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Os restos mortais de Alexei Navalny, solicitados pela família desde a sua morte na prisão, em 16 de fevereiro, foram entregues à sua mãe, anunciou este sábado a porta-voz do opositor russo, acrescentando desconhecer as condições para o funeral.
“O corpo de Alexei foi entregue à sua mãe”, escreveu Kira Iarmich na rede social X (antigo Twitter), numa mensagem em que agradece a todos os que enfrentaram o poder russo pedindo a libertação do corpo.
Alexey's body was handed over to his mother. Many thanks to all those who demanded this with us.
Lyudmila Ivanovna is still in Salekhard. The funeral is still pending. We do not know if the authorities will interfere to carry it out as the family wants and as Alexey deserves. We…
— Кира Ярмыш (@Kira_Yarmysh) February 24, 2024
A porta-voz acrescentou não saber se “as autoridades impedirão que [o funeral] se realize como a família deseja e como Alexei merece”.
Há mais de uma semana, a mãe de Navalny acusou as autoridades de a estarem a chantagear, com a ameaça de deixar o corpo decompor-se caso ela não concordasse com um funeral secreto ou enterrá-lo no território da zona prisional, onde cumpria uma pena de 19 anos por “extremismo”.
Se o funeral for público, a Presidência russa (Kremlin) pode enfrentar manifestações com numerosos apoiantes, numa altura em que o chefe de Estado, Vladimir Putin, se prepara para nova vitória nas eleições presidenciais marcadas para 15 a 17 de março.
Segundo a porta-voz, a mãe do opositor russo, Lyudmila Navalnaïa, já está em Salekhard, na região do Ártico onde o seu filho morreu, aos 47 anos, numa das prisões mais duras da Rússia.
O “Lobo Polar” de que é “impossível escapar”. A prisão onde estava Navalny
Na década de 2010, antes de a máquina repressiva cair completamente sobre ele, Navalny conseguiu mobilizar multidões, particularmente em Moscovo, ganhando assim o estatuto de adversário número um de Vladimir Putin.
Desde então, e sobretudo desde o início da guerra na Ucrânia — há dois anos — a repressão aumentou significativamente.
As circunstâncias da morte de Alexei Navalny, que comoveu pessoas de todo o mundo, permanecem obscuras.
De acordo com o serviço prisional russo, Navalny morreu na sequência de uma indisposição sentida “depois de uma caminhada”.
A equipa de apoio ao opositor afirma que a certidão de óbito menciona “causas naturais”, versão que rejeita, apelando à polícia, aos militares ou aos membros dos serviços de segurança para comunicarem qualquer informação sobre o “assassinato” de Navalny.
Em troca, prometem “uma recompensa de 20 mil euros e a organização da saída do país, se for essa a vontade” do informador.
Os apoiantes do opositor e muitos líderes ocidentais acusaram o Presidente russo da sua morte, alguns indicando homicídio.
“Putin afirma ser poderoso, mas os líderes verdadeiramente poderosos não assassinam os seus opositores”, afirmou este sábado o primeiro-ministro canadiano, Justin Trudeau, em Kiev, durante uma conferência de imprensa conjunta com o Presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, a propósito do segundo aniversário da invasão russa.
O Presidente russo não reagiu à morte do seu principal opositor, que sobreviveu a um envenenamento em 2020, pelo qual acusou Putin, apesar dos seus desmentidos.
O porta-voz do Kremlin, Dmitry Peskov, rejeitou as alegações, classificando-as como “absolutamente infundadas e insolentes”.
A devolução do corpo do líder da oposição, nove dias depois da anunciada morte, coincide com o dia em que os cristãos ortodoxos decidiram realizar um serviço memorial.
Pessoas de toda a Rússia compareceram para honrar a memória de Navalny, reunindo-se em igrejas ortodoxas, deixando flores em monumentos públicos ou realizando protestos individuais.
Os moscovitas fizeram fila em frente da Catedral de Cristo Salvador para prestar homenagens, de acordo com fotos e vídeos publicados pelo meio de comunicação independente russo SOTAvision.
Um vídeo mostra a polícia russa estacionada nas proximidades e polícias a parar várias pessoas para verificação de identidade.
No início da tarde, pelo menos 27 pessoas foram detidas em nove cidades russas por demonstrarem apoio a Navalny, de acordo com o grupo de direitos humanos OVD-Info, que monitoriza detenções políticas.