O Presidente da Assembleia da República diz que prefere que os extremos, como o partido Chega, “estejam representados na Assembleia, em vez de estarem fora do Parlamento a manifestar-se nas ruas”. Numa entrevista ao jornal geopolítico francês Le Grand Continent, Augusto Santos Silva diz que os extremos devem ser combatidos “sem hesitação”, mas que é “positivo” estarem no Parlamento porque permite “institucionalizar a representação daqueles que, por várias razões, se possam sentir alienados ou distantes” da política. “Eles devem ser ouvidos”, atira.

A segunda figura do Estado entende que os populismos e os partidos extremistas não podem ser encaradas da mesma forma em toda a Europa e variam de país para país. Sobre Portugal, classifica o Chega da seguinte forma: “É sobretudo um preconceito contra a minoria cigana”.

Santos Silva afasta, para já, criação de novas sanções. Partidos “condenam” comportamentos do Chega

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Olhando para o panorama internacional, o antigo ministro do PS diz estar preocupado com os ataques cada vez mais frequentes à democracia. Dando como exemplo fenómenos como o ataque ao Capitólio ou o referendo constitucional da Turquia, Santos Silva diz mesmo que “o Parlamento”, enquanto instituição, “está em perigo um pouco por todo o mundo”.

Num apelo à vigilância, o PAR afirma que os “democratas” devem combater os extremismos e defende uma alternância de poder ao centro. Para isso, Santos Silva diz que os polos democráticos tradicionais do Ocidente – a social-democracia, o liberalismo e a democracia cristã – devem delinear “o que os diferencia”, mas também “o que os une”.

A menos de um ano dos 50 anos da Revolução de Abril, Santos Silva traça um balanço positivo do último meio século. “Quando tinha 15 anos, não podíamos ler os livros que queríamos; não podíamos ver os filmes que queríamos. Não éramos livres – não haviam associações estudantis ou partidos políticos. Para os meus filhos, a liberdade é o ar que respiram. Eles nem sequer o questionam”.

Para o futuro, aponta três desafios que requerem respostas: “as desigualdades sociais”, sobretudo o combate à discriminação, “os efeitos das alterações climáticas”, e o “inverno demográfico” resultante da desertificação do interior. “Temos de absorver novos desafios e problemas (…) para um social-democrata, esta é a base”, disse.