Com a candidatura de José Luís Carneiro apresentada e a de Pedro Nuno Santos prestes a tornar-se oficial, as posições das principais figuras do PS começam também a definir-se. Uma das próximas dúvidas que podem vir a desfazer-se será a posição de Ana Catarina Mendes, dado que existe a intenção de que a atual ministra Adjunta e dos Assuntos Parlamentares e o líder da ala esquerda do PS se encontrem para “conversar”. Até agora os dois socialistas ainda não falaram diretamente, embora existam contactos nesse sentido nos seus círculos.

De acordo com as informações apuradas pelo Observador, os dois socialistas — apontados há anos como potenciais sucessores de António Costa, uma porta que Ana Catarina Mendes veio, pelo seu lado, fechar na semana passada — podem tentar acertar agulhas, não existindo, para já, nenhuma posição fechada do lado da atual ministra.

Contactada pelo Observador, a governante não respondeu sobre a preparação desses contactos. No entanto, após a publicação deste artigo, enviou um “esclarecimento” em que, recordando que não é candidata à liderança do partido, diz não ter conversas “marcadas” e ainda não ter falado diretamente com nenhum dos candidatos “até ao dia de hoje”.

“Já anunciei que não sou candidata à liderança do PS. Não tenho marcada nenhuma conversa com nenhum dos candidatos e nunca falei com nenhum dos candidatos até ao dia de hoje”, lê-se na nota.

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O que existe, apontam várias fontes próximas do processo e ouvidas pelo Observador, é uma vontade de Pedro Nuno Santos de “tratar com a dignidade que merece” o vasto percurso de Ana Catarina Mendes dentro do partido, mesmo que ambos não pertençam à mesma ala — a antiga líder da federação de Setúbal e ex-secretária geral adjunta é associada à ala mais “moderada” do partido, enquanto Pedro Nuno Santos se posiciona como o representante da ala esquerda.

Além disso, segundo uma das mesmas fontes, Ana Catarina Mendes quer “continuar a servir o partido”, o que pode significar que tem disponibilidade para assumir um papel ativo na próxima fase da vida do partido, caso Pedro Nuno vença a disputa interna. Até agora, a ministra era apontada como uma das mais fortes hipóteses para liderar a cabeça de lista do PS às eleições europeias.

E na semana passada, quando convocou os jornalistas para se auto-excluir da corrida, sinalizou a sua vontade de continuar a representar ativamente o PS: “Quero dizer ao país e ao PS que estou disponível para todos, para os próximos combates políticos do partido, que espero que sejam vencedores. O país merece uma resposta socialista a tudo o que está a acontecer”.

A dúvida sobre a posição de Ana Catarina Mendes coloca-se tendo em conta o seu posicionamento na ala moderada do partido — o que naturalmente a poderia aproximar de José Luís Carneiro — e as divisões na federação de Setúbal, que tudo aponta para que seja uma das que se manterão formalmente neutras na disputa à liderança do PS. Além disso, o papel de ministra pode desencorajar Ana Catarina Mendes a assumir uma posição pública.

Mas também é sabido que Pedro Nuno Santos tem feito, nos últimos dias, um esforço para puxar os rostos que representam a fatia mais centrista do PS para o seu lado — não foi por acaso que na semana passada almoçou com Francisco Assis e Ascenso Simões, num encontro que foi captado pelas câmaras da CNN.

Francisco Assis almoça com Pedro Nuno Santos e não disputa liderança do PS

O entendimento de alguns dos apoiantes de Ana Catarina Mendes, que em parte se começam a posicionar mais ou menos discretamente ao lado do ex-ministro das Infraestruturas, é que uma aliança poderia beneficiar ambos, permitindo à atual ministra, num cenário de vitória de Pedro Nuno Santos, “continuar a servir o partido” e ao próprio consolidar a ideia de que está a trabalhar para unir o partido e conquistar nomes que representam a “moderação” no PS, mas também a herança mais direta do “costismo”. Resta saber se uma conversa entre os dois será produtiva.

Artigo alterado às 16h50 com a nota de esclarecimento enviada por Ana Catarina Mendes.