“Não é ‘Onde está o Wally, é: ‘Onde está o José Luís Carneiro?” O Chega queria ter confrontado o ministro da Administração Interna no debate sobre as falhas nos combates aos incêndios, mas teve que trocar argumentos com a secretária de Estado da Proteção Civil, Patrícia Gaspar, que defendeu que  “não existiram falhas [no SIRESP] enquanto sistema durante o ano de 2022″ e ainda  aproveitou a presença para justificar as polémicas declarações sobre o algoritmo da área ardida. Já a oposição foi quase unânime a denunciar o mau funcionamento do SIRESP.

Como funciona o algoritmo que Patrícia Gaspar usou para dizer que só ardeu 70% do que se esperava

Na intervenção de abertura, André Ventura deixou várias críticas à ausência do ministro da Administração Interna, José Luís Carneiro, com a secretária de Estado a ter de justificar a polémica declaração sobre a área ardida ser, segundo um algoritmo, apenas 70% do que estava previsto. Patrícia Gaspar puxou ainda da experiência no terreno para dizer que não é plausível que “alguém que dedicou 22 anos da vida profissional à Proteção Civil e que andou vários dias ao lado dos bombeiros no terreno, se possa congratular ou regojizar-se com 1 hectare de área ardida”. E acrescentou que as declarações foram mal interpretadas e que os dados que utilizou foram “para valorizar o trabalho dos que combatem os incêndios“.

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André Ventura já tinha feito várias críticas às declarações da secretária de Estado — a quem pediu a demissão várias vezes durante o debate –, dizendo que “o algoritmo vale zero: zero de compaixão, de empatia e de tolerância para com quem trata assim os portugueses”. Apontou também, logo na abertura, a alterações na justiça ao dizer que “incendiário bom é incendiário na cadeia” e ao pedir um reforço das penas para os autores de incêndios rurais.

Já Patrícia Gaspar disse na intervenção de abertura que “é preciso aprender com humildade sobre a forma como o sistema reagiu” e que “os incêndios confirmam que as alterações climáticas obrigam a mudar a gestão do território”. A governante abre ainda a porta “a uma reorganização do modelo de corpos de bombeiros, mais adaptado aos desafios e à resposta às ocorrências”, ao “modelo de formação”, mas também a uma mudança “na forma de financiamento” das corporações de bombeiros que “terá que ser discutida com as associações do setor”.

Dezoito comandos distritais passam a 23 sub-comandos

A responsável pela Proteção Civil adiantou que em janeiro do próximo ano os 18 Comandos Distritais de Operações e Socorro vão passar para 23 sub-comandos regionais, num modelo que Patrícia Gaspar defende que “vai permitir estar mais próximo das populações” e com isso “garantir uma resposta e uma atuação mais eficaz”.

Nas questões colocadas pela oposição, foi o SIRESP a pedra de toque na primeira ronda. O PSD lançou a pergunta sobre as falhas do sistema e a Iniciativa Liberal lembrou o “teste falhado” que foi transmitido pelas televisões, fazendo ainda um paralelismo sistema de comunicações ao desempenho do Governo: “Sai caro aos portugueses, nunca está presente quando é necessário e está obsoleto”.

À esquerda, o PCP deixou a pergunta retórica sobre “quando é que o SIRESP deixará de ser notícia”, enquanto o Bloco de Esquerda comparou as falhas no sistema de comunicações com as falhas na Saúde, na Educação e nas pensões: “Quando perguntado porque é que o SIRESP falhou, a resposta foi: falhou foi pouco, face às previsões. Quando o Ministro da Educação foi questionado sobre porque faltam professores diz: faltou foi pouco e quando a ministra da Segurança Social é questionada sobre os cortes nas pensões a resposta foi: cortou foi pouco, porque a direita queria cortar mais. No fundo, este é o Governo do faz pouco“, rematou Pedro Filipe Soares.

Até à intervenção de encerramento, o Chega — que pediu este debate — pediu a demissão da secretária de Estado e perguntou por José Luís Carneiro, com o PS a defender que “a postura de autarca do ministro foi uma mais valia na resposta aos incêndios”. No final, a secretária de Estado da Proteção Civil subiu ao palanque para dizer que “marcou presença a responsável direta” pelo setor e que o ministro não se esconde. Mas onde anda? “Virá ao Parlamento duas vezes na próxima semana”, deixou como garantia.