A guerra na Ucrânia começou há dois anos. O podcast “Um Espião no Kremlin” revela como os sinais já lá estavam antes

Este sábado assinalam-se os dois anos do início da invasão de larga escala da Rússia à Ucrânia. Uma invasão que, inicialmente, surpreendeu muitos, apesar do acumular de tropas russas na fronteira que se registava há mais de um mês — porque, publicamente, a Rússia ia negando ter intenções de invadir o país vizinho.

Os sinais, contudo, estavam lá. O recurso à guerra para cultivar a popularidade interna não era uma estratégia nova do Presidente Vladimir Putin, que tinha feito precisamente isso na Chechénia no início dos anos 2000, numa outra guerra de brutalidade semelhante. A dissimulação em público sobre as suas intenções — um método aprendido no KGB e aprimorado ao longo de mais de 20 anos no poder — também não.

O passado de Putin ajuda a explicar o presente que vivemos. E foi exatamente esse passado e como entroncou na guerra na Ucrânia que o Observador tentou explorar num dos seus Podcast+, “Um Espião no Kremlin”, que estreou em agosto de 2023. Recorde toda a história da ascensão ao poder e controlo de Putin na Rússia nestes seis episódios, que contam com narração do ator Marco Delgado e banda sonora original de Martim Sousa Tavares e Manuel Palha.

O primeiro episódio, “Moscovo está em silêncio”, explora como no espaço de apenas um ano, o obscuro e pouco conhecido diretor dos serviços secretos russos chega de forma surpreendente à Presidência. Pelo meio, várias explosões suspeitas em Moscovo e arredores abalam o país e lançam os russos para uma guerra que o governo vai classificar como uma “operação especial”. Mas há uma outra operação em curso nos bastidores. Quando finalmente for bem sucedida, o grupo de ex-agentes secretos do KGB conhecidos como “Siloviki” dominará todas as áreas do poder no país. O presidente? Vladimir Putin.
O segundo capítulo, “O Ganso e outros traidores”, começa no preciso momento em que Putin acabou de chegar ao poder e convoca os homens mais ricos do país para deixar um aviso: podem manter as suas fortunas mas, a partir de agora, não têm qualquer influência nas decisões políticas. Nem todos vão acatar esse pedido. Há quem comece a criticar abertamente o novo presidente, mesmo entre aqueles que o ajudaram inicialmente a chegar ao cargo mais importante do Kremlin. Para Putin, só há uma coisa pior do que um inimigo: um traidor. E os traidores têm de ser silenciados a todo o custo.
Em “O Gang do dinheiro”, terceiro episódio da série, olha-se para o círculo restrito de amigos do Presidente russo, onde discrição é a palavra-chave. O “Judoca”, o “Finlandês”, o “Talhante”, o “Violoncelista”, o “Centauro” e o “Banqueiro” são os homens com quem Putin pode contar para manter a fortuna a salvo, até mesmo de uma guerra. Mas há ainda uma carta fora do baralho, o “Joker”. Uma figura que, quando a “operação especial” na Ucrânia começou, surpreendeu o mundo ao revelar que é muito mais próxima de Putin do que muitos poderiam pensar. Esse homem chama-se Roman Abramovich.
Depois dos amigos, a família. Putin esconde a vida privada para se manter no poder. Mas as amantes, a filha ilegítima e até a sogra têm segredos milionários. Revelações para conhecer no quarto episódio, “A amante, a noiva e a sogra”.
Para compreender melhor a viragem anti-ocidental de Putin, é essencial ouvir o quinto capítulo, “Os homenzinhos de verde” — aqueles que, em fevereiro de 2014, chegam à península da Crimeia, na Ucrânia, sem identificação e fortemente armados. Vladimir Putin começa por negar qualquer envolvimento da Rússia, mas em poucas semanas o território será anexado por Moscovo. A dissimulação é um ponto fundamental da estratégia do Presidente russo, seja no campo de batalha ou na política. Putin apareceu inicialmente como um líder apostado em deixar para trás o passado da Guerra Fria e aproximar-se do Ocidente. Mas, ao longo dos anos, foram-se acumulando os sinais das suas verdadeiras intenções. Até ao dia em que deixou finalmente cair a máscara.
Por fim, o sexto e último episódio mostra como, na Rússia de Putin, desafiar o chefe é perigoso e pode pagar-se com a própria vida. O fundador do grupo Wagner, Yevgeny Prigozhin, terá sido apenas a última vítima? O título é, apropriadamente, “O Clube de Combate”.