Sai Zaw Thaike, fotojornalista do Myanmar Now, um jornal independente do país, foi na quarta-feira condenado a 20 anos de prisão com trabalhos forçados, avança o The Guardian.
Em causa está a cobertura que fez no seguimento da destruição causada pelo ciclone Mocha, que matou 148 pessoas, um trabalho que o tribunal considerou — entre outras acusações — tratar-se de uma tentativa de espalhar medo e informações falsas, traduzindo-se numa traição ao país.
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Thaike foi detido no dia 23 de maio, pouco depois da passagem do ciclone no Myanmar. Na prisão de Insein, localizada na maior cidade no país, o jornalista não pode receber visitas da família e foi-lhe negada também qualquer representação legal no seu caso.
Swe Win, editor-executivo do jornal para o qual trabalhava Thaike, frisou que a sentença representa “o preço elevado que os jornalistas independentes no Myanmar têm de pagar pelo seu trabalho profissional“, cita o The Guardian.
O editor aponta ainda que a condenação do jornalista representa uma “indicação de que a liberdade de imprensa foi completamente anulada sob o regime da junta militar“, que assumiu o controlo do país em fevereiro de 2021.
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Embora chefie o jornal clandestinamente, Swe Win frisou ainda que a sua equipa de jornalistas não vai “vacilar com o compromisso de dar notícias e informações ao povo de Myanmar, apesar dos imensos desafios” que esses profissionais enfrentam.
Outros jornais, tal como o Myanmar Now, também atuam de forma secreta. No país, já foram foram revogadas licenças de prática a pelo menos 13 meios de comunicação social que continuam em atividade e, no total, pelo menos 156 jornalistas já foram presos.
Segundo o World Press Freedom Index 2023, um ranking em que se avaliam vários parâmetros e que toma também em consideração a liberdade de imprensa, o Myanmar situa-se na posição 173 de 180 países. A plataforma dos Repórteres Sem Fronteiras (RSF) informa ainda que, no total, 68 jornalistas continuam detidos no país.
Apesar disso, Thaike não é o primeiro repórter do jornal independente Myanmar Now que é preso por se considerar que violou as restrições impostas pelo governo militar do país. Em fevereiro de 2021, após ter coberto um protesto na cidade de Yanhon, a jornalista do Myanmar Now Kay Zon Nway também acabou por ser detida pelas autoridades. Apesar de ter cumprido algum tempo em confinamento solitário, saiu em liberdade quatro meses depois devido a uma amnistia.
O secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres, já assumiu estar “profundamente preocupado com o agravamento da situação política, humanitária e de direitos humanos” que se vive no país, cita a CNN. O diplomata defende ainda o “regresso de um regime democrático” no Myanmar, dado que o atual governo é incapaz de “atender às aspirações do seu povo”.