Em 2015, o sueco Hannes Holm adaptou ao cinema o livro Um Homem Chamado Ove, do seu compatriota Fredrik Bakman, a história de um viúvo anti-social, rabugento e com intenções suicidas, cuja vida ganha um novo alento e é devolvido à comunidade da qual se tinha afastado, graças à simpática e barulhenta família de vizinhos iranianos que se muda para uma casa junto à sua. O filme foi um sucesso um pouco por toda a parte, ganhou um Prémio do Cinema Europeu e caiu até no goto do público dos EUA, recebendo nomeações para dois Óscares, incluindo o de Melhor Filme Estrangeiro (mas não ganhou nenhum).

[Veja o “trailer” do filme:]

Entre os muitos americanos a quem “Um Homem Chamado Ove” agradou, contavam-se Tom Hanks e a sua mulher Rita Wilson, que entraram em contacto com o produtor sueco da fita, Fredrik Wikstrom Nicastro, com a intenção de fazerem um “remake” passado nos EUA e protagonizado por Hanks. E eis assim “Um Homem Chamado Otto”, realizado por Marc Forster, que transfere a história para Pittsburgh, na Pensilvânia, e mexe muito pouco no enredo original. Uma das alterações tem a ver com a família que se instala na casa oposta à de Otto Anderson, o protagonista, que é agora latina. A outra, é o tom emocional, muito menos sóbrio e mais sentimental. Bastante mais.

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[Veja uma entrevista com Tom Hanks:]

Só aparentemente é que Tom Hanks está a interpretar uma personagem que vai a contrapelo das que costuma incarnar e sobre as quais alicerçou a sua fama, e a contradizer a sua imagem cinematográfica positiva e afável de “Mr. Nice Guy” e de “homem médio” de personalidade e comportamento exemplares. Quando o intenso calor humano que se desprende da família liderada pela tagarela e muito grávida Marisol (a hiperativa e divertida Mariana Treviño) derrete definitivamente a camada de resmunguice, misantropia e dor pela morte da mulher que cobria Otto, lá temos o Tom Hanks de sempre. E agora encalhado num “remake” lacrimejante de um filme que só a reticência nórdica impediu de ser sentimentalão como este.

[Veja uma entrevista com o realizador Marc Forster:]

“Um Homem Chamado Otto” apresenta a única curiosidade do jovem Otto ser interpretado pelo filho de Tom Hanks, Truman. E nem aqui podia faltar a notinha “woke”, dada pelo jovem trans que foi aluno da falecida mulher de Otto e que este vai ajudar a esta altura. O resto, é um assédio de duas horas, cerrado e crescentemente descarado, aos sacos lacrimais do espectador, já que o realizador Marc Forster cumpre rigorosamente com o caderno de encargos das convenções choramingonas, não se esquecendo de fazer o respetivo risquinho em nenhum dos quadradinhos do respetivo formulário. O mesmo é dizer que “Um Homem Chamado Otto” é um daqueles filmes de sonho da indústria dos lenços de papel.