Ainda não foi desta que Luís Montenegro disse taxativamente que jamais fará qualquer acordo com o partido de André Ventura. No entanto, o líder social-democrata aproveitou uma entrevista concedida à CNN para reiterar que o partido não fará acordos de governo ou de incidência parlamentar com “políticas ou políticos racistas ou xenófobos, oportunistas ou populistas”.

Sem nunca nomear o Chega, Montenegro repetiu o que vem dizendo desde o congresso que o entronizou como líder, em julho de 2022. “Quero garantir uma coisa aos portugueses: não vamos ter no Governo nem políticas nem políticos racistas, nem xenófobos, nem oportunistas, nem populistas. Ou apoio político, se quiser”, repetiu o presidente do PSD nesta entrevista.

Nessa reunião magna, o líder social-democrata já tinha deixado claro que nunca se associaria a “qualquer política xenófoba ou racista” e que nunca seria líder de um governo que quebrasse esses princípios. Recentemente, em entrevista à SIC, a 23 de fevereiro, Montenegro garantiu que não pactuaria com “partidos que tenham políticas xenófobas e racistas”. Também nessa altura, o social-democrata garantiu que antes das eleições esclareceria em definitivo se faria ou não alianças com o Chega.

Desta vez, na entrevista conduzida pela jornalista Maria João Avillez e transmitida pela CNN, Montenegro carrega no tom, mas continua sem ser definitivo em relação a uma eventual aliança com o Chega. “Não quero no meu governo imaturidade, nem irresponsabilidade”, acrescentou.

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Inicialmente, as palavras de Montenegro foram interpretadas como sendo a rejeição formal de qualquer acordo com o partido de André Ventura. No entanto, segundo apurou o Observador junto de elementos da direção do PSD, é abusivo concluir que o líder do PSD fechou por completo a porta a um entendimento com o Chega. O subtexto da entrevista de Montenegro é outro: ou Ventura muda de rumo, ou fica definitivamente de fora da solução.

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Além disso, Montenegro quis também deixar um desafio ao PS: estarão ou não os socialistas disponíveis para apoiar um eventual governo minoritário do PSD e assim garantir que o partido liderado por Montenegro fica em perfeitas condições de dispensar o Chega — uma estratégia já ensaiada por Rui Rio durante a última campanha para as legislativas e à qual António Costa e o PS nunca responderam taxativamente.

Nesta mesma entrevista, que foi transmitida na íntegra esta noite, às 22 horas, o líder social-democrata enviou ainda um recado a Marcelo Rebelo de Sousa, que tem usado as sondagens para ir defendendo que não existe uma alternativa clara à maioria socialista. Numa semana marcada pelo bate boca indireto entre os dois, Montenegro usou a força das sondagens contra o próprio Presidente.

“Há uma alternativa e eu sou a alternativa, com o meu partido, o PSD. Isto é tão claro que, mesmo o argumento que é usado e que vale o que vale, o das sondagens, induz precisamente que essa alternativa existe”, disse Montenegro.

Na entrevista frisou ainda que não quer ganhar as eleições legislativas “à boleia ou com a ajuda do Presidente da República”. “Eu não quero que o Presidente da República seja nem um ajudante nem um óbice a este projeto [de construção de alternativa]”, disse. Quando questionado sobre se entende que o Presidente tem sido um obstáculo, Montenegro preferiu classificar Marcelo como “um árbitro da vida política”, avisando que no dia “em que for parte do debate partidário está subvertido o espírito da Constituição”.

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Durante a entrevista, Luís Montenegro foi ainda questionado sobre as eleições europeias e se está a ponderar escolher Rui Moreira como candidato. Montenegro disse que o nome “não está escolhido” mas não escondeu “a consideração grande” que tem pelo autarca do Porto. “Creio que o doutor Rui Moreia pode desempenhar várias funções no país e nós, PSD, também podemos desempenhar a função de liderar a Câmara Municipal do Porto.”

(Atualizada com mais informação às 23h55)