O Presidente da República disse esta quarta-feira que “é preciso ter calma, não dar o corpo pela alma”, rodeado por comunicação social, junto ao Palácio de Belém, em Lisboa, e filmado pelas televisões enquanto comia um gelado.

Questionado se esse gelado não poderia fazer arrefecer ainda mais as suas relações com São Bento, Marcelo Rebelo de Sousa respondeu aos jornalistas: “Por que é que são tão curiosos? É preciso ter calma, não dar o corpo pela alma, já dizia o Pedro Abrunhosa”.

“[As pessoas] não têm de estar preocupadas. Eu a comer um gelado Santini, as pessoas estão preocupadas? Por amor de Deus”, considerou.

Cerca de uma hora antes, quando saiu a pé do Palácio de Belém pela Calçada da Ajuda para ir jantar num restaurante ali perto, interpelado pelos jornalistas, o Presidente da República prometeu que irá falar sobre a situação política do país, mas não esta quarta-feira.

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“Certamente que eu terei oportunidade de dizer aos portugueses o que é que penso, mas não agora, não agora, hoje não”, declarou.

Depois de jantar, Marcelo Rebelo de Sousa continuou sem indicar ao certo quando é que irá falar: “Não sei, um destes dias, amanhã [quinta-feira] ou assim”.

“Eu agora vou comer um gelado ali ao Santini, e depois vou trabalhar, que tenho ali imensos diplomas”, acrescentou.

Já de gelado na mão, o Presidente da República falou da sua agenda dos próximos dias, referindo que irá “partir muito cedo na sexta-feira” para Londres, para a coroação do monarca do Reino Unido, Carlos III, que será no sábado.

“Depois, sábado é até relativamente tarde. Sábado está cá o Presidente da Colômbia, é recebido pelo primeiro-ministro, depois janta comigo — portanto, é sair de um para o outro. E depois ainda recebo o Presidente da Colômbia no domingo, vejam bem, que é uma loucura”, prosseguiu.

No início da próxima semana estará na entrega de um prémio ao secretário-geral das Organização das Nações Unidas (ONU), António Guterres, em Espanha, e depois no Parlamento Europeu, até quarta-feira: “Só paro cá já não sei quando, dia 10”.

Quando lhe perguntaram se quinta-feira desta semana é o único dia livre que tem para falar ao país, contrapôs: “Há mais dias, há mais dias”.

Marcelo Rebelo de Sousa recusou que o seu silêncio seja uma estratégia, afirmando que “não há estratégia nenhuma”, ou que seja estranho: “Não, nada estranho. Quando é que falei, a última vez? Falei há três ou quatro dias, já não sei”.

O chefe de Estado também não quis fazer analogias entre os sabores do seu gelado, “limão, framboesa e chocolate”, e a situação política nacional ou as opções que tem em cima da mesa, depois de o primeiro-ministro ter decidido manter João Galamba como ministro das Infraestruturas, contra a sua opinião.

Na terça-feira à noite, Marcelo Rebelo de Sousa manifestou a sua discordância em relação a essa decisão de António Costa, afirmando através de uma nota escrita que “discorda da posição deste quanto à leitura política dos factos e quanto à perceção deles resultante por parte dos portugueses, no que respeita ao prestígio das instituições que os regem” e realçando que “não pode exonerar um membro do Governo sem ser por proposta do primeiro-ministro”.