Pronuncia-se “Vih-veck Rah-muh-swah-mee”. O nome pode até ser difícil de verbalizar — o próprio não faz muita questão de corrigir publicamente aqueles que tentam e acertam ao lado –, mas tem vindo a ganhar destaque, particularmente depois do primeiro debate dos candidatos que querem representar o Partido Republicano nas eleições presidenciais norte-americanas de 2024. “Vivemos num momento de escuridão e temos de nos confrontar com o facto de estarmos numa espécie de guerra fria civil e cultural”, destacou no seu discurso o mais novo dos candidatos republicanos e o menos experientes no campo político.
Se é verdade que o empresário Vivek Ramaswamy, de 38 anos, está a fazer a sua estreia na política, não o vê como uma desvantagem e abraça o perfil de “outsider”. O multimilionário ainda pensou candidatar-se em 2022 para senador do seu estado natal, Ohio, mas foi só em fevereiro deste ano que, no programa de Tucker Carlson, na Fox News, deu o passo em frente na política ao anunciar a candidatura a representante dos Republicanos à Casa Branca.
Ramaswamy foi o terceiro a lançar o nome na corrida, numa altura em que parecia ter poucas hipóteses de chegar longe. Nas sondagens ainda só agora atingiu os dois dígitos, com os seus números a crescer à conta dos seus rivais, em particular o governador da Flórida, Ron DeSantis, apesar de ainda estar bem longe de Trump, que lidera a corrida. Uma análise do Washington Post ao interesse de pesquisa no Google gerado durante o debate desta semana — para avaliar que participantes despertaram maior curiosidade nos espectadores — mostra que ninguém viu um nível de interesse tão consistente como o de Ramaswamy durante as cerca de duas horas. Mas, afinal, quem é o empresário convertido em político que quer chegar à presidência dos Estados Unidos?
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O empresário convertido em político que sonha chegar à Casa Branca
Empresário no setor da biotecnologia, multimilionário — em 2023 a Forbes estimou a sua fortuna em 630 milhões de dólares — e um rosto conhecido na Fox News, onde até abril manteve um programa regular de comentário, Vivek Ramaswamy é um homem de várias facetas e a de candidato às primárias republicanas é apenas uma de muitas.
O republicano nasceu no estado de Ohio e é filho de imigrantes da Índia. Frequentou a Universidade de Harvard, tendo-se formado em biologia, antes de mudar de rumo e seguir para Yale para estudar advocacia. Foi a trabalhar com fundos de investimento que começou a sua carreira, mas a fortuna foi construída à volta da Roivant Sciences, uma empresa de biotecnologia que fundou em 2014 e se foca na aplicação de tecnologia no desenvolvimento de medicamentos.
Durante sete anos dedicou-se a sua atenção à Roivant Sciences, mas em 2021 acabou por se demitir como CEO da empresa. De caminho ainda escreveu três livros, incluindo o “Woke, Inc.: Inside Corporate America’s Social Justice Scam”, em que argumenta contra a diversidade corporativa e as políticas de igualdade e de proteção ambiental. Atualmente vive com a mulher, Apoorva Tewari Ramaswamy, médica de profissão, em Columbus, com os dois filhos.
Dos anos de faculdade ficou com reputação de rapper — durante o tempo em Harvard cantava músicas de rap com o nome artístico “Da Vek” –, uma faceta que tem revisitado durante a campanha eleitoral. Este ano chegou a atuar o “Lose Yourself” de Eminem durante a passagem numa feira estatal no estado de Iowa, apresentação que se tornou viral nas redes sociais. Mais recentemente também fez uma pequena demonstração em direto na Fox News: “O meu nome é Vivek, que rima com ‘cake’ [bolo, em português]. Isto não é sobre ti, não é sobre mim. É sobre os Estados Unidos e sobre a liberdade”, entoou.
???????? Vivek “Da Vek” Ramaswamy just rapped on Fox News. pic.twitter.com/gTYn3n3KvL
— The Recount (@therecount) July 27, 2023
O admirador de Donald Trump que quer ir mais além
Para candidato à presidência, Vivek Ramaswamy não tem o melhor registo quando se trata de eleições. Foi o próprio que o admitiu quando revelou que não votou em 2008, em 2012 ou em 2016. Apesar de agora leal ao Partido Republicano, ainda chegou a votar em candidatos democratas, mas foi a Donald Trump que emprestou o seu voto nas eleições de 2020. Ainda que o voto do próximo ano esteja reservado a si mesmo, se contar com o apoio do partido, assume-se como um admirador do ex-Presidente norte-americano e seu concorrente nas primárias.
“É o melhor Presidente do século XXI”, sublinhou durante o primeiro debate dos republicanos, em que foi um dos mais interventivos e em que vários analistas o descreveram como o candidato com a melhor prestação. Conseguiu passar a ideia de que enfrenta o establishment do partido, destacou, por exemplo, Natalie Allison, citada pelo jornal Politico. O maior elogio viria, no entanto, do próprio Trump, que em troca daquelas palavras o coroou vencedor da noite. “Esta resposta deu a Vivek Ramaswamy a grande VITÓRIA no debate por causa de uma coisa chamada verdade”, escreveu o ex-Presidente numa publicação na sua rede social Truth Social. “Obrigada, Vivek”, acrescentou.
O antigo governante — “o elefante que não esteve na sala” e apostou antes na publicação de uma entrevista no Twitter que teve mais de 80 milhões de visualizações em duas horas — foi um dos temas discutidos no debate. Sobre a possibilidade de apoiar Trump (caso o ex-presidente consiga a nomeação) mesmo que este seja condenado em algum dos quatro processos judiciais que enfrenta, Ramaswamy foi um dos mais acérrimos defensores. Esta postura não é novidade. O republicano já tinha garantido, em outras ocasiões, que se chegar à Casa Branca e Trump for condenado o vai absolver dos crimes.
O republicano chegou mesmo a aparecer junto ao tribunal de Miami, onde Trump foi acusado de 37 crimes relacionados com o desvio de documentos classificados, e disse aos jornalistas que apelou aos outros candidatos para que se vencedores se comprometessem a perdoá-lo também. Chegou, no entanto, a criticá-lo por não aceitar os resultados das eleições de 2021 e que levaram à invasão do Capitólio. “A eleição estava terminada e era tempo de seguir em frente. Lutámos, perdemos e aceitei o resultado”, escreveu no livro “Nation of Victims: Identity Politics, the Death of Merit, and the Path Back to Excellence”.
Apesar da admiração por Trump, Ramaswamy não esconde que quer ir mais longe do que o ex-Presidente foi durante a sua administração. Aliás, é com o lema “America First 2.0” (“América Primeiro 2.0”) que está a fazer campanha, com base na ideia de que o concorrente não fez o suficiente para implementar a sua agenda política na passagem pela Casa Branca.
Os dez mandamentos de Vivek Ramaswamy
- Deus é real;
- Há dois géneros;
- O florescimento humano requer combustíveis fósseis;
- Racismo reverso é racismo;
- Uma fronteira aberta não é uma fronteira;
- Os pais determinam a educação dos filhos;
- A família nuclear é a maior forma de governação conhecida pela Humanidade;
- O capitalismo levanta as pessoas da pobreza;
- Há três ramos do governo norte-americano e não quatro;
- A constituição norte-americana é o mais forte garante das liberdades na História.
Criado na fé hindu dos pais, Ramaswamy chegou a frequentar um colégio jesuíta durante o secundário e tem bem presente os dez mandamentos pelos quais assenta a sua plataforma política — o primeiro deles “Deus é real”. O candidato às primárias tem procurado apelar ao eleitorado evangélico — uma importante fatia nas primárias republicanas — e tem afirmado perante os eleitores que os Estados Unidos são baseados nos valores cristãos e judeus, descrevendo-se como uma nacionalista americano.
Sendo uma figura nova na esfera política, o republicano admite que muitos possam estranhar vê-lo ao lado de figuras mais experientes. No debate de quarta-feira admitiu mesmo que alguns espectadores possam pensar: “Quem é este tipo magrinho com um apelido engraçado e o que raio está a fazer no meio deste debate?” — frase que, se soa familiar, é porque foi dita pelo ex-Presidente Barack Obama há 19 anos num discurso considerado por alguns como um momento de rutura na sua carreira política.
Ramaswamy ainda pode estar a dar a conhecer-se no meio de candidatos com mais anos na vida política, mas é claro nas suas posições, profundamente conservadoras. Apoia, nomeadamente, proibições estatais ao aborto após seis semanas (com exceção de casos de violação, incesto ou se a vida da mãe estiver em risco). É contra a ação afirmativa — que procura incentivar a admissão de estudantes de minorias étnicas nas universidades — e é um apoiante da ideia de que a geração millennial se foca no tema da raça ao ponto de “esquecer todas as formas em que somos simplesmente iguais”.
Sobre o tema da Ucrânia, que foi um dos destaques do debate republicano, a posição é clara: “Acho que o que precisamos de fazer é acabar a guerra com termos de paz de que, sim, faz parte fazer algumas concessões importantes à Rússia, incluindo o congelamento das atuais linhas do conflito numa espécie de armistício como o acordo da guerra da Coreia”, disse à ABC em junho deste ano. Mais recentemente Ramaswamy defendeu que, se for eleito, não enviará mais apoio à Ucrânia, uma vez que os interesses norte-americanos deveriam ter prioridade. “Deveríamos usar esses mesmos recursos militares para evitar a invasão da nossa própria fronteira sul, aqui nos Estados Unidos”, sublinhou o candidato, que tem apelado à segurança das fronteiras por todos os meios necessários, incluindo a força militar.
Outras das suas propostas passam por fechar vários departamentos, como o FBI, o departamento de Educação e a Comissão Reguladora Nacional (NRC, na sigla em inglês). “Em muitos casos estas agências são redundantes nas funções, que já são desempenhadas em setores do governo federal”, disse numa entrevista à NBC News. O candidato advoga também o aumento da idade de voto para os 25 anos, exceto em casos de jovens que serviram no exército pelo menos seis meses, que são prestadores de primeiros socorros ou passem num teste semelhante aos que fazem os que procuram obter cidadania norte-americana.
Nos últimos tempos, o candidato o republicano tem estado no centro de algumas polémicas, nomeadamente quanto às recentes declarações sobre os atentados de 11 de setembro, que lhe valeram várias críticas. “Acho que é legítimo dizer quantos polícias, quantos agentes federais, estavam nos aviões quando atingiram as Torres Gémeas. Talvez a resposta seja zero. Provavelmente será zero, tanto quanto sabemos, certo? Não tenho razões para pensar que não seja zero. Mas se fizermos uma análise compreensiva ao que aconteceu no 11 de Setembro, temos uma comissão, temos absolutamente de ter uma resposta a essa pergunta”, disse Ramaswamy em entrevista ao The Atlantic. Questionado sobre o que estava a insinuar, o candidato às primárias republicanas disse apenas que queria a verdade sobre o que se passou e defendeu que “há mentiras no que o governo disse sobre o ataque”, sugerindo que a Arábia Saudita foi a principal autora do incidente terrorista”.
Apesar das declarações, o candidato tem vindo a subir nas sondagens. Segundo dados da Morning Consult, em junho Ramaswamy seguia no fundo da lista das intenções de voto, com apenas 3% e empatada com candidatos como Nikki Haley e Tim Scott. O republicano surge agora em terceiro lugar, com 11% das intenções, tendo substituído Mike Pence, vice-presidente norte-americano durante a administração de Trump, na escala.