Na visita a Portugal, o Papa Francisco foi desafiado por uma jovem, na Scholas Occurrentes, em Cascais, a dar a última pincelada num mural com um “pincel muito especial, capaz de iniciar, ao mesmo tempo, uma nova obra virtual” para “reunir as diferentes comunidades de escolas de todo o mundo”. O pincel utilizado pelo chefe da Igreja Católica estava ligado a um dispositivo de realidade virtual que não está à venda em Portugal.

Foi da Argentina, país onde nasceu o Papa, que veio o Meta Quest — headset da empresa-mãe do Facebook, Instagram e WhatsApp — que permitiu que alunos de Moçambique conseguissem em tempo real ver a representação virtual do traço que o Papa fez no mural físico. O pincel (físico) estava preso ao dispositivo para que à medida que o Papa fizesse a pintura esse equipamento acompanhasse os movimentos, movimentos esses que eram projetados em Moçambique.

Os círculos verdes feitos pelo Papa Francisco foram vistos virtualmente pelos jovens de Moçambique. A representação foi  partilhada num vídeo publicado no passado sábado nas redes sociais (aparecem na parte inferior do ecrã dos 17 aos 23 segundos) para mostrar como Francisco “uniu mundos”.

A Scholas Occurrentes explicou ao Observador que, para que a projeção fosse possível, um Meta Quest 2 (lançado em 2020) estava em Portugal enquanto outro desses dispositivos (mas de uma versão mais antiga) foi “enviado para Moçambique” para que fosse possível aos alunos estarem a partilhar “o mesmo espaço” (virtual), apesar da distância.

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Os alunos de Moçambique tinham lá um Meta Quest 1, [uma pessoa estava] com os óculos de realidade virtual colocados e a projetar a pincelada num ecrã.”

A projeção foi possível porque o Meta Quest permite fazer uma ligação entre dispositivos, algo que por norma costuma acontecer nos jogos em multiplayer (vários jogadores). Estes dispositivos — e os óculos de realidade virtual — permitem também fazer uma transmissão entre países, por exemplo através de plataformas como o YouTube e a Twitch.

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O Meta Quest 2 foi lançado em 2020

Ao Observador, a Scholas Occurrentes explicou que escolheu Moçambique para a projeção devido à “estreita ligação histórica” do país com Portugal. Além de que, acrescenta, a Scholas Occurrentes chegou primeiro a Moçambique e só depois a Cascais. “Achámos um gesto bonito que continuasse África a ser pioneira e depois o resto do mundo. Até porque o Papa não fala de escolas ricas e pobres, mas de escolas irmãs. E a Scholas tem esse conceito”, acrescenta a organização.

 Para nós, Moçambique e Portugal são irmãos.”

Na semana passada, só Moçambique viu o mural que o Papa iniciou no espaço virtual. Mas o objetivo da Scholas Occurrentes é que outros alunos de outros países o “possam acompanhar”. “A pincelada está atualmente numa aplicação chamada Gravity Sketch“, que é utilizada para fazer esboços e desenhos através de “ferramentas digitais” com o uso da realidade virtual.

“A ideia é que os jovens coloquem o Meta Quest 1 ou o Meta Quest 2, descarreguem a Gravity Sketch” e continuem o mural que o Papa iniciou no espaço virtual. “Isto vai ser feito durante as experiências educativas da Scholas, por isso, os alunos não vão ter de comprar óculos de realidade virtual, nem nada”, vincou a Scholas Occurrentes.