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Na passagem por Lisboa, o ex-primeiro-ministro britânico Boris Johnson fez revelações polémicas sobre as alegadas posições assumidas por alguns países ocidentais antes de a Rússia invadir o território ucraniano. Segundo Johnson, a França estava “em negação”, a Itália disse que “seria incapaz” de ajudar por causa da dependência dos hidrocarbonetos russos e a Alemanha assumia que era melhor a Ucrânia “ceder” do que envolver-se num longo conflito. Os comentários não foram recebidos com bons olhos e o governo alemão já deu a conhecer o seu descontentamento.
Um porta-voz do chanceler alemão Olaf Scholz rejeitou esta quarta-feira as declarações ex-governante britânico. “Estou tentado a mudar para inglês e afirmar que aquilo que Boris Johnson disse é um absurdo total“, começou por dizer aos jornalistas Steffen Hebestreit, mas não se ficou por aí. “Sabemos que o ex-primeiro-ministro britânico é muito divertido e tem sempre uma relação particular com a verdade. Este caso não é exceção“, sublinhou, citado pelo TheGuardian.
Na CNN International Summit, que decorreu em Lisboa, Johnson afirmou que, apesar dos países ocidentais estarem agora a prestar um apoio contínuo à Ucrânia, nem todos estavam convencidos no período antes da Rússia lançar a invasão, numa altura em que já se via movimentações das tropas russas. “A certo ponto, a perspetiva alemã era de que se a [invasão] ia mesmo acontecer, o que seria um desastre, então seria melhor que tudo acabasse rapidamente e que a Ucrânia desistisse“, afirmou, segundo a CNN. Assumindo que compreendia a posição alemão, garantiu, no entanto, que não podia apoiá-los.
Como lembra o Guardian, as declarações parecem coincidir com os comentários de Andriy Melnyk, antigo embaixador ucraniano na Alemanha. Nos primeiros meses da guerra, garantiu que os políticos alemães lhe terão dito que se esperava que a Ucrânia fosse derrotada em três dias, pelo que era inútil ajudar. Mais tarde disse ainda que o ministro das Finanças alemão, Christian Lindner, lhe terá dito que era contra o fornecimento de armas a Kiev e a exclusão da Rússia do sistema Swift.
Johnson não se limitou a falar sobre a posição da Alemanha. Aliás, a França terá estado em “negação” mesmo até “ao último momento”. Segundo o ex-governante, a Itália, por seu turno — na altura liderada pelo primeiro-ministro Mario Draghi — terá dito que não conseguiria apoiar a Ucrânia devido à dependência “massiva” nos hidrocarbonetos russos. Até agora, o governo francês e alemão ainda não reagiram às alegações.
Muito se tem falado sobre o que terá acontecido nos meses que antecederam o dia 24 de fevereiro, em que as tropas russas cruzaram a fronteira para a Ucrânia. Muitos observadores ocidentais acreditavam que a invasão iria ter fim numa questão de semanas ou mesmo dias.
Segundo uma investigação do Washington Post, o Presidente dos Estados Unidos, Joe Biden recebeu em outubro a notícia de que o seu homólogo russo se preparava para invadir a Ucrânia. A administração Biden esteve várias vezes reunida — sempre em segredo — para discutir a possível invasão da Rússia à Ucrânia, uns mostrando preocupação, outros, ceticismo. Ultrapassadas as dúvidas iniciais, Biden entrava em ação e a 7 de dezembro contactava o homólogo russo, Vladimir Putin. Simultaneamente, os dirigentes ucranianos eram avisados sobre a potencial invasão, recebendo a informação com ceticismo.
Os contactos diplomáticos não viriam a ter qualquer efeito no resultado final e em fevereiro Moscovo dava inicio à “operação militar especial”, termo que têm usado para descrever a guerra na Ucrânia. Quatro dias antes, num último esforço para evitar as tensões, Putin recebia uma chamada do líder francês, que sugeria um possível encontro com Biden para evitar a guerra que se avizinhava. O líder russo não levou o tema a sério e, segundo uma gravação a que o The Telegraph teve acesso, nos últimos momentos dizia a Macron: “Para ser honesto, eu queria jogar hóquei no gelo. E aqui estou eu a falar a partir do salão de desporto antes de começar a atividade física”.
Passados nove meses, a Ucrânia continua a desafiar as expectativas iniciais, tendo reconquistado vários territórios. Recentemente os soldados ucranianos voltaram a pisar a cidade de Kherson, após a retirada das tropas russas para a margem esquerda do rio Dnipro. Apesar de alguns progressos, as cidades ucranianas continuam a ser alvo de intensos bombardeamentos russos particularmente direcionados às infraestruturas civis e energéticas, numa altura em que o inverno está cada vez mais próximo.