O Fórum para a Competitividade está pessimista com a evolução da economia na segunda metade do ano. Na nota de conjuntura de agosto, e após os dados do INE que confirmaram uma estagnação em cadeia do PIB na primavera, antecipa um “claro abrandamento“, que colocará em causa a meta traçada por Fernando Medina, de um crescimento de 2,7% este ano. Mas há também sinais de alívio: o Fórum acredita que as taxas Euribor “poderão estar” próximas do “pico”, se o BCE puser fim ao ciclo de subidas dos juros.
Quanto à evolução do PIB, o ministro das Finanças assumiu, em julho, uma revisão em alta face ao que estimava no Programa de Estabilidade, de 1,8% para 2,7% em 2023. Para que a meta fosse cumprida, o Fórum para a Competitividade — cujo gabinete de estudos é liderado pelo economista Pedro Braz Teixeira — calcula que fosse necessário um crescimento de 3% no segundo semestre, “necessitando de uma forte aceleração, que é quase impossível na atual conjuntura, quer externa quer interna”.
O Fórum lembra que o indicador diário de atividade calculado pelo Banco de Portugal passou de 2,5% no segundo trimestre para valores negativos em julho (-1,6%) e “muito modestos” em agosto (0,6%), “sugerindo um novo abrandamento” no terceiro trimestre.
Além disso, sublinha a suspensão da produção na Autoeuropa devido às cheias que afetaram severamente um fornecedor na Eslovénia, o que também afetará fornecedores da empresa de Palmela, “constituindo um travão à atividade nos próximos meses“.
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Ainda assim, e como já tinha referido ao Observador, Pedro Braz Teixeira acredita que a procura se deverá manter e que “o mais provável” é que a Autoeuropa tente recuperar nos meses seguintes a produção que não conseguiu realizar durante a paragem. “De qualquer forma, no curto prazo o efeito é negativo“, acrescenta a nota assinada pelo economista.
Já em relação a 2024, Braz Teixeira antevê como “inevitável” uma desaceleração da economia, não só pelo “enquadramento externo”, mas também pelo impacto das taxas de juro sobre a procura interna e pela “restrição orçamental forçada pelas regras europeias”.
O Fórum sublinha que, em agosto, a inflação interrompeu nove meses de quedas sucessivas, que o investimento direto estrangeiro caiu 57% na primeira metade do ano e que o PIB abrandou “fortemente” no segundo trimestre, de um crescimento de 1,6% para uma estagnação. Essa estagnação é explicada pelo mau comportamento das exportações, sobretudo de serviços, que não foi compensada pela aceleração do consumo das famílias.
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O turismo não traz grandes motivos para sorrir. Em julho, as dormidas voltaram a abrandar e “as perspetivas sobre a economia, quer externa quer interna, não permitem grande otimismo para a evolução para o resto do ano“.
De fora também vêm ventos mais pessimistas. Na zona euro, a queda na produção “soma agora três meses consecutivos, lançando uma sombra significativa” sobre o terceiro trimestre. “Quer a indústria quer os serviços assistiram a um declínio das novas encomendas tendo praticamente parado as novas contratações de mão de obra”, refere ainda o Fórum, na nota de conjuntura. As expectativas de produção para o próximo ano voltaram a cair pelo sexto mês consecutivo, “enquanto as pressões sobre os preços continuaram a aliviar”.
Euribor próxima do pico?
A dias de o Banco Central Europeu (BCE) anunciar se vai voltar a subir as taxas de juro, naquela que seria a décima subida consecutiva, ou se vai fazer uma pausa na onda de aumentos, o Fórum para a Competitividade indica que o mercado “admite que o BCE terá terminado o ciclo de subida de taxas, pelo que a Euribor a 12 meses poderá estar próximo do pico”.
Se o BCE vai voltar a subir ou não as taxas de juro é, ainda, uma incógnita. Em Jackson Hole (EUA), no final de agosto, Christine Lagarde sinalizou que o “combate contra a inflação ainda não foi ganho”, embora reconhecendo “progressos”.
Os economistas consultados pelo Observador na semana passada acreditam que, na segunda metade do ano, os efeitos das subidas das taxas de juro já sejam visíveis “em pleno” nos agentes económicos em Portugal, antecipando se não uma quebra pelo menos um abrandamento do consumo privado.