Uma família argentina que morava na Eslovénia encontra-se a aguardar julgamento depois de os elementos que constituem o casal, Maria Mayer e Ludwig Gisch, terem sido acusados de serem, afinal, espiões russos. Eram descritos na comunidade onde moravam como “simpáticos” e “normais” e não levantavam qualquer suspeita. Caso se confirme a acusação, o caso será o primeiro a ser tornado público desde 2010, ano em que os EUA prenderam 10 agentes russos.

Os vizinhos falavam de Maria Mayer e Ludwig Gisch quase sempre da mesma forma: amigáveis, mas não arrogantes e curiosos, mas não persistentes, como escreve o The Guardian. Chegaram a Liubliana, a capital eslovena, em 2017 acompanhados pelos dois filhos. Ela tinha uma galeria de arte e ele uma empresa de tecnologia, e contavam aos novos amigos que tinham deixado o país natal em busca de segurança. Falavam com as crianças em inglês e espanhol.

As primeiras notícias sobre detenções de uma dupla ligada aos serviços de informação da Rússia surgiram na imprensa eslovena em janeiro. Agora, o próprio governo da Eslovénia, através da ministra dos Negócios Estrangeiros, Tanja Fajon, confirmou que o casal não era uma família comum, mas espiões. Ao The Guardian, fontes próximas ao processo em Liubliana explicaram mesmo que se tratam de agentes de elite, conhecidos como “ilegais”. “Os suspeitos são membros de um serviço de inteligência estrangeiro, que utilizaram documentos de identidade estrangeiros obtidos ilegalmente para viver e trabalhar na Eslovénia sob identidades falsas e recolher informações secretamente”, disse um porta-voz da polícia local, citado pelo diário britânico.

Os serviços de Informação da Eslovénia, contactados pela Reuters, recusaram prestar declarações, alegando que o assunto é confidencial. À agência de notícias, relembraram que partilham constantemente informação com todas as forças de segurança do país, tal como com as autoridades e serviços da União Europeia e da NATO.

Segundo uma fonte próxima ao processo citada pelo do The Guardian, Moscovo não só terá assumido que o casal fazia parte da sua equipa de agentes, como também está a tentar negociar uma troca de prisioneiros para colocar a salvo Maria e Ludwig. Caso sejam condenados, enfrentam uma pena de oito anos de prisão. Os filhos foram entregues a uma instituição, logo na altura da detenção.

Com a invasão da Ucrânia pela Rússia, vários governos ocidentais expulsaram centenas de espiões russos que trabalhavam em embaixadas russas sob cobertura diplomática. Moscovo recorre, não poucas vezes, a agentes “ilegais” com o objetivo de contornar a apertada vigilância a que estão sujeitos os funcionários diplomático – e assim evitar denunciar as suas fontes. Estes elementos costumam ser responsáveis pelos pagamentos a outros espiões. Esta devia ser a função de Maria e Ludwig: conta o The Guardian que, num escritório do “casal”, foi descoberta uma quantia de dinheiro tão grande que “demorou horas para contar”.

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