Vários militares que pertencem à tropa de elite dos comandos nacionais afegãos estarão a ser contratados pela Rússia para lutar na Ucrânia, apurou a Foreign Policy. Estes combatentes foram treinados pelos Estados Unidos, que gastou mais de 90 milhões de dólares para formar as Forças Nacional de Defesa e Segurança do Afeganistão para lutar contra os talibã e o Estado Islâmico.

Com a tomada do Afeganistão pelos talibã no verão passado, estes militares foram deixados à sua sorte, sendo hostilizados pelo novo regime. Uns fugiram para o estrangeiro — poucos conseguiram ir para os Estados Unidos — e alguns ficaram no país, onde estão, de acordo com uma fonte militar, “sem país, trabalho nem futuro”. “Não têm nada a perder.”

Por detrás do recrutamento do Afeganistão, estará o grupo Wagner, uma organização paramilitar de extrema-direita que está ligada ao Kremlin, apesar de este negar inclusive a sua existência. Uma fonte militar afegã conta que aquele grupo que “está a recrutar pessoas” em todo o país. Ainda assim, maioria dos militares não quer lutar pela Rússia, encarando-a como uma “inimiga” — de referir que a União Soviética invadiu o país em 1979.

Não é, no entanto, “difícil” convencê-los a tomar parte de uma “legião estrangeira”: “Eles estão a espera de trabalho no Paquistão no Irão e recebem quatro dólares por dia ou 10 dólares por dia na Turquia. Se o [grupo] Wagner ou outros serviços de informações chegam e oferecem mil dólares para combater, eles não vão rejeitar”, relata a mesma fonte militar afegã.

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Os militares afegãos desta tropa de elite, que pode chegar aos 10 mil, estão a ser contactados através de serviços de mensagens instantâneas como o WhatsApp ou o Signal. Um desses exemplos é um militar de 35 anos, que rejeitou lutar na Ucrânia (porque vê a Rússia como uma inimiga), mas que ressalvou, à Foreign Policy, “estar muito desapontado” com o Ocidente.

“Por 18 anos, lutámos lado a lado, desempenhamos tarefas perigosas com equipas norte-americanas, britânicas e norueguesas. Agora, estou escondido, estou a sofrer a cada segundo”, disse o militar de 35 anos.

Estes militares são altamente treinados e alguns analistas acreditam que isso pode fazer a diferença na Ucrânia — e ajudar as tropas russas a vencerem: “Pode fazer mudar o jogo de forças”.