O primeiro-ministro de Portugal, António Costa, defendeu esta quinta-feira que todos têm de ser solidários na proteção da fronteira comum e também no dever de acolher quem procura segurança na União Europeia (UE).
Temos uma fronteira comum na União Europeia e todos temos de ser solidários na proteção dessa fronteira comum e temos de ser solidários no dever que a União Europeia tem de acolher aqueles que buscam na Europa asilo, segurança para as suas vidas, e também fazer uma gestão responsável, ordenada, positiva, daquilo que são os fluxos migratórios, aliás, para satisfazer muitas das necessidades das sociedades europeias”, afirmou António Costa.
O líder do executivo falava aos jornalistas, na Embaixada de Portugal junto da Santa Sé, em Roma, após uma audiência, a seu pedido, com o Papa, no Vaticano, para agradecer a realização da Jornada Mundial da Juventude em Portugal e a visita de Francisco ao país, em agosto último, com quem falou também sobre migrações.
António Costa assinalou que “Portugal tem uma política estável em matéria migratória desde há muitos anos e que tem sido possível manter uma continuidade com diversos governos”, que assenta no facto das migrações serem um fenómeno natural da vida humana, de que todos são “produtos de migração” e que esta vai continuar.
“Temos, por isso, de olhar para o tema das migrações não como uma realidade nefasta, mas como uma realidade efetiva (…), e saber como é que aproveitamos de uma forma positiva essa dinâmica”, defendeu o líder do Governo português, considerando que tal implica “atuar em diferentes níveis, desde logo criando condições para que nos países de origem exista paz, respeito pelos direitos humanos, condições para o desenvolvimento”.
Assinalando que, “neste contexto de alterações climáticas, vai ser cada vez mais difícil em muitas regiões do mundo a vida humana existir”, António Costa advertiu que a “necessidade de migrar vai seguramente aumentar”, pelo que convém ser realista “quanto àquilo que acontecerá no futuro”.
“Em segundo lugar, é absolutamente fundamental existirem canais legais de migração, porque é a forma mais eficaz de combater aquilo que é intolerável, que é o tráfico de seres humanos, e garantir que as migrações se fazem em segurança e de uma forma ordenada”, prosseguiu.
António Costa salientou ainda que vê “muita gente dizer ‘não queremos mais migrantes'”, mas são “as mesmas pessoas que depois, diariamente, recorrem aos migrantes para satisfazer necessidades básicas da sua vida”, realçando não conhecer “uma única sociedade europeia onde a vida pudesse decorrer com normalidade” sem o contributo de muitos migrantes, qualificados ou não qualificados.
Precisamos muito das impressões digitais, dos dados biométricos, todas essas formas de controlo, mas precisamos, essencialmente, de conhecer uma coisa que é o que cada uma daquelas pessoas pretende fazer na vida, qual é o seu sonho”, continuou António Costa.
Admitindo que há sonhos que em Portugal serão difíceis de realizar, como ser-se astronauta, mas “muitos outros” podem ser realizados, o primeiro-ministro observou que o país tem “hoje muita necessidade de recursos humanos nas mais diversas áreas.
E, portanto, se nós fizermos bem esse matching entre aquilo que são as oportunidades que existem em cada um dos países e aquilo que cada uma das pessoas que procura prosseguir as suas vidas na Europa, acho que podemos ter soluções de sucesso, primeiro para o mais importante, que são as pessoas, em segundo lugar, para os países de acolhimento, mas também para os países de origem”, declarou.
O chefe do executivo lembrou ainda o “longo historial de migração nas mais diferentes condições” de Portugal, nas décadas 50, 60, 70, “muito com base na emigração”, acrescentando: “Sabemos bem quais são as experiências das migrações bem-sucedidas e mal sucedidas e, portanto, só temos de olhar para os outros como se nos estivéssemos a ver a nós próprios ao espelho”.