O Chega cansou-se de estar ao lado daquilo a que chama “direita maricas” e afinou a narrativa numa altura em que o PSD tem aumentado a pressão ao partido de Ventura (“racistas”, “imaturos” e “populistas”), empurrado por Marcelo Rebelo de Sousa (“neste momento não há uma alternativa óbvia”) e pela certeza de que não conta com a IL se o Chega estiver metido ao barulho.
Perante um cenário destes e depois de Luís Montenegro não ter desfeito o tabu, mas ter reiterado, numa entrevista à CNN, que o partido não fará acordos de governo ou de incidência parlamentar com “políticas ou políticos racistas ou xenófobos, oportunistas ou populistas”, André Ventura aproveitou as jornadas parlamentares, em Évora, para se distanciar dos sociais-democratas: “O PSD decidiu prostituir-se ao PS em vez de aceitar um entendimento à direita.”
O líder do partido faz questão de partir a direita em “duas partes“: PSD/IL e Chega. E à boleia do anúncio de António Costa, relativamente às pensões, atacou os adversários de direita por, disse, acreditarem que “quando há uma crise podemos ir buscar a quem trabalhou a vida toda e a quem tem pensões miseráveis”. O Chega, realçou, é a “outra direita, a única oposição do PS, que tem uma regra sagrada: nunca vamos cortar pensões em Portugal”.
“Luís Montenegro, sempre que fala, fala do Chega, isso devia-nos orgulhar”, referiu Ventura perante o grupo parlamentar do Chega, justificando que o líder social-democrata diz que tem um “programa para o país e contra o PS”, que está “concentradíssimo no PS”, mas que está constantemente a focar-se no Chega.
Deu o exemplo da entrevista à CNN e a forma como Montenegro “termina a dizer que quer saber se o PS vai dar apoio a governo minoritário do PSD” e voltou a frisar que em causa está o facto de o PSD preferir governar com o PS do que com o Chega.
“Isto é a direita mais maricas que tivemos nos últimos tempos”, atacou, distanciando-se desse posicionamento: “Nós somos essa direita que não está para mariquices e não há espaço para voltar para trás: estamos a meio do caminho e só há duas direções: ir até ao fim e assumir consequências ou a que voltar para trás e quer fugir; e nunca fui de fugir.”
Aos olhos de Ventura, a tese que está a ser construída tem como personagem central o Presidente da República e prende-se com uma “clara combinação” com o PSD para excluir o Chega da equação. “Podem não querer o Chega no Governo, mas a vida é o que é e não somos nós que decidimos o que acontece”, disse, reiterando a ideia de que o desafio da próxima legistatura é mesmo “liderar a oposição” e o partido ser “capaz de superar o PSD”.
“Não estamos a lutar para ser membros do governo ou o segundo partido da coligação, nós estamos, vamos e queremos lutar para ser o partido que vai liderar a coligação da direita em Portugal e a oposição ao PS”, insistiu o líder do Chega, admitindo que é difícil e defendendo que, num olhar para o passado, muitas das conquistas dos últimos anos também eram consideradas impossíveis.
Com o foco numa das questões mais polémicas dos últimos tempos e que marca as jornadas do Chega, a crise na Habitação e o pacote apresentado pelo Governo, André Ventura apelidou as medidas como o “maior ataque à classe média desde o PREC” e deixou claro que era preciso “lutar” e “não agachar como fazem a IL e o PSD”.
“O que esperamos do Presidente da República, do PSD e da Iniciativa Liberal é que sejam coerentes com o que defendem. Este pacote é para chumbar, se não chumbar na Assembleia da República, Presidente da República tem de ser muito claro no seu veto porque disse que era uma lei-cartaz e uma mera propaganda… se não vetar esta lei torna-se um Presidente-cartaz e um Presidente de mera propaganda”, apontou o líder do Chega.
Ventura alertou para a necessidade de o Chega “não poder contar com ninguém na direita ou na esquerda” e que, por isso, é o “único partido de oposição”. Disse-o várias vezes, de diversas formas e lembrou até que militou e foi dirigente no PSD para dizer que muitos dos que estão no seu lugar estarão “envergonhados perante um PSD que não consegue descolar do PS, que não consegue distinguir-se do PS e que não consegue perceber que os tempos mudaram e que é preciso uma mudança estrutural”.
“Talvez durante muito tempo tenhamos pensado que PSD um dia podia ser parceiro nessa alternativa de Governo e nessa mudança de paradigma. Da minha parte cada vez estou mais convencido de que essa alternativa já não pode contar nem com sociais-democratas nem com liberais, temos mesmo de liderar a oposição em Portugal e as eleições para governar Portugal”, concluiu o líder do Chega. Aos poucos, Ventura muda a estratégia: não admite ser o afastado e começa a afastar-se. Mais e mais.