Depois de em dezembro os serviços secretos americanos terem revelado uma preocupação crescente pelo facto de, sobretudo na parte oriental da Ucrânia, o exército russo já ser predominantemente composto por militares a soldo do Grupo Wagner, eis que surgem notícias que dão conta do intensificar de operações da organização paramilitar noutras localizações, nomeadamente noutros países europeus e do continente africano.

De acordo com o Politico, que esta segunda-feira citou documentos e comunicações dos serviços de inteligência dos Estados Unidos, o grupo fundado por Yevgeny Prigozhin, que tem sido apontado como potencial sucessor de Putin e foi recentemente filmado a recrutar reclusos em prisões russas para combater na guerra no país vizinho, tem uma série de operações de influência em curso, em países como Sérvia, Bielorrússia, República Centro-Africana e Mali.

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O facto de o grupo paramilitar, que trabalha com vários governos mundiais, em projetos militares e políticos, ser cada vez mais preponderante para a estratégia russa e de ter capacidade de “moldar acontecimentos” em países com que tanto EUA como os seus aliados têm relações diplomáticas e comerciais, escreve o Politico, está a deixar a administração Biden cada vez mais preocupada.

Apesar de os serviços de inteligência americanos monitorizarem há anos a atividade da organização fundada por Prigozhin — o homem que se tornou íntimo de Putin há décadas, quando era proprietário de um restaurante de luxo em São Petersburgo, e que está há vários anos sob sanções dos EUA —, nos últimos meses a atenção concedida ao Grupo Wagner foi redobrada.

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O site americano descreve trocas de telegramas que espelham essa apreensão, contextualizada por Catrina Doxsee, diretora do Projeto de Ameaças Transnacionais da Centro de Estudos Estratégicos e Internacionais. “Tem havido um foco crescente nas relações da Rússia em África e na construção de uma esfera de influência que efetivamente já não existia desde o fim da Guerra Fria. O uso de empresas militares privadas, particularmente como o que temos visto em países com governança fraca, desafios de segurança contínuos e abundância de recursos naturais, abre caminho para que o [Grupo Wagner] possa firmar acordos de segurança ou facilitar futuras relações diplomáticas com esses países.”

“Temos um punhado de preocupações diferentes quando os vemos operar num lugar como África”, continua a especialista. “Uma grande implicação é a capacidade da Rússia de espalhar a sua própria projeção de poder e capacidades de inteligência — não só deslocando as capacidades de inteligência militar ocidental — mas também [através] da busca de novos direitos de base e de outras oportunidades que lhes dariam acesso a locais estrategicamente importantes”.

Com esta preocupação em mente, de que a esfera de influência pró-Rússia e pró-Putin continue a crescer nestes países pelas mãos do grupo paramilitar, a administração Biden implementou, no final de 2022, novos limites de exportação para o Grupo Wagner, dificultando assim ainda mais o acesso da organização a equipamentos com tecnologia americana.

O próximo passo deverá passar por considerar formalmente o grupo uma organização terrorista, processo de classificação a que o Parlamento Europeu também já deu início, em novembro — e a que o próprio Prigozhin reagiu, nas redes sociais, com a fotografia de uma marreta suja de sangue que, dizia, teria enviado para Estrasburgo, a dar conta da sua insatisfação aos eurodeputados.

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“O governo dos EUA está preocupado com a forma como o Grupo Wagner está a interferir na política interna dos países soberanos, violando os direitos humanos, e roubando-lhes riquezas minerais”, admitiu um alto funcionário da administração Biden ao Politico.

De acordo com esta fonte, para além da República Centro-Africana, onde a organização não governamental Human Rights Watch associa a forças russas e ao Grupo Wagner uma série de atropelos aos direitos humanos, incluindo tortura e execuções de civis, pelo menos desde 2019, também a situação no Mali preocupa cada vez mais os americanos. “Há provas significativas de que as duras táticas antiterroristas do Grupo Wagner em locais como o Mali estão a agravar a situação, criando mais oportunidades para a exploração extremista.”

Na Sérvia, onde a tensão continua a crescer junto à fronteira do Kosovo, com o Presidente Aleksandar Vucic a colocar o exército no mais elevado nível de prontidão naquela zona nos últimos dias de 2022, e na Bielorrússia, o intensificar das ações do Grupo Wagner também está a ser monitorizado de perto pela inteligência americana.

No início de dezembro, a organização anunciou que tinha inaugurado um “centro de amizade e cooperação” em Belgrado, para missão “reforçar e desenvolver relações amigáveis entre a Rússia e a Sérvia com a ajuda de ‘soft power'”.

Desde então, leu o Politico num dos telegramas classificados a que teve acesso, o grupo paramilitar já terá lançado várias operações de influência para contrariar “a atividade contra o regime de Putin por elementos da diáspora russa”.