O empresário Manuel Fino, que ficou conhecido por ser acionista da Cimpor e por ter participado na guerra de poder do BCP (com crédito da Caixa) morreu esta quinta-feira. A informação foi avançada pelo Jornal Económico e pelo Eco, que cita fontes da família. O velório é esta quinta-feira, em Cascais. O corpo seguirá para Portalegre, onde a família se estabeleceu quando ainda era dona de uma empresa de lanifícios. Manuel Fino nasceu na Covilhã.

O empresário acabou na falência, como garantiu o filho na comissão de inquérito da Caixa, por ter usado crédito da Caixa Geral de Depósitos para intervir na guerra de poder do BCP – colocando-se ao lado de Paulo Teixeira Pinto, contra Jardim Gonçalves.

Antes de entrar neste conflito, Manuel Fino tornou-se acionista de referência da Cimpor com dinheiro emprestado pela Caixa e pelo BCP, juntando-se à Teixeira Duarte num núcleo de referência que conseguiu controlar a gestão da cimenteira durante anos sem ter uma maioria do capital durante um período no qual a Cimpor foi alvo de várias ofertas públicas de aquisição hostis. Na primeira década do século XXI, o empresário ainda foi o maior acionista da construtora Soares da Costa, empresa que está em pré-falência há vários anos, que vendeu já depois do setor e da empresa se encontrarem numa situação de grande debilidade financeira com a falta de encomendas e projetos não pagos.

Há mais na Caixa do que imagina. Oito negócios polémicos do banco do Estado

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

Com a crise de 2008 e a desvalorização da carteira de ações que tinha dado como garantia dos empréstimos bancários, Manuel Fino começou a perder músculo financeiro e em 2009 entregou temporariamente metade da sua participação na Cimpor à Caixa com um acordo de recompra que foi muito criticado politicamente por ser visto como um favor ao empresário. A Investifino ficou a dever à Caixa 259 milhões de euros e, por isso, o empresário teve de entregar as ações da Cimpor à Caixa.

A Investifino nunca conseguiu recomprar essa posição e acabou por ser obrigada a vender os últimos 10% que detinha na Cimpor na oferta lançada pelos grupos brasileiros Camargo Correia e Votorantim. A ordem de venda veio dos bancos que detinham a penhora sobre as ações, e o encaixe foi tudo usado para pagar esta dívida bancária que só à Caixa Geral de Depósitos era de 259 milhões de euros. O seu empréstimo foi uma das operações que suscitou escrutínio na auditoria aos grandes devedores do banco público, divulgada em 2019.

Caixa. Como foram decididos os negócios mais ruinosos para o banco do Estado

Manuel Fino é um dos empresários, a par com Joe Berardo, que justifica as dificuldades financeiras com o investimento feito em 2007 na guerra de poder do BCP, comprando ações a um preço inflacionado com crédito bancário, que nunca viram o seu valor recuperar.