Não é todos os dias que um construtor de automóveis pode festejar o facto de celebrar 110 anos de história, razão pela qual a Aston Martin decidiu assinalar o marcante aniversário com toda a pompa e circunstância, lançando um desportivo de dois lugares com uma estética arrebatadora, uma mecânica sui generis e, para cúmulo, numa edição limitada. Chama-se Valour e faz jus ao nome porque, considerando a pesada fiscalidade portuguesa, é preciso coragem (ou uma certa dose de heroísmo) para desembolsar por cá cerca de 1,8 milhões de euros. É este o valor (já com impostos) exigido para adquirir um exemplar deste Aston Martin que aponta de imediato ao coração dos amantes de modelos com raça e à carteira dos coleccionadores de obras de arte sobre rodas.
Ao que o Observador apurou, por cá cerca de 1,8 milhões de euros, o avultado preço não inibiu a procura, com dois clientes a garantirem via Portugal que vão ter na sua garagem um dos 110 Aston Martin Valour (se é que os vão matricular com placas nacionais) que a marca de Gaydon vai começar a produzir já neste trimestre, prevendo-se que as entregas arranquem no último quarto do ano ou, no limite, no início de 2024.
Mas o facto de ser produzido numa edição muito limitada não é a única explicação para o preço (astronómico) do Aston Martin Valour. O estilo, baseado no V8 Vantage original de 70 e no RHAM/1 ‘Muncher’ que correu em Le Mans em 80, é um elogio aos muscle cars do passado, incluindo o V600 Vantage dos anos 90. Mas, num ou noutro aspecto, também ecoa a influência do One-77 e do Victor, um one-off revelado em 2020 que foi concebido sob medida para homenagear os carros de corrida de outros tempos.
Victor e Valour estão, segundo a Aston Martin, unidos no desiderato de promover uma ligação envolvente entre carro e condutor, brindando este último com o máximo feeling e controlo da máquina. Se o Victor estava equipado com um V12 de 848 cv, o Valour também arruma os 12 cilindros de igual forma, tirando partido de dois turbocompressores para extrair 715 cv e 753 Nm de um motor a gasolina de 5,2 litros montado à frente. Curiosidade: acoplado a uma caixa manual de seis velocidades. Ora, nos dias que correm, ter um V12 associado a uma transmissão deste tipo não só é raro, como é… único!
Mas os puristas têm outros motivos para fruir ao volante do Valour. E é bem possível que o mais visível esteja bem à mão. Isto porque a alavanca da caixa deixa ver as engrenagens tal como elas vieram ao mundo, despidas do habitual fole em couro que envolve a manete, porque “o que é bonito é para se ver”. E para que não restassem dúvidas quanto isso, a Aston Martin não poupou na escolha dos materiais. Para se ter uma ideia, só o manípulo da transmissão é, em si mesmo, uma peça artística pela forma como conjuga materiais nobres e dispendiosos, de fibra de vidro a carbono, passando por titânio, alumínio e madeira de nogueira.
A bordo do novo coupé respira-se desportividade e muito luxo, com uma selecção de materiais de elevada qualidade e acabamentos irrepreensíveis, a condizer com o nível de exigência do cliente-tipo. Mas o requinte pode ser exaltado à medida de cada um, através da divisão Q, o departamento de personalização da Aston Martin, especializado em criações à medida do cliente, que entra em acção quando o comprador faz questão de algo mais exclusivo. Por exemplo, para o exterior é possível personalizar o Valour com uma pintura num dos 21 tons disponíveis, separando a carroçaria em quatro partes (frente, traseira, laterais e capot) e escolhendo para cada uma delas listras ou outros grafismos pintados à mão. Ainda assim, se o cliente estiver na disposição de desembolsar mais, pode sempre recorrer aos serviços da Q by Aston Martin para criar um revestimento da carroçaria personalizado.
De resto e como seria de esperar, o construtor britânico tratou de dotar o Valour com credenciais únicas, optando por materiais leves como a fibra de carbono e o alumínio forjado para maximizar a rigidez torcional e lateral. O desportivo recebeu ainda uma suspensão à medida, com amortecedores adaptativos, molas e barras estabilizadoras ajustadas especificamente para o coupé. Com uma direcção afinada para uma maior reactividade, o Valour oferece três modos de condução (Sport, Sport+ e Track) e tirará proveito de um meticuloso trabalho de apuro aerodinâmico, pese embora a marca não tenha revelado dados de performance.
Por fim, nota para o sistema de travagem composto por discos em carbocerâmica em ambos os eixos, com 410 mm x 38 mm e pinças de seis pistões à frente e 360 mm x 32 mm atrás (pinças de quatro pistões). Segundo a marca, esta solução permitiu baixar em 23 kg a massa não suspensa, face a travões de aço, resistindo ainda melhor ao desgaste a temperaturas até 800º. As jantes de liga-leve forjada de 21 polegadas calçam uns Michelin Pilot Sport S 5 específicos (275/35 R21 à frente e 325/30 R21 atrás).