Tal como era a vontade de França, não vai avançar o projeto Midcat, o gasoduto que deveria ligar França e a Península Ibérica através dos Pirenéus. Ao invés, será construído um corredor alternativo e “verde”, que ligará Barcelona a Marselha, e levará gás para a Europa, numa primeira fase, e hidrogénio verde, numa segunda. O anúncio foi feito esta quinta-feira pelo primeiro-ministro, António Costa, e pelo presidente do Governo espanhol, Pedro Sánchez. “Vai ajudar a ultrapassar um bloqueio histórico“, destacou o primeiro-ministro.

“Depois de muitos meses de trabalho intenso entre os governos de Espanha, França e Portugal, chegámos a um acordo para acelerar o processo das interconexões”, anunciou Sánchez à entrada para o Conselho Europeu.

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Assim, o conhecido projeto Midcat será substituído por outro projeto, que será denominado de Corredor de Energia Verde, que vai unir a Península Ibérica a França, e por isso ao mercado energético europeu, e que ligará Barcelona a Marselha. António Costa destacou que o projeto vai permitir completar a interconexão entre Celorico da Beira e Zamora e fazer a ligação entre Espanha e o resto da Europa, ligando Barcelona e Marselha por via marítima.

A ligação entre Celorico de Basto e Vale do Prado terá 162 km. A ligação será já preparada para o hidrogénio verde, porque “não faria sentido” fazê-lo sem essa vocação, sendo que esse pipeline também poderá transportar gás natural “até uma certa proporção”. Este será “transitório e proporcional ao esforço que todos temos de fazer para assegurar a segurança energética da Europa e a transição energética”.

“Só o chegarmos à fronteira com Espanha com esta terceira ligação, faz que esta seja para Portugal uma tremenda mais-valia. É um mercado de 60 milhões no conjunto da Península Ibérica. Passar de Espanha para o resto da Europa é um passo maior”. Costa sublinhou ainda que o trabalho político “está feito”, falta agora avançar o trabalho técnico.

Para chegar a este acordo foi necessário quase um ano, adiantou Costa. A “alteração da conjuntura energética da Europa e a compreensão de que temos de diversificar as fontes e rotas de fornecimento de energia” são fatores que terão contribuído para acelerar o processo, acredita o primeiro-ministro. Além disso, Costa destacou que “para além daquilo que são as oportunidades que existiam em relação ao gás natural, haver hoje a tecnologia que nos permite apostar no hidrogénio verde e outros gases renováveis, que vai permitir associar esta interconexão ao esforço para apostar na transição verde”.

Já Pedro Sánchez adiantou que o acordo tinha de responder a três premissas. A primeira era garantir que as interconexões tinham de ser coerentes com a transição ecológica e responder à aposta em energias limpas, como o hidrogénio verde.

A segunda era garantir que a Península Ibérica, em particular Espanha, enquanto país com maiores capacidades de armazenamento, tinha de dar resposta à solidariedade e às necessidades europeias de armazenamento de gás, fazendo frente à “chantagem de Putin”.

A terceira condição é ter interconexões com “uma aproximação dual”, que não garanta a interconexão apenas de fontes de energia como o gás e o hidrogénio, mas que impulsione também as interconexões elétricas entre a Península Ibérica e França.

Haverá, assim, tubos destinados ao hidrogénio verde, mas também ao gás, enquanto durar o processo de transição na UE. Os três governos vão voltar a reunir-se em Alicante a 8 e 9 de dezembro, onde esperam ter já um plano “totalmente delineado” no que toca a aspetos “fundamentais” como os prazos do investimento, a repartição de custos e o volume de recursos económicos que terão de ser alocados ao projeto.

Costa e Sánchez adiantaram que foi ainda alcançado um acordo, entre Portugal e Espanha, que prevê a criação de um projeto para o armazenamento conjunto de energia, o “grande desafio da transição energética”, que irá completar o mercado ibérico. Costa mencionou as formas tradicionais de armazenamento, como as barragens, e as novas formas, como o hidrogénio verde, e ainda a possibilidade de serem “desenvolvidas baterias de grande capacidade com condições para armazenar energia, o que ajudaria a valorizar um recurso natural da Península Ibérica, que é o lítio”.