Seis adolescentes foram condenados esta sexta-feira em França pelo papel que desempenharam no homicídio de Samuel Paty, um professor de 47 anos, que foi decapitado por um extremista islâmico. O ataque aconteceu em 2020, após o professor ter mostrado numa aula caricaturas do Profeta Maomé, feitas pelo jornal satírico Charlie Hebdo, para ilustrar a liberdade de expressão. O próprio jornal foi alvo de um ataque terrorista devido ao cartoon, a 7 de janeiro de 2015, levando à morte de 12 pessoas.

A 16 de outubro, o professor foi decapitado pelo extremista Abdullakh Anzorov, um refugiado de 18 anos Chechénia, que residia em França. Anzorov foi abatido pela polícia no dia do ataque, que aconteceu perto da escola onde Paty trabalhava, em Conflans-Sainte-Honorine, um subúrbio de Paris.

Terrorismo. Professor decapitado em Paris. Suspeito foi morto a tiro

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

Os adolescentes, cinco rapazes e uma rapariga, hoje com idades entre os 16 e 18 anos, foram considerados culpados por terem ajudado o homicida a identificar e a perseguir o professor de história. A pena mais gravosa foi dada a um dos jovens, hoje já maior de idade, que foi condenado a dois anos de prisão, incluindo seis meses com pulseira eletrónica e a três anos de medidas educativas. O tribunal francês considerou que o jovem “revelou a rotina e a aparência física de Samuel Paty” ao autor do ataque. “Ficou várias horas ao lado do autor do ataque, deu-lhe cobertura e ajudou na vigilância” ao professor francês.

Os restantes jovens, que ainda são menores de idade, foram condenados a penas entre 14 e 20 meses de prisão, com uma suspensão probatória de três anos e medidas educativas, explica o francês Figaro.

A única rapariga do grupo foi sentenciada a uma pena de 18 meses pelo papel que teve no caso. Na altura, Z. tinha 13 anos e disse aos pais que Samuel Paty teria identificado os estudantes muçulmanos e feito um pedido para saírem da sala antes de mostrar as caricaturas.

Ficou provado que nem sequer tinha estado na aula em questão, uma vez que tinha sido suspensa pela escola por outros motivos, e que Paty nunca fez esse pedido aos alunos. Terá sido a sua “mentira persistente”, como reconheceu a jovem, a servir de combustível à perseguição ao professor francês. O pai da jovem difundiu nas redes sociais as críticas ao professor, alimentando uma campanha de ódio contra o professor francês. O autor do ataque vivia a mais de 95 quilómetros da escola onde Paty dava aulas e só terá tido conhecimento do caso devido às redes sociais.

Após o ataque, foi descoberto que os jovens tinham recebido dinheiro do refugiado checheno para ajudarem na perseguição ao professor de história. A defesa dos jovens tem argumentado que os menores estão profundamente arrependidos pelo contributo que deram para a morte do professor, mas que não teriam conhecimento das intenções de Anzorov, cita o New York Times.

No próximo ano, haverá um julgamento para oito adultos envolvidos no caso, incluindo o pai da rapariga.

Apaixonado pelo ensino e com um filho de cinco anos: quem era Samuel Paty, o professor decapitado em França?