Donald Trump chegou ao tribunal de Miami pouco antes das 14 horas. As televisões norte-americanas seguiram o carro do ex-presidente desde a sua casa em Doral, na Flórida, até ao tribunal, onde foi acusado de 37 crimes relacionados com o desvio de documentos classificados. Perante o juiz, declarou-se “inocente”, relata a imprensa norte-americana.

Surgiu de fato preto e gravata vermelha, nunca olhou para a sala, falou apenas periodicamente com os seus advogados e não disse uma única palavra em tribunal. Os advogados Todd Blanche e Chris Kise estiveram ao lado do ex-presidente dos EUA, que também é candidato à Casa Branca em 2024, numa audiência interdita a câmaras. Os poucos jornalistas presentes na sala não podiam ter portáteis ou telefones, mesmo para tirar notas, uma medida tomada pelo juiz na noite desta segunda-feira. Segundo o New York Times, esta é “uma nova regra especificamente para a audiência de Trump”.

O que aconteceu esta terça-feira foi uma “formalidade legal”, descreve o mesmo jornal. “O juiz descreve as acusações, o acusado revela a alegação, algumas questões de agenda são habitualmente discutidas”, enumera a publicação. É expectável que só algures nos próximos meses se conheça a data do julgamento e quais os argumentos da defesa.

Finda a audiência, o juiz Jonathan Goodman determinou que Donald Trump não pode ter qualquer contacto com testemunhas relacionadas com os casos. Avança o mesmo jornal que o governo elaborará uma lista com as testemunhas mais tarde.

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Sobre Walt Nauta, assistente de Trump, também no banco dos réus, o magistrado disse compreender que Nauta e Trump precisassem de falar diariamente, mas que tudo o que fosse relacionado com o caso tinha de ser através dos respetivos advogados. Nauta não fez qualquer declaração por não ter conseguido encontrar um advogado local – tal deve acontecer a 27 de junho.

O Departamento de Justiça recomendou ainda que Trump e Nauta fossem libertados sem condições financeiras ou outras condições especiais. “O governo não vê qualquer um deles em risco de fuga”, disse o procurador David Harbach ao juiz presente.

“Temos um país fraudulento”, disse Trump mais tarde, no restaurante Versailles, onde foi recebido “por um ótimo grupo de pessoas”, descreveu. O restaurante em Miami é ponto de passagem pelos candidatos republicanos há vários anos. “Temos um país que é corrupto, temos um país sem fronteiras, temos um país que não tem nada além de problemas”, continuou. “Somo uma nação em declínio como nunca visto e não podemos deixar isso acontecer”.

Trump denuncia “abuso de poder”, depois de acusação em caso de arquivos retirados da Casa Branca

Alina Habba, advogada (não neste caso em particular) e porta-voz de Trump, defendeu o ex-Presidente dos EUA à porta do tribunal. “A decisão de acusar Donald Trump enquanto se fecha os olhos a outros é emblemático da corrupção que temos”, disse, repetindo a tese de Trump de que as acusações são motivadas por questões políticas. “Estamos num momento da nossa história com a perseguição de um oponente político”, acrescentou. “As pessoas à frente deste país não amam a América. Odeiam Donald Trump”, concluiu.

Também se especulou se Trump seria fotografado ou se bastaria que recolhessem as suas impressões digitais. A imprensa norte-americana reporta que o ex-Presidente dos EUA não foi fotografado. Em abril, em Nova Iorque, perante o tribunal, numa outra acusação, as autoridades também consideraram o registo fotográfico “desnecessário” dada o nível de notoriedade e reconhecimento de Trump. Também na época recolheram apenas as impressões digitais.

“Um dos dias mais tristes da história do nosso país”, diz Trump

Esta terça-feira, antes de chegar ao tribunal, Donald Trump publicou uma mensagem na sua rede social Truth Social, declarando: “um dos dias mais tristes da história do nosso país”. E no post ainda acrescentou (tudo em letra maiúscula, segundo a transcrição da CNN) que “somos uma nação em declínio”.

Fonte: Post no Truth Social

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Esta terça-feira, Donald Trump tornou-se no primeiro ex-presidente dos Estados Unidos a ser acusado criminalmente pela justiça federal. Trump é acusado de cometer 37 crimes federais. Depois de deixar o cargo que ocupou entre 2017 e 2021, o antigo presidente ordenou que dezenas de caixas com centenas de documentos classificados, incluindo informações sobre segredos nucleares e planos para atacar outros países, cartas, recortes de jornais e fotografias, fossem transferidos da Casa Branca para a sua mansão em Mar-a-Lago, na Florida.

Donald Trump acusado de 37 crimes no caso dos documentos confidenciais levados da Casa Branca

O ex-presidente não guardou os documentos de forma segura, espalhando-os entre várias divisões da residência, incluindo uma casa de banho, um quarto e um salão de baile.

A Lei dos Registos Presidenciais de 1978 determina que todos os documentos de um presidente são propriedade pública e não privada, que pertence ao governo dos EUA. O antigo presidente devia tê-los entregue aos Arquivos Nacionais, que recorreram ao FBI quando, meses depois de Trump deixar o cargo, descobriram que os mesmos não tinham sido devolvidos.

Trump acusado de “mover e esconder” centenas de documentos oficiais na sua casa de Mar-a-Lago

Depois de abrir um inquérito judicial, o FBI fez uma busca na mansão de Mar-a-Lago Mar-a-Lago para apreender as caixas.

A acusação por 37 crimes federais

Apesar da intervenção do FBI, a acusação acredita que Trump pode ter posto em perigo a segurança nacional, não só porque os documentos não estavam guardados de forma segura, mas também porque o ex-presidente os terá mostrado a pessoas que não estavam autorizadas a vê-los.

A acusação do Departamento de Justiça foi revelada na passada sexta-feira pelas autoridades federais norte-americanas. Na quinta-feira, Trump já tinha recorrido à Truth Social, a sua rede social, para revelar que teria sido informado desta acusação pela “administração corrupta de Biden” no caso do “embuste das caixas”. E sublinhou em maiúsculas ser “UM HOMEM INOCENTE” nesta “caça às bruxas politicamente motivada”.

“Sou inocente”: Donald Trump revela ter sido acusado no caso dos documentos confidenciais

Na sua primeira aparição pública desde que o documento da acusação de 49 páginas — que pode ser lido na íntegra aqui — foi revelado, classificou a acusação como “ridícula” e “sem fundamento”, acrescentando que se trataria de um ataque aos seus apoiantes. As declarações foram feitas na Convenção Republicana da Geórgia.

“Lançaram uma caça às bruxas atrás da outra para tentar parar o nosso movimento, para frustrar a vontade do povo americano”, disse, acrescentando: “No fim, não estão a vir atrás de mim. Eles estão a vir atrás de vocês”, afirmou às centenas de apoiantes reunidos na convenção.

Donald Trump apelida acusação federal de ridícula e sem fundamento

Sabe-se que o ex-presidente não conseguiu contratar novos advogados para o representarem antes da audiência desta terça-feira, estando a ser representado por dois dos seus atuais advogados — Todd Blanche e Chris Kise —, apesar de ter planeado recrutar um novo advogado experiente em julgamentos e baseado na Flórida para se juntar à sua equipa de defesa. Também não conseguiu encontrar um advogado especialista em segurança nacional para o ajudar com as acusações de espionagem.

Trump é candidato à presidência à Casa Branca em 2024 pelo Partido Republicano. Na semana passada, tornou-se o primeiro ex-presidente dos EUA a ser indiciado criminalmente pela justiça federal, por se ter apropriado ilegalmente dos documentos confidenciais e dificultado os esforços do Departamento de Justiça para recuperar esses registos.

Donald Trump não conseguiu novos advogados a tempo da acusação formal no caso dos documentos confidenciais