A transportadora aérea Ryanair lançou esta segunda-feira uma petição para solicitar à Comissão Europeia que intervenha para “proteger os passageiros” durante greves aéreas em França, exigindo serviços mínimos e gestão externa de voos, embora sem divulgar o impacto financeiro.
Hoje, lançamos uma petição para chegar a um milhão de assinaturas para que a Comissão Europeia intervenha e tente proteger a liberdade de circulação dentro da União Europeia, para que as pessoas que não voam de e para França […] não sejam afetadas”, anunciou em conferência de imprensa, em Bruxelas, o presidente executivo da Ryanair, Eddie Wilson.
“A greve é permitida, mas não devia ser permitido minar a liberdade de circulação dos cidadãos europeus e a Comissão [Europeia] tem de interferir e fazer algo a esse respeito”, acrescentou.
A posição surge numa altura em que a Ryanair salienta que as greves do setor aeronáutico (nomeadamente dos controladores aéreos) em França já atrasaram ou levaram ao cancelamento de voos de mais de um milhão de passageiros aéreos, principalmente de sobrevoo em território francês.
Alegando não existirem regulamentos europeus para proteger os voos sobre o espaço aéreo francês durante as greves atuais, a companhia aérea irlandesa de baixo custo pede que o executivo comunitário recorra a leis de serviços mínimos para salvaguardar as operações de sobrevoo, que permita a outros controladores aéreos europeus gerir voos sobre França e ainda que faça com que os sindicatos franceses se comprometam com arbitragens vinculativas antes de convocarem greves.
França enfrenta atualmente várias ações de greve convocadas pelos sindicatos — não só do setor aéreo, como outros — em protesto contra as reformas das pensões do Presidente francês, Emmanuel Macron, para aumentar a idade mínima de reforma de 62 anos para 64 anos.
Esta situação afeta a aviação no país, o que já levou a Autoridade Francesa de Aviação Civil a pedir às companhias aéreas que reduzam os seus horários de voo.
Dados da Ryanair revelam que, em 14 ações de greve nas últimas oito semanas, os passageiros afetados por esta situação já ultrapassam os que enfrentaram cenários idênticos em 2022, com 80% dos voos atuais impactados a serem de sobrevoo em França, como de e para o Reino Unido, Portugal, Espanha, Itália e Grécia.
Segundo a Ryanair, 350 voos de ou para Portugal foram afetados este ano, num total de 62.500 passageiros com viagens atrasadas ou canceladas, já que as leis francesas apenas salvaguardam os voos internos.
Questionado pela Lusa na conferência de imprensa sobre o impacto financeiro destas greves, Eddie Wilson escusou-se a responder, indicando que “não se trata realmente do dinheiro”, mas antes “da perturbação das operações”.
Além disso, “do ponto de vista ambiental, as companhias aéreas estão a voar em rotas mais longas” e a usar mais combustível, o que leva a mais emissões poluentes, num acréscimo de 4.000 toneladas extra de dióxido de carbono, assinalou.
Eddie Wilson não apontou dados sobre indemnizações aos passageiros, quando questionado se estas greves são consideradas circunstâncias extraordinárias, o que iliba a companhia aérea de indemnizar ao abrigo das regras europeias.
Teremos [de usar] combustível extra, teremos de pagar pessoas em determinadas situações e, noutras situações, são circunstâncias extraordinárias”, referiu, sem especificar.
Já quanto às estimativas sobre o próximo verão, depois de uma temporada alta sob pressão no ano passado também devido a greves e a falta de pessoal, Eddie Wilson adiantou que a situação atual “não vai ajudar porque quando se tem um impacto como este no inverno, quando há mais aeronaves, […] chega-se ao verão e não há capacidade para tal”.
A petição agora lançada intitula-se “Proteger os passageiros, manter os céus da União Europeia abertos“.