Os interrogatórios aos cerca de 300 cidadãos indianos que estão retidos desde quinta-feira no aeroporto francês de Vatry começaram este domingo, naquela que é considerada uma situação invulgar no país.
Quatro juízes, quatro funcionários judiciais, outros tantos intérpretes de indiano e sete advogados vão participar no interrogatório, que se prolonga até segunda-feira de manhã, para determinar se há razões que justifiquem a continuação da retenção.
“É algo completamente invulgar”, tanto pelas circunstâncias do caso, como pelo seu volume, disse hoje, na rádio pública France Info, o responsável pela Ordem dos Advogados da cidade de Champagne, François Procureur.
Procureur acrescentou que, à luz dos interrogatórios, os juízes podem determinar se levantam a retenção ou se determinam a sua prorrogação, que poderá ir até oito dias suplementares.
Cerca de 300 passageiros indianos que viajavam para a América Central ficaram retidos no aeroporto francês de Vatry depois de as autoridades terem recebido uma denúncia anónima de que, entre os passageiros, se encontravam vítimas de tráfico humano.
Entre os 303 cidadãos estão crianças e famílias, tendo a Proteção Civil dito à imprensa local que o passageiro mais novo é um bebé de 21 meses, havendo ainda registo de 13 menores não acompanhados.
Segundo fontes judiciais, citadas pelo L’Union, 58 dos passageiros solicitaram asilo em França.
O avião, um Airbus A340 da Legend Airlines da Roménia, aterrou pelas 14:00 de quinta-feira no aeroporto de Chalons-Vatry, localizado a cerca de 140 quilómetros a leste de Paris, para uma escala técnica numa viagem do Dubai para Manágua, informaram as autoridades.
A investigação, conduzida pela Procuradoria de Paris, incide sobre um alegado caso de tráfico de seres humanos, crime que em França é punível com pena de prisão até 20 anos e multa até três milhões de euros.
Na investigação participam diversas entidades policiais, judiciais e administrativas especializadas em tráfico internacional de seres humanos.
O aeroporto de Chalons-Vatry, que habitualmente opera voos de baixo custo, foi confinado pela polícia para evitar a entrada e saída das instalações.
A advogada que representa a companhia aérea, Liliana Bakayoko, explicou no sábado que o voo foi contratado por “um cliente de confiança da companhia”, escusando-se, no entanto, a dizer o nome do cliente por forma a preservar o direito à presunção de inocência.
Bakayoko acrescentou que a companhia aérea não tem nada a ver com eventuais irregularidades, já que todos os passageiros têm passaportes e vistos válidos e passaram nos controlos policiais do aeroporto de partida.
A embaixada indiana em França informou na rede social X que está a oferecer assistência consular aos seus cidadãos.
“Estamos a investigar a situação e a assegurar o bem-estar dos passageiros”, afirmou, acrescentando que funcionários do consulado foram enviados para Vatry.
Fontes próximas do caso avançaram à imprensa local que os passageiros poderiam estar a tentar, a partir da América Central, juntar-se ao fluxo de imigrantes que tentam chegar aos Estados Unidos da América ou ao Canadá.