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Morreu esta segunda-feira aos 86 anos de idade o ex-primeiro-ministro italiano Silvio Berlusconi. A notícia está a ser avançada pela generalidade dos meios de comunicação italianos, que detalham que Berlusconi morreu às 9h30 desta manhã (8h30 em Lisboa) no hospital San Raffaele, em Milão, onde estava internado desde a última sexta-feira.
Berlusconi tinha sido internado numa unidade de cuidados intensivos no início de abril deste ano, tendo-lhe sido diagnosticada, na altura, uma leucemia. Na última sexta-feira, um mês depois de ter tido alta, Berlusconi voltou a ser internado no hospital de San Raffaele, onde se encontrava ainda esta segunda-feira, na sequência de uma infeção pulmonar.
O funeral, com honras de estado, está agendado para quarta-feira e vai decorrer na Catedral de Milão.
Nascido em 1936, Silvio Berlusconi foi uma das figuras centrais da Itália contemporânea — não só na política, mas também no desporto e na comunicação social.
Berlusconi fundou em 1993 o partido Força Itália, de centro-direita. No ano seguinte, foi eleito primeiro-ministro pela primeira vez, abrindo, nas palavras da agência italiana de notícias Ansa, uma “nova era política” no país. A primeira experiência governativa de Berlusconi foi breve, terminando no ano seguinte e remetendo-o para a oposição, onde se afirmou como um político hábil.
Em 2001, Berlusconi voltou ao cargo de primeiro-ministro, para um mandato de cinco anos que marcou a política italiana: apesar do grande apoio popular, Berlusconi enfrentou naquele período um conjunto de acusações judiciais, incluindo, como recorda a Ansa, de ter estado envolvido na célebre loja maçónica P2.
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Berlusconi voltaria a ser primeiro-ministro de Itália entre 2008 e 2011, não conseguindo acabar o mandato devido à crise económica que se abateu sobre a Europa naquela altura.
O antigo primeiro-ministro italiano foi também investigado por evasão fiscal (chegando mesmo a ser condenado) e, no caso mais célebre, pelas famosas orgias “Bunga Bunga” que organizou. Na sequência da condenação, Berlusconi ficou também banido de cargos públicos — mas nunca deixou de ser considerado o kingmaker da política italiana.
No plano empresarial, Berlusconi fundou a Mediaset (com vários canais de televisão em Itália e Espanha) e foi o proprietário do clube de futebol AC Milan entre 1986 e 2017.
Berlusconi regressaria à vida política ativa em 2018, depois de ter sido levantada a sua proibição de se candidatar a cargos públicos. Nas eleições europeias de 2019, Berlusconi foi eleito eurodeputado; em 2022, o Forza Italia de Berlusconi foi um dos partidos a integrar a coligação de direita que colocou Giorgia Meloni no poder.
“2.500 comparências em salas de audiências de mais de 100 tribunais”
Os últimos anos tinham ficado marcados pelos problemas de saúde de Silvio Berlusconi, que contraiu Covid-19 em setembro de 2020 e ficou internado no hospital italiano San Raffaele com uma pneumonia bilateral. Em abril de 2021, o antigo primeiro-ministro esteve quase um mês internado devido à sua doença cardíaca e a problemas respiratórios.
No início de 2022, Berlusconi voltou ao San Raffaele para exames de rotina mas teve uma infeção e voltou a ficar internado, passando para as mãos de Antonio Tajani, número 2 do partido Forza Italia, um dos últimos objetivos que tinha em termos políticos mas que acabou por cair por terra.
Os vários processos judiciais em que esteve envolvido foram reduzindo cada vez mais as ambições que tinha mas Il Cavaliere movimentava-se de forma afincada nos corredores para conseguir encabeçar uma candidatura à liderança do país como chefe de Estado, sucedendo a Sergio Mattarella.
No início de 2022, quando estava no hospital, Berlusconi recebeu a chamada que não queria de Tajani: o processo de eleição estava em andamento e não encontrava espaço para o líder do Forza Italia. “Está bastante bem mas triste, deprimido, a alternar raiva e desânimo”, contavam algumas fontes próximas à imprensa transalpina após esse momento de rendição em que teve de abandonar a corrida à presidência, numa fase em que deixou de atender telefonemas, recebia apenas as pessoas mais próximas e quis cortar a ligação com o exterior.
Se aquilo que fez com o AC Milan ajudou a alavancar com sucesso as ambições políticas que tinha nos anos 90, o ressurgimento pelo Monza serviu apenas para se reposicionar no futebol transalpino. Para isso, e de forma inevitável, muito contribuíram todos os casos de Justiça em que se viu (e vê) envolvido. “Já tive 2.500 comparências em salas de audiências de mais de 100 tribunais”, dizia Berlusconi há mais de uma década. No entanto, e entre prescrições de alegados crimes, absolvições e vitórias em recursos, o antigo primeiro-ministro durante nove anos (1994-1995, 2001-2006 e 2008-2011) nunca chegou a ser preso.
O mais recente tem a ver com as festas sexuais que fazia na sua mansão, o caso que ficou conhecido como “bunga bunga”. Numa primeira instância, Berlusconi foi condenado a sete anos de prisão por abuso de poder e pagamento a menor em troca de serviços sexuais mas acabou depois por ganhar o recurso que foi apresentado.
Recentemente, foi julgado num processo paralelo onde era acusado de falsos testemunhos e de manipulação por alegadamente ter comprado algumas das pessoas que participaram nas festas sexuais – incluindo Ruby (Karima El Mahroug), que esteve na origem do caso –, num total de 12 milhões de euros.
“O então primeiro-ministro costumava animar sistematicamente as suas noites recebendo na sua casa grupos de odaliscas, escravas sexuais a soldo. Estes factos já ficaram para a história”, disse Tiziana Siciliano, procuradora-adjunta, no Tribunal de Milão. Devido às suas variadas ramificações, houve uma separação do processo entre diferentes cidades como Turim, Pescara, Treviso, Monza ou Siena.
Antes, Berlusconi chegou a ser condenado a três anos de prisão por corromper um senador mas como a sentença chegou em cima da data de prescrição e sem margem para recurso acabou por não avançar. Foi ainda punido com quatro anos de prisão por fraude fiscal, no único caso que transitou em julgado, ficando posteriormente com apenas um ano devido a uma amnistia que passou de prisão efetiva para domiciliária e a seguir apenas trabalho comunitário (quatro horas, um dia por semana) reduzido a dez meses e meio. Tudo isso acabou por ter um inevitável peso nos 8,8% da Forza Italia nas eleições europeias, naquele que foi o resultado mais abaixo do partido mas que não impediu que Il Cavaliere fosse na mesma eleito.
Ao mesmo tempo, e nestes últimos meses, Silvio Berlusconi esteve particularmente ativo em relação à guerra na Ucrânia e com opiniões que mereceram muitos comentários no plano nacional e não só. “Nós já estamos em guerra porque a Itália está a enviar armas para a Ucrânia”, referiu em maio, num comício em Trevigli. “É absolutamente necessário que cheguemos à paz o mais rápido possível, caso contrário a devastação e os massacres continuarão. Penso que a Europa deve estar unida para fazer uma proposta de paz a Putin e aos ucranianos, tentando que os ucranianos aceitem as exigências de Putin”, acrescentou uns dias depois aos jornalistas em Nápoles, em mais uma ação de campanha da Forza Italia.
“Não posso e também não quero esconder que estou profundamente dececionado com o comportamento de Vladimir Putin, que assumiu uma responsabilidade muito séria perante todo o mundo. Conheço-o há 20 anos e ele sempre me pareceu um democrata e um homem de paz. Perante o horror dos massacres de civis em Bucha e em outras localidades, que são verdadeiros crimes de guerra, a Rússia não pode negar as suas responsabilidades”, referiu entretanto numa reunião do partido em Roma, após ter sido acusado por vários dirigentes, incluindo o primeiro-ministro Mario Draghi, de abrir a possibilidade para Sergey Lavrov, ministro dos Negócios Estrangeiros da Rússia, comparar Volodimir Zelensky com Adolf Hitler pelas origens hebraicas na Mediaset, o primeiro meio europeu com uma entrevista do russo.