Uma equipa internacional de investigadores descobriu como é que a acumulação da proteína amiloide (uma das causas da doença de Alzheimer) leva à morte dos neurónios e conseguiu travar este processo em experiências de laboratório. Os resultados foram publicados esta quinta-feira na revista científica Science.

“Ainda não existem medicamentos que curem ou ajudem a aliviar os sintomas da doença de Alzheimer. Este estudo pode ajudar a encontrar terapias que previnam a perda de células neuronais”, afirmou  Amaia Arranz, investigadora no Centro Basco de Neurociências Achúcarro (Espanha) e uma das autoras do estudo, citada pelo jornal El País.

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Os ratos de laboratório não sofrem de Alzheimer, por isso a equipa coordenada pelo Centro para a Investigação do Cérebro e Doença da Universidade Católica de Leuven (Bélgica) transplantou 100 mil neurónios humanos no cérebro de ratos para simular a doença e estudar a sua evolução.

Ao fim de 18 meses, os ratos doentes já tinham desenvolvido as placas de proteína amiloide, com acumulação de proteína tau — duas das proteínas mais relevantes na doença de Alzheimer —, e apresentavam metade dos neurónios dos ratos da experiência de controlo (que não tinham recebido o transplante ou os transplantados que não tiveram a doença).

Na presença da proteína amiloide, os neurónios humanos (mas não os de rato) ativaram o gene MEG3, que induz a morte celular inflamatória programada (necroptose) — matando os neurónios precocemente. A ativação deste gene também já foi associada à doença de Huntington (na qual também ocorre morte dos neurónios). Consultando as bases de dados sobre cérebros de doentes com Alzheimer, os investigadores verificaram que uma sobreativação do gene MEG3.

A utilização de ponatinib (usado no tratamento de alguns tipos de leucemia), de dabrafenib (usado no tratamento de alguns casos de melanoma) e de necrosulfonamide inibiram a necroptose de neurónios nas experiências in vitro (sem estarem dentro de nenhum organismo). Também a manipulação de alguns genes usando a técnica de corta-e-cola CRISPR também conseguiu resultados semelhantes. Quando testados nos ratos transplantados (com proteina amiloide), os tratamentos inibiram a morte dos neurónios.

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Os investigadores consideram que esta pode ser uma via para o tratamento precoce da doença de Alzheimer, porque uma vez que os neurónios morram já não há forma de recuperá-los e de reverter o processo de demência. Nas conclusões do artigo, destacam que a inibição da necroptose (como aqui foi testada) é uma área em desenvolvimento para o tratamento do cancro e da esclerose lateral amiotrófica.

Os resultados da investigação também deixaram os investigadores intrigados, visto que os neurónios humanos transplantados em ratos apresentavam uma doença semelhante ao Alzheimer, mas os neurónios de rato não. “Isto sugere que características humanas específicas desconhecidas definem a sensibilidade dos neurónios para a patologia amiloide”, escreveram no artigo.

Compreender a base molecular da resiliência dos neurónios do ratinho à patologia amiloide poderá não só ajudará a fazer melhores modelos da doença, como também estimular a investigação sobre as vias que protegem contra a neurodegeneração”, rematam

A bióloga espanhola Estela Area Gómez, investigadora no Centro de Investigações Biológicas Margarita Salas, mostra-se cética em relação às conclusões deste trabalho, conforme contou ao jornal El País. Em particular, duvida que estes transplantes de células humanas que acumulam proteína amiloide sejam um verdadeiro modelo da doença de Alzheimer. A investigadora continua a defender que a morte dos neurónios na doença de Alzheimer está relacionada com um problema no metabolismo do colesterol — a hipótese que a faz ganhar, no ano passado, o Prémio Oskar Fischer, no valor de quase 500 mil euros.

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