O antigo secretário pessoal do Papa emérito Bento XVI, o arcebispo alemão Georg Gänswein, falou esta segunda-feira sobre a morte do antigo chefe da Igreja Católica, afirmando que o pontificado do Papa alemão foi ensombrado pela ação do “diabo” e que os vários escândalos que vieram a público durante aqueles oito anos não estiveram na origem da renúncia de Bento XVI, em 2013.

Numa entrevista ao jornal italiano La Repubblica, citada pelo jornal Crux, especializado nas questões da Igreja Católica, Gänswein pronunciou-se sobre os vários problemas — incluindo a crise dos abusos sexuais de menores por elementos do clero ou os escândalos financeiros em torno do caso Vatileaks — que marcaram o pontificado de Bento XVI e atribui a responsabilidade ao demónio.

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“É óbvio, como diria o Papa Francisco, que o mau da fita, o maléfico, o demónio, não dorme”, disse o arcebispo alemão, referindo-se, por exemplo, aos documentos que foram passados aos jornalistas pelo antigo mordomo do Papa Bento XVI. “Fica claro que ele [o demónio] tenta sempre atingir onde os nervos estão expostos e fazer o maior estrago possível”, sublinhou Gänswein, acrescentando que sentiu a ação do demónio durante o pontificado. “E senti-o muito contra o Papa Bento XVI”, salientou.

O arcebispo alemão recordou ainda o momento histórico em que Bento XVI renunciou ao trono de São Pedro. Na qualidade de secretário pessoal, Gänswein soube da decisão de Joseph Ratzinger vários meses antes do anúncio, em setembro de 2012. A reação foi de choque, confessou. “Santo Padre, é impossível”, disse-lhe o secretário. “Podemos pensar em reduzir os seus compromissos, isso sim, mas abandonar, renunciar, isso é impossível.”

Mas, para Bento XVI, a questão não estava em aberto. “Como podes imaginar, eu pensei muito bem sobre esta escolha, refleti, rezei, lutei e agora comunico-te uma decisão tomada, não uma tese para debater. Não é uma quaestio disputanda, está decidido”, disse Bento XVI.

Gänswein admitiu que já tinha notado que Bento XVI estava em baixo, “fechado e pensativo”, desde o verão de 2012, mas assumiu que o Papa estava concentrado no seu livro sobre Jesus de Nazaré. “Quando ele me revelou a decisão, percebi que estava enganado: não era o livro que o preocupava, era a batalha interior da sua decisão.”

De acordo com o antigo secretário particular de Bento XVI, os escândalos que vieram a público durante o pontificado não influenciaram a decisão de renunciar. “Quem acredita que pode haver um pontificado calmo, está enganado”, disse Gänswein, acrescentando que Bento XVI foi claro quando os motivos da sua renúncia: “Para conduzir a Igreja hoje, é necessária força. De outro modo, não funciona.”

Gänswein também explicou que o escândalo do Vatileaks foi originado por documentos roubados, não da secretária do Papa, mas da sua própria secretária. “Infelizmente, percebi-o tarde demais”, disse o antigo assistente de Bento XVI.

O Papa emérito, nascido Joseph Ratzinger, morreu no último sábado aos 95 anos, após quase uma década na reforma. O funeral de Bento XVI realiza-se na quinta-feira de manhã, na Praça de São Pedro — e será a primeira vez na história que um Papa em funções vai presidir ao funeral do seu antecessor.