O ex-Presidente norte-americano Donald Trump já reagiu à acusação formal da justiça dos EUA no âmbito do caso de alegados subornos à antiga atriz pornográfica Stormy Daniels. Através de um comunicado publicado na rede social Truth Social, Trump disse que este é um caso de “perseguição política e interferência eleitoral ao mais alto nível da história”. E não poupou o Presidente dos EUA, Joe Biden.
“Nunca aconteceu antes na História da nossa nação. Os democratas mentiram repetidamente ao longo das décadas, incluindo ao espiar na minha campanha, mas usar o sistema judicial como arma para punir um oponente político, que acontece ser um Presidente dos Estados Unidos e é de longe o principal candidato republicano à Presidência, nunca aconteceu antes”, afirmou.
O antigo Presidente dos EUA, que garantiu ser inocente, acusou os “democratas de esquerda radicais” de estarem envolvidos numa “caça às bruxas para destruir o movimento Make America Great Again”, mas garantiu que a estratégia não vai funcionar. “Acredito que a caça às bruxas vai fazer ricochete em Joe Biden”, sublinhou.
Os democratas mentiram, enganaram e roubaram na sua obsessão de tentar ‘apanhar o Trump’, mas agora fizeram o impensável: indiciaram uma pessoa completamente inocente num ato flagrante de interferência eleitoral”, afirmou.
Trump também deixou críticas ao procurador distrital de Manhattan, Alvin Bragg, que descreveu como uma “desgraça”. “Em vez de parar a onda de crime sem precedentes na cidade de Nova Iorque, está a fazer o trabalho sujo de Joe Biden“, acrescentou.
Numa outra publicação nas redes sociais, Trump disse ainda que este é um ataque nunca antes visto aos EUA. Na sua ótica, o país está em declínio e a transformar-se num país de terceiro mundo.
Democratas com “fé no sistema judicial”
A notícia já está a causar ondas de choque na política norte-americana. Do lado dos democratas, a nota é comum: a acusação de Trump significa que ninguém está acima da Justiça.
O democrata Adam Schiff, que liderou a acusação do primeiro impeachment de Trump na Câmara dos Representantes, mostrou-se satisfeito: “A acusação de um ex-Presidente não tem precedentes, mas o mesmo é verdade para a conduta ilegal de Trump. Uma nação de leis deve responsabilizar os ricos e poderosos, mesmo quando têm altos cargos. Especialmente quando os têm. Fazer o contrário não é uma democracia”.
No Twitter, o democrata californiano Eric Swalwell disse que este é um dia sombrio para a América mas também o momento de “ter fé no sistema judicial”. Já o Partido Democrata apontou a mira política ao partido rival, dizendo que “aconteça o que acontecer no processo legal, é óbvio que o Partido Republicano continua firmemente na mão de Donald Trump e dos republicanos do MAGA”, como se lê num comunicado da sua porta-voz, Ammar Moussa.
“Vamos continuar a responsabilizar Trump e todos os candidatos republicanos pela agenda extrema do MAGA, que incluir a proibição do aborto, cortar a Segurança Social e o Medicare, e diminuir eleições livres e justas”.
Republicanos reagem. Mike Pence fala em “ultraje”
Do lado dos republicanos, a reação contrária, com muito foco na ideia de perseguição política. Mike Pence, que foi vice-Presidente dos Estados Unidos durante o mandato de Donald Trump, considerou que a acusação ao ex-Presidente é “um ultraje” e que, para milhões de americanos, parece “nada mais do que uma acusação política”.
As declarações foram prestadas numa entrevista à CNN que já estava agendada antes de a acusação ter sido conhecida. Mike Pence disse considerar que “o povo americano vai olhar para isto e vê-lo como mais um exemplo da criminalização da política neste país”. É “um desserviço” para os Estados Unidos, afirmou.
O senador Linsey Graham disse já ter falado com Trump ao telefone, durante uns minutos, e tê-lo achado “perturbado e desiludido, mas muito calmo”. O ex-President terá dito ao senador que os democratas estão a usar a lei como uma “arma” contra si, tese com que Graham concordou, cita o Washington Post.
Graham terá ainda aconselhado Trump a manter-se calmo e combater, dentro do sistema, a acusação, acreditando que “sendo escrutinado” este caso vai “cair”. “Foque-se na sua campanha e no caso legal”, disse a Trump.
Um dos filhos de Trump, Donald Jr., alinhou no mesmo discurso, dizendo num vídeo mostrado na Newsmax que a “América que conhecem e amam morreu”. “É por isso que temos de lutar para a trazer de volta. Não vai acontecer se não tivermos verdadeiros lutadores aqui”. Outro, Eric Trump, disse que esta é uma conduta de terceiro mundo e o ataque “oportunista a um oponente político em ano de campanha”.
O republicano Jim Jordan, líder do comité judiciário da Câmara dos Representantes, pronunciou-se numa palavra, no Twitter: “Escandaloso”.
Houve alguns apelos a protestos, por exemplo no programa online do antigo estratega de Trump Steve Bannon, “War Room”, onde o antigo membro da administração Trump Sebastian Gorka pediu protestos, mas “pacíficos”, cita o The Washington Post. “Vamos ver quem são os políticos, os golpistas, e os patriotas. Este é um tempo de clarificação”.
Trump está a ser acusado de pagar pelo silêncio da ex-atriz pornográfica Stormy Daniels sobre o envolvimento sexual entre os dois. O escândalo sobre o alegado suborno de 130 mil dólares (cerca de 120 mil euros) à ex-atriz pornográfica Stormy Daniels – intermediado pelo ex-advogado de Trump, Michael Cohen – deu agora origem a uma acusação passível de sentença de pena de prisão.
O milionário republicano torna-se, assim, o primeiro antigo Presidente dos EUA a enfrentar uma acusação criminal. No entanto, o facto de ser acusado, ou mesmo condenado, não significa automaticamente que deixa de poder candidatar-se às eleições presidenciais norte-americanas ou, em primeiro lugar, à nomeação do Partido Republicano.
Na semana passada Trump já tinha avisado para a sua iminente detenção no caso de Stormy Daniels, apelando aos seus apoiantes para se manifestarem publicamente nas ruas de Nova Iorque: “Protestem, vamos recuperar o controlo da nossa nação!”, atirou. Ao saber da acusação formal o republicano não apelou, para já, a uma mobilização.
[Já saiu: pode ouvir aqui o terceiro episódio da série em podcast “O Sargento na Cela 7”. E ouça aqui o primeiro episódio e aqui o segundo episódio. É a história de António Lobato, o português que mais tempo esteve preso na guerra em África.]