O entendimento para a criação de um corredor verde para o transporte de gás e hidrogénio de Portugal até França entre Portugal, Espanha e França permitiu “desbloquear um acordo que estava bloqueado há anos” (e que tinha sido assinado pelo Governo de Passos Coelho). Duarte Cordeiro diz que o projeto vai tentar obter financiamento comunitário, mas admite que a parte portuguesa — um investimento de 300 milhões de euros — possa vir a ser financiado através das tarifas pagas pelos consumidores.
A afirmação foi feita este sábado pelo ministro do Ambiente e Ação Climática em resposta às críticas feitas esta manha pelo eurodeputado Paulo Rangel para quem o consenso obtido para a ligação entre as redes de gás e a construção de um gasoduto entre França e Espanha via Mediterrâneo é “um mau acordo para Portugal”. Uma das razões invocadas é a redução das interligações elétricas entre Espanha e França que tinham ficado previstas em 2015, mas que não chegaram a avançar. Tal como o gasoduto pelos Pirenéus que Macrón recusou sempre e que acabou por ditar o fim do MidCat.
Depois de ter remetido para o gabinete do primeiro-ministro a comunicação sobre este acordo, do qual ainda pouco se sabe, o ministro do Ambiente, Duarte Cordeiro foi à SIC Notícias explicar porque é que o Governo reclama que esta “é uma grande vitória para Portugal” e porque considera a posição do PSD “absurda”.
“É um absurdo a declaração de Paulo Rangel quando quer colocar uma dicotomia entre o gasoduto e Sines. O gasoduto valoriza Sines” para onde estão previstos vários projetos de produção de hidrogénio verde que pode ser exportado por barco, mas também ser exportado através destas novas ligações. “O país tem de ter várias alternativas”, ao contrário do que acontece agora. Com este projeto “aumentamos as probabilidades de termos alternativas para exportar e importar”. Além de que, garante a ligação ao back-bone (a infraestrutura central) da futura rede de gasodutos para hidrogénio que passa em Marselha.
Sobre a incompatibilidade entre a atual infraestrutura de gasodutos com novo pipeline para o transporte de hidrogénio, Duarte Cordeiro reconhece que a atual rede terá de ser adaptada, mas acrescenta que todos os países vão ter de fazer o mesmo. O que não fazia sentido, diz, era fazer esta nova infraestrutura sem a adaptar já à nova utilização. E garante que até estar disponível o hidrogénio verde em escala para a exportação, a infraestrutura pode ser utilizada para transportar gás de e para a França, bem como incorporar no gás natural outros gases renováveis como o biogás. (Até o hidrogénio se não ultrapassar os 10%).
Para o ministro do Ambiente “há uma enorme desinformação. Dizem que desconhecem e criticam dizem que é mau para país” sem conhecerem o projeto cujo detalhe só será discutido em dezembro em Alicante. E diz que o acordo também inclui o reforço das interligações elétricas (sobretudo entre Portugal e Espanha), mas admite que caiu a interligação que estava prevista para os Pirenéus.
Portugal, sublinha, tem se afirmado como um polo de produção de energia renovável barata e isso está a atrair a indústria. “Ao produzirmos gases renováveis, vamos utilizar estas interligações para a exportação. Mas vamos aproveitar já o novo gasoduto para os gases renováveis”.
Cordeiro aposta em fundos europeus, mas não afasta impacto nos preços
Duarte Cordeiro confirma o custo de 300 milhões de euros para os 160 quilómetros que vão ligar Celorico da Beira a Zamora na Espanha (a parte portuguesa). O projeto com Espanha e França perdeu a classificação de projeto de interesse devido ao impasse na sua construção. Em Portugal o traçado da terceira interligação de gás a Espanha foi chumbado pela Agência Portuguesa do Ambiente e a REN já tem um novo traçado.
O ministro do Ambiente confia que o acordo alcançado na sexta-feira vai permitir recuperar essa classificação e a possibilidade de recorrer a fundos europeus. E se não for totalmente financiado pela Europa será financiado por Portugal, admitiu. Sem excluir impacto nas tarifas de gás, Duarte Cordeiro diz que essa avaliação terá de ser feita depois de saber qual o financiamento europeu e se o custo é benéfico para o país. Os investimento gestora da rede de gás são remunerados pelas tarifas e a avaliação do seu impacto nos preços e do seu custo benefício é feita pela Entidade Reguladora dos Serviços Energéticos.
E destaca que a guerra mostrou à Europa a excessiva dependência dos fornecedores do Leste e a oportunidade perdida de ter ligações a sul e o empenho manifestado pela Comissão Europeia e pela Alemanha cujo chanceler pediu um gasoduto a partir de Sines.
Nas declarações à SIC Notícias, o ministro do Ambiente refere que a segurança do sistema português de gás também ganha por ter uma nova interconcexão de gás, a terceira com Espanha. “Conseguimos reforçar a nossa resiliência”, reconhecendo que Portugal tem atualmente uma enorme “dependência” do Porto de Sines e do terminal de gás natural liquefeito.
Sobre o aviso da Nigéria de que ia reduzir a produção de gás, o ministro realça que Portugal “tem feito tudo o que é possível para salvaguardar” o abastecimento, diversificando os fornecedores e aumentando as reservas.
“Estamos a tomar todas as medidas para inimizar os riscos. Se a Nigéria não cumpri , vamos ao mercado comprar. Não há falta de gás e os preços até baixaram” nos últimos dias. Duarte Cordeiro referiu ainda que não há indicação, para já de falhas nas entregas vindas da Nigéria, que é o principal fornecedor de gás a Portugal.