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Sergey Skvortsov e Elena Koulkova pareciam ter uma vida normal. Moravam numa moradia com fachada branca em Saltsjo-Boo, nos arredores de Estocolmo, desde 2015. “Eram como toda a gente na região, falavam sobre jardinagem e cumprimentavam as pessoas sempre de maneira amigável”, relatou um vizinho do casal ao jornal britânico The Times. Na passada terça-feira, às 6h da manhã, tudo mudou.
Naquela manhã, dois helicópteros sobrevoam a moradia em que o casal morava. De lá, saiu uma tropa de elite do exército sueco que entrou pela janela, ao mesmo tempo que carros de polícia estacionavam perto da casa. Tudo isto fazia parte de uma operação cronometrada ao segundo, detalhou depois Stefan Hector, diretor da polícia sueca, que explicou que o objetivo era evitar que qualquer prova fosse eliminada, fosse “pela sanita”, fosse “pela destruição de computadores”.
O “casal amigável” acabou detido após esta operação policial de elevada complexidade. Na origem estava a decisão da Procuradoria-Geral sueca, que acusava Sergey Skvortsov de, nos últimos 10 anos, ter levado a cabo “graves atividades ilegais de espionagem” contra a Suécia e contra um país estrangeiro. A mulher era a sua cúmplice.
Os arguidos rejeitaram as acusações da justiça sueca, mas Sergey Skvortsov acabou mesmo por ficar em prisão preventiva, enquanto a mulher pagou uma fiança e foi libertada. Pelo meio, o procurador sueco Henrik Olin foi dando mais detalhes sobre as acusações: a polícia sueca foi ajudada pelo FBI, segundo o qual o casal também recolheu informações que comprometiam a segurança dos Estados Unidos.
Ггг…
Номер квартиры арестованной в Швеции пары – 282, а дальше по коридору – квартира 288, где живет Денис Сергеев, третий подозреваемый в отравлении Сергей Скрипаля и его дочери в британском Солсбери. ⬇️⬇️
Сергей Скворцов и Елена Кулькова ⬇️ pic.twitter.com/LlU10StC8S
— ✞idistavizo✞ (@idistavizo) November 27, 2022
Para isso, o casal terá adquirido à indústria militar russa tecnologia ilegal para os ajudar a cumprir a missão. E a Suécia conseguiu também desvendar conexões entre Sergey Skvortsov e os serviços de informações russos, que terão estado em contacto durante os últimos anos. No entanto, as autoridades suecas começaram a vigiar o casal apenas em 2016, quando uma empresa que os dois detinham começou a ficar com problemas económicos.
Quem são, afinal, Sergey Skvortsov e Elena Koulkova?
O casal russo é originário de Perm, perto dos Montes Urais. Nascido em 1963, Sergey Skvortsov estudou no Instituto de Engenharia de Moscovo, enquanto a mulher, um ano mais nova, também completou o ensino superior na capital russa, mas na Universidade Estatal de Matemática Computacional. Casaram-se em 1994 e tiveram um filho, que também vive em Estocolmo. Elena Koulkova tem ainda outra filha, de outra relação.
Os dois mudaram-se para a Suécia no final da década de 90. Sergey Skvortsov trabalhou em várias empresas tecnológicas suecas. Embora estivessem a morar na Suécia, o casal adquiriu um apartamento em Moscovo, numa área em que habitualmente moram vários agentes secretos russos. Um dos seus vizinhos era Sergey Fedotov — acusado de envenenar o ex-espião Sergei Skripal, há quatro anos, em Londres. Em 2015, a casa passou depois para o nome da filha de Elena Koulkova.
A imprensa sueca, citada pelo Le Monde, indica que Elena Koulkova adquiriu nacionalidade sueca em janeiro de 2010. O marido conseguiu o mesmo dois anos e meio depois.
A descoberta deste caso surge numa altura em que as relações entre a Rússia e a Suécia atravessam um momento conturbado. Após a invasão da Ucrânia, Estocolmo quis entrar na NATO, algo que desagradou ao Kremlin. O escândalo está a ser encarado como mais um momento de tensão entre as duas nações.
Por sua vez, a porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros russo, Maria Zakharova, já reagiu ao caso, tendo denunciando o que diz ser a “histeria antirrussa do Ocidente”: “É uma campanha russofóbica que se tornou numa obsessão em relação à espionagem em alguns países“.