinheiro. Penso que há muitos clubes que o gostariam de ter. Todos os clubes sabem que é um grande jogador, que marcaria muitos golos e venderia muitas camisolas, mas ele traz também uma pressão adicional”, acrescentaria mais recentemente o técnico Julian Nagelsmann.

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Exemplo 3, o PSG. Neste caso não chegou a existir “desmentidos” ou explicações para o não interesse dos franceses na contratação do internacional português mas a conversa de Jorge Mendes com Luís Campos, o conselheiro para o futebol do presidente Nasser Al-Khelaïfi e diretor desportivo, deixou tudo na mesa sobre a indisponibilidade: não há folga financeira a nível de falha salarial tendo em conta o fair-play financeiro e a renovação milionária de Kylian Mbappé, a aposta recai em jovens valores para fazer uma renovação de plantel e Hugo Ekitiké foi o eleito no plano ofensivo para “crescer” esta temporada. Ou seja, se é verdade que um dia Al-Khelaïfi admitiu o sonho de juntar Ronaldo e Messi, o contexto perdeu-se no tempo.

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Exemplo 4, o AC Milan e o Inter. Quando as notícias em torno de Ronaldo e de uma possível saída já iam começando a rarear, a imprensa transalpina deu conta de uma investida de Jorge Mendes junto dos dois clubes campeões nas últimas temporadas para poderem garantir o jogador. Nestes caso, a vertente mais desportiva da recusa não foi propriamente abordada mas sim o peso financeiro que a operação de grande envergadura iria arrastar: por ter fechado atividade em Itália depois da saída de Turim no verão passado, perdendo assim aquilo que poderia ainda beneficiar a nível de encargos fiscais, o avançado iria custar cerca de 45 milhões de euros por ano para receber em termos líquidos o que tem em Inglaterra.

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Existiram mais clubes falados, entre a milionária proposta que chegou da Arábia Saudita que bateria todos os recordes a nível de prémios e vencimentos mas não tinha o mínimo interesse no plano competitivo. O Barcelona, que fomentou a paixão de Bernardo Silva sem fazer uma única proposta concreta ao Manchester City e que também em relação ao Ronaldo viu Joan Laporta posicionar-se mas apenas para os títulos de jornais. O Real Madrid, com Florentino Pérez a recusar qualquer hipótese de regresso depois da saída. O Atl. Madrid, que poderia ser uma solução apetecível mas que se diluiu na permanência de Griezmann e Morata entre os protestos dos adeptos perante as notícias. A primeira linha europeia fechou-se.

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Foi depois numa segunda vaga que foram aparecendo outros clubes associados ao capitão da Seleção. O B. Dortmund, que até procura mais um avançado depois do infortúnio de Sebastian Haller com um tumor maligno que o vai afastar dos relvados durante alguns meses. O Marselha, que veio desmentir a hipótese em termos públicos apesar de nunca ter sido uma verdadeira opção para Ronaldo. O Nápoles, a última hipótese que voltou a ser reaberta esta semana mas com muitas dúvidas à mistura para tornar o plano de contratação viável em termos práticos (sendo que se falou também de uma reaproximação ao AC Milan). O jornal As fala numa complexa operação a envolver Osimhen, o jornal Marca coloca o Sporting no topo.

Resumo? Ronaldo não tinha entrada nos principais clubes ou por haver outras prioridades desportivas, ou pelas limitações financeiras de encaixar o seu ordenado na folha salarial, ou pela incapacidade de haver retorno a não ser no impacto direto no marketing e comercial. Ninguém falou exatamente da parte dos golos que marca e do que oferece à equipa mas, ao contrário do ano passado, isso já não é suficiente. É por isso que os próximos cinco dias serão decisivos para Ronaldo e para o que espera nesta fase da carreira.

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A situação no Manchester United não é agora a melhor. Com um ponto prévio: desde o início, fosse na justificação para a ausência no regresso aos trabalhos e na digressão pela Ásia e pela Austrália, fosse na explicação para deixar o clube este verão, o jogador alegou sempre “razões pessoais” que foram aceites e até reiteradas pelos responsáveis do clube – e essa é uma realidade, apesar de ter havido grande enfoque na questão de ter uma projeto desportivo que lhe permitisse ganhar títulos e jogar pela 20.ª época seguida a Liga dos Campeões. Depois, aquilo que representa hoje Ronaldo no clube, numa imagem que se foi desgastando perante as constantes notícias da vontade de sair que a certa altura os próprios red devils pareceram assumir com uma viragem de discurso que de forma oficiosa já admitia mesmo uma saída.

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As imagens do período de aquecimento da equipa no último jogo com o Liverpool, aquelas imagens que não “passam” mas que são acompanhadas por milhares de pessoas nas bancadas que puxam do telefone e fazem vídeos que não demoram a circular em meio mundo através das redes sociais, mostraram um CR7 comprometido com a equipa. A fazer exercícios de recriação com bola que a certa altura faziam lembrar o aquecimento de Diego Maradona no Nápoles no final dos anos 80 mas a incentivar também todos os seus companheiros de forma individual antes de um jogo importante até pela goleada sofrida com o Brentford. Mais: Casemiro, o mais recente reforço, admitiu que o antigo companheiro no Real tem sido uma grande ajuda. O avançado foi suplente, não foi o primeiro entrar e jogou quatro minutos mais descontos.

Significa isto que será sempre assim em caso de permanência? Não. Há jogos e jogos, cada jogo tem a sua estratégia, Ronaldo não deixou de ser o elemento mais capaz de fazer a diferença na hora de marcar golos. No entanto, a ideia de Erik ten Hag para este novo Manchester United acabou por sair reforçada até pela própria exibição da equipa frente ao Liverpool: o desenho de um 4x3x3 com Casemiro a ter à sua frente para construir Eriksen e Bruno Fernandes e três avançados mais móveis que sejam capazes de fazer de forma rápida zonas de pressão alta para não deixar o adversário sair nem construir (depois também tem momentos de baixar linhas para explorar as transições mas já estando em vantagem). Assim, em paralelo, o neerlandês entende que a defesa fica menos exposta às muitas fragilidades que ainda evidencia.

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Contas feitas, e mais uma vez caso fique em Old Trafford, Ronaldo será titular em vários jogos mas, caso Ten Hag mantenha a mesma ideia para os desafios mais relevantes e competitivos, não surgirá como uma primeira opção em encontros de maior dimensão como o clássico com o Liverpool, ao mesmo tempo que irá disputar pela primeira vez a Liga Europa. Saindo, e nesta fase em que as opções no top 5 parecem estar esgotadas, a opção natural em cima da mesa é o Sporting. Mais uma vez, como o Observador já referira antes, o clube não comenta a possibilidade em termos oficiais nem abre ou fecha a porta porque qualquer decisão terá sempre de partir do próprio jogador, que através do seu agente sabe até onde os leões podiam chegar a nível de ordenado e também as formas alternativas para minimizar dentro do possível as diferenças. A ideia de Ronaldo, a médio prazo, era acabar a carreira em Alvalade; tudo o que mudou no último ano, em que fez 24 golos em 38 jogos, faz com essa hipótese pelo menos exista a curto prazo.

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