Um capitão da fragata italiano foi condenado a 30 anos de prisão por ter espiado a favor da Rússia em troco de 5.000 euros. Walter Biot, natural de Pomezia, nos arredores de Roma, foi condenado a uma pena efetiva esta quinta-feira, quase dois anos depois de ter sido detido por suspeitas de espionagem. A mulher, Claudia Carbonara, continua a insistir que o marido nunca colocaria em xeque a segurança nacional e que os documentos não seriam tão críticos como a acusação afirma: “Ele não é estúpido”.

Em março de 2021, Walter Biot era responsável por desenvolver a política de segurança nacional e tinha funções diplomáticas no Ministério da Defesa do governo italiano. O cargo dava-lhe acesso a documentos confidenciais de importância nacional e a informações secretas relativas a operações da NATO (Organização do Tratado do Atlântico Norte). Recebia 3.000 euros mensais.

O salário dele e o da mulher, que é psicoterapeuta, não bastava para pagar o empréstimo bancário que contraiu para comprar uma casa e para suportar uma família com quatro cães e quatro filhos. Dois deles já são maiores de idade — um homem de 24 anos e uma mulher cuja idade não foi revelado —mas ambos têm trabalhos em part-time (ele trabalha na jardinagem e a limpar piscinas) e até as suas práticas desportivas são pagas pelos pais.

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Terão sido essas dificuldades económicas que motivaram Walter Biot a aceitar a proposta de um funcionário da embaixada russa em Itália: recebia 5.000 euros se enviasse para a embaixada os documentos secretos a que tinha acesso. Claudia Carbonara assumiu que recusaria cortar nas despesas com os filhos apesar de os salários de ambos não bastar para suportar as despesas de todo o agregado familiar, mas assegura que não sabia dos planos do marido e que o teria dissuadido se tivesse conhecimento deles.

Walter Biot acabou mesmo por entregar um cartão de memória com 181 fotografias de documentos e imagens, quase todos sobre a NATO e alguns sobre os conflitos com militantes islâmicos na Líbia e na Síria. Quarenta e sete documentos tinham a indicação de que continham “informação secreta” e 57 incluíam dados “confidenciais”.

Alguns dos documentos fotografados pelo capitão da fragata “eram documentos secretos altamente reservados da NATO”. E um era mesmo “ultrassecreto”, especificou esta quinta-feira o procurador responsável pelo caso: “Biot vendeu documentos sigilosos e demonstrou um elevado grau de infidelidade e capacidade para o crime”.

Mas não tardou para que as autoridades italianas começassem a investigar as movimentações do capitão da fragata italiano. Nem para que os investigadores encontrassem imagens de câmaras de vigilância que mostram Walter Biot a tirar fotografias com o telemóvel aos documentos — fotografias essas que depois eram entregues à embaixada russa em Itália.

Walter Biot foi apanhado em flagrante a entregar o cartão com documentos — e julga-se até que pode ter entregue mais antes de ter entrado na mira dos investigadores. Na altura, dois funcionários da embaixada foram expulsos de Itália por envolvimento no caso de espionagem. O Ministério Público pediu pena perpétua para o capitão, mas o juiz anunciou uma pena de 30 anos. Ou seja, até Walter Biot completar 88 anos.